Viagem Europa 2000 - Carlos & Laiz

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[foto tirada em 21/08] Nossa viagem foi planejada às pressas, em menos de uma semana. Sem itinerário fixo, apenas com um objetivo: liberdade absoluta. Voamos Lufthansa, ótimo vôo. Na foto, vê-se nossa "casa" sobre rodas, um Mitsubishi Space Runner modelo 2000, máquina valente e de desempenho impecável. Alugamos aqui mesmo do Brasil com a Alamo/National através da agência de viagens Amstel e pegamos o carro no aeroporto de Munique. Consumo de 8 km/litro. É um modelo ainda raro pois, durante todo o tempo em que rodamos, não encontramos nenhum outro pelas estradas. Removemos os bancos traseiros e esticamos dois colchonetes no porta-malas. Espalhamos a bagagem em bolsas menores e mais funcionais, de modo a podermos gerenciar melhor o pouco espaço que tínhamos. Improvisamos painéis opacos para cada janela, presos com velcro aos vidros. Assim, tínhamos um escurinho a bordo a qualquer hora.


[21/08] Era a estréia da Laiz nas estradas da Europa. O trânsito na Alemanha é organizadíssimo e lá a auto-estrada, conhecida como Autobahn, não tem limite de velocidade. Nesse momento da foto ainda estávamos nos ambientando ao novo carro e ao ritmo das ruas de Munique. O mais difícil inicialmente foi nos acostumarmos às dimensões do veículo, para não causar mais arranhões nem amassados na hora das manobras. Ao pegarmos o carro no aeroporto, o atendente da garagem da locadora fez uma inspeção e registrou os danos que ele já tinha quando nos foi entregue. Eram poucos, mas ele esqueceu de um arranhão considerável na frente e mais tarde teríamos que dar um jeito nisso. O automóvel tinha placa de licença alemã, o que fazia de nós, aparentemente, habitantes da cidade de Wiesbaden (o WI da placa). Nossa estréia em Munique foi na adorável cervejaria Hofbräuhaus. Mesmo abstêmios, bebemos UMA Weissbier os dois. Laiz é vegetariana e comeu uma "Salatteller von frischen, knackigen Salaten", enquanto eu me contentei com um "Original Hofbräuhaus Würstlteller mit Wiener Würstl, Schweinswürstl, HB-Grillwurst auf Sauerkraut mit Erdäpfelpüree". Comemos com grande prazer, mas nunca conseguiremos pronunciar esses nomes.

-> [ Cervejaria | Cardápio | Canção ]


[22/08] Marienplatz é a praça da prefeitura de Munique. Às 11h00m, 12h00m e 17h00m, o relógio mecânico da torre, o Glockenspiel, é um show à parte, com figuras e bonecos que se movem contando uma historieta. Costuma juntar uma multidão de turistas para assistir ao evento. Mas há um outro show às 21h00m, pouco conhecido até dos bávaros, em que um monge põe para se deitar a Criança de Munich (Münchner Kindl). Lá mesmo nessa praça, na mega-livraria Hugendubel, compramos o atlas rodoviário Michelin que nos guiaria por toda a viagem. A variedade de mapas e livros de viagem é surpreendente. Essa livraria é um paraíso para os ratos de biblioteca. Tem vários andares e é cheia de confortáveis sofás. Se o cara tiver cara-de-pau, dá para ler livros inteiros sem ser molestado. E os sofás estão sempre cheios.


[23/08] Poucas foram as ocasiões em que nos hospedamos em casa de conhecidos. E no ritmo selvagem, como não havia chuveiro a bordo, o jeito era tomar banho em rios e lagos. A água naquelas bandas, como sempre, era gelada. A princípio, nesses banhos, adotamos a postura puritana de usar calção e biquini. Mas com o transcorrer da viagem, percebendo que o pessoal de lá é mais cabeça feita, fomos aos poucos abrindo mão dos trajes de banho e, ao final, ficávamos mesmo ao natural, sem problemas. Este na foto é o rio Isar, que passa pelo centrão de Munique. Os transeuntes achavam que eu estava me afogando.


[24/08] Ficamos hospedados em Munique na casa de nossos amigos Klaus e Regina, dormimos lá ainda mais uma noite e depois metemos o pé na estrada rumo a Berlim. Pegamos a Autobahn direto e, nesse embalo, botamos pé-na-tábua, aproveitando a possibilidade de poder enfiar o bagaço na máquina. Só que, ao contabilizarmos o gasto de combustível com o carro zunindo a 180 km/h, optamos por maneirar na velô. No caminho para Berlim, cruzamos parte da antiga Alemanha Oriental, a ex-DDR. Nessa região, as cidades fora da Autobahn ainda têm aquele ar antigo, lento e, por vezes, romântico. Esta é a cidadezinha de Triptis, onde paramos para fazer câmbio. Nossa grana estava em dólares americanos, a maioria em cheques de viagem e o resto em dinheiro vivo. Para quem quer viajar levando papel-moeda, nada de notas de US$ 100 -- os caras se pelam de medo de cédulas falsas. Em Triptis, no banco, perguntei à dona se já tinha visto brasileiros por ali antes. Ele disse que não. Na foto, a Laiz está na pracinha central da cidade.


[24/08] Em Berlim, ficamos na casa de um amigo do Klaus e da Regina -- o escocês Daniel Jarman -- dono de um restaurante mucho loco bem no centro boêmio da cidade. Por causa do sobrenome, o Danny virou colecionador de bules, todos expostos nas prateleiras do restaurante. Aproveitamos o espaço do carro para levar para ele algumas tralhas que havia deixado em Munique. Logo que chegamos, ele nos deu a chave de seu apartamento e já tinha tudo preparado para nossa chegada. Cara 100%. Ele nos deu a dica de entrar num certo cemitério ali perto e ir até o fundo do terreno, para ter acesso aos últimos pedaços do Muro de Berlim, com direito a poder tirar ainda uns nacos do dito cujo.


[25/08] Monumento da Vitória, Berlim. Fica no centro duma bela praça. A estátua é conhecida no pedaço como "goldene Else". Impressionante é ver os buracos de bala nas paredes do monumento. A coisa já andou bem feia por ali.


[25/08] Portal de Brandenburgo, Berlim. Danny e sua namorada Kirstel nos emprestaram suas bicicletas. Tivemos sorte com o tempo e deu para pedalar pela cidade inteira, na boa. A região da antiga Berlim Oriental, o lado comunista, é simplesmente fascinante, com seus prédios antigos e meio lúgubres. É quase uma viagem no tempo.


[25/08] No final da tarde demos uma esticada de carro para conhecer o castelo de Potsdam, perto de Berlim, que se encontra em plena restauração. Isso foi um chuá para a Laiz, que é restauradora de arte e babou diante dos trabalhos em andamento lá. Ao final da visita, tomado pela grandiosidade do local, rolou essa declaração de amor ilustrada na foto.


[25/08] Para nossa surpresa, no estacionamento do palácio de Potsdam havia parreiras carregadas por todo lado. Colhemos um sacão de uvas super doces. Ao chegarmos no bistrô do Danny, vimos que ele tinha uma autêntica cachaça 51 na prateleira. Agitamos uma lata de leite condensado e outra de creme de leite, pacientemente descascamos as uvas e a Laiz preparou uma batida gelada deliciosa. Danny, na foto, observa atentamente a operação. Aprovada a birita pelo mestre, servi para os clientes do restaurante uma provinha da batida. Foi um sucesso retumbante. Para quem quiser visitar o Bar/Bistrô JARMAN, ele fica na Bergstrasse 25, 10115 Berlin, Tel: 2804-7378. Daqui do Brasil, é só preceder o telefone da seqüência 00-21-49-30.


[27/08] Cruzamos a Alemanha no rumo oeste e fizemos nossa primeira dormida no carro, em Nordhorn, perto da fronteira com a Holanda. Em Amsterdam tivemos um dos poucos dias nublados em toda a viagem. Mas mesmo assim pudemos curtir alguns dos 165 canais que cortam a cidade. Era um domingo festivo e a turistada estava em polvorosa. A cidade é realmente fascinante e as gentes são muito bonitas. Laiz encontrou vaga numa barcaça, mas o piloto demorou a chegar.

-> [ Mais Amsterdam | Mais ainda ]


[27/08] Depois de Amsterdam, seguimos em direção à Bélgica. Optamos por sair da autoestrada holandesa para captar o espírito do lugar, pois trafegando em alta velocidade, pouco se vê da região. Logo que saímos, pintou o primeiro moinho. A paisagem parecia uma pintura.


[27/08] As cidadezinhas do interior da Holanda eram um verdadeiro sonho. Pequenos canais, lindas pontezinhas e esmerados jardins. Nesse vilarejo, uma rapaziada local viu nossa placa alemã e resolveu engrossar. Implicaram e começaram a puxar briga, até que os fiz entender que éramos brasileiros num carro alugado alemão. A animosidade se transformou imediatamente em camaradagem e o papo mudou instantaneamente para futebol, praia e Carnaval. Depois desse incidente, para evitar outros mal-entendidos, resolvi aplicar no carro uns adesivos que tinha comprado aqui no Rio, com a bandeira do Brasil. Assim, ficava bem claro que estávamos a passeio usando um carro alemão. Ademais, em várias ocasiões mais tarde na viagem, a bandeira foi reconhecida por muitos conterrâneos, o que invariavelmente resultava em bons bate-papos em português.


[28/08] A cidade medieval de Bruges, na Bélgica, é uma atração e tanto. Normalmente, encontrar vaga no centro antigo da cidade é impossível. Mas, como chegamos à meia-noite, podíamos andar por todo canto, até na contra-mão. A vantagem do nosso carro era que, por não ser um Motor-home, podíamos estacionar em qualquer buraco sem chamar a atenção e simplesmente passar a noite sem problemas. De manhã cedo, com um frio da peste, pudemos caminhar à vontade pelo centrão. 


[28/08] Outra foto do centro de Bruges, naquela manhã ensolarada mas gélida. Ainda ficamos ensebando à espera da abertura dos bancos, para podermos ter grana belga para comprar um souvenir do local. Nesse meio tempo, ainda deu para tirarmos uma soneca. Essa é a graça de morar dentro do carro: liberdade absoluta de itinerários, ritmos e horários. Perto de nós estacionou uma família num carro com placa da Inglaterra. Aproveitei para perguntar sobre os ferry-boats e eles foram muito solícitos.


[28/08] Saimos batidos, com destino à Inglaterra. Cruzamos a Bélgica, entramos na França e chegamos à cidade de Calais, de onde se pega o ferry-boat para Dover, cruzando o Canal da Mancha. Em Calais, foi totalmente impossível fazer câmbio de dólar para francos. Os caras têm trauma de notas falsas. O jeito foi trocar a grana no terminal do ferry mesmo. A propósito, o ticket da travessia é bem salgado: uns US$ 300 para um carro com 2 ocupantes -- só a ida. Mas valeu a pena. Na foto, um ferry chegando a Calais.


[29/08] A experiência de dirigir na Inglaterra é muito interessante, mas requer bastante atenção. Tudo é invertido nas estradas e ruas -- o que é à direita no resto do mundo, lá é esquerda e vice-versa. A regra de ouro é sempre olhar para os dois lados antes de qualquer conversão, manobra ou ultrapassagem. Nos arredores de Londres, compramos um mapinha num posto de gasolina, que nos permitiu visitar a cidade tranqüilamente. Na foto, a Tower Bridge.


[29/08] No centro de Londres, no Trafalgar Square, chamou a atenção da Laiz essa fantástica escultura: uma cabeça, um livro sobre ela e, em cima de tudo, uma árvore de bronze com suas raízes. A escultura chama-se "Regardless of History" e é de autoria de Bill Woodrow.

-> [ Comentários sobre a escultura ]


[29/08] Laiz bateu essa foto tradicional do Big Ben e The Houses of Parliament. Enquanto eu circulava pelos quarteirões ali perto, Laiz foi à luta e passeou o quanto quis. Não só nesses momentos em que eu ficava rodando por falta de local para estacionar, enquanto a Laiz ia ver algum ponto turístico, mas também ao longo de todo o passeio, o rádio do carro era uma diversão e tanto. Mesmo nos países cuja língua não dominávamos, dava para ter uma idéia do que se passava nos noticiários e nas informações do trânsito. E, para dirigir de noite, quando bate o sono, nada como um sonzinho para nos manter acordados.


[29/08] Nossos primeiros telefonemas para o Brasil foram feitos nessa típica cabine telefônica em Londres, à beira do rio Thames. Nossas mães, Marlene e Aidê, ficaram aliviadas pois era o primeiro sinal de vida que dávamos desde nossa partida de Munique. Na foto, ao fundo, vê-se a estação elétrica Battersea Power Station, que foi capa do LP Animals, do Pink Floyd.


[30/08] Sartamos fora de Londres rumo oeste. Objetivo: o monumento celta/druida de Stonehenge. Depois de termos chegado tarde da noite ao site arqueológico, já fechado, decidimos pernoitar ali perto no vilarejo de Shrewton para fazer a visita no dia seguinte cedo. A foto mostra Laiz tomando café da manhã dentro do carro. Era muito interessante perceber a reação dos moradores frente às nossas "invasões". Quando parávamos em cidade pequena, os habitantes, por se conhecerem todos entre si, logo estranhavam aquele carro estranho com placa alemã no meio da noite. Tínhamos o cuidado de antes parar num lugar movimentado para preparar o carro para o pernoite, o que fazia muito barulho. Escolher um local para dormir a cada noite era uma tarefa difícil. O lugar perfeito era sempre um cantinho escuro onde tivesse mato por perto e, de preferência, com um pequeno aclive, pois provou-se ser esta a posição ideal do carro para nele dormirmos. No dia seguinte, quando fazíamos as abluções matinais e arrumávamos o carro para a estrada, quase sempre tinha alguém olhando pelas frestas das janelas, acompanhando nossos movimentos. Isso só não acontecia quando dormíamos em zona rural, longe de moradias.


[30/08] Detalhes da caranga. Na parte traseira ia a bagagem. Mas à noite, toda essa tralha era movida para o banco do co-piloto, abrindo espaço pros nossos dois corpos cansados. Como a Laiz é miudinha e eu comprido demais, dormíamos meio na diagonal. No início foi estranho, mas depois nos acostumamos. Por incrível que pareça, durante a viagem dormíamos entre 9 e 10 horas por noite, ao passo que aqui no Rio, tínhamos normalmente apenas 6 horas de sono por noite. No carro, a faina de transferir a bagagem para abrir espaço para a cama, nas primeiras noites, era um suplício. No entanto, com a prática, já preparávamos tudo em poucos minutos. Nunca podíamos esquecer o bujãozinho de gás, que tinha que dormir lá fora, em baixo do carro e atrás do pneu para não dar bandeira -- era azul-cheguei. De manhã, para não darmos partida sem lembrar do bujão, instituímos um barbante amarrado no volante como flag de memória.


[30/08] Essa porta lateral traseira fazia um barulho dos diabos para fechar. Por sorte, ao longo da viagem, arranjamos um macete para fechá-la sem acordar a "vizinhança". Nas dormidas urbanas, o silêncio noturno era fundamental. Especialmente na calada da noite, quando era necessário abandonar a nave para efetuar algum serviço em moitas próximas.


[30/08] O monumento de Stonehenge perdeu muito da graça. Está todo cercado e não se pode mais chegar até as pedras. E pior, estão cobrando ingresso. Fotografamos da cerca mesmo e ripa na chulipa.


[30/08] Ao longo da estrada víamos o tempo todo esses rolos de feno. A Laiz não sossegou enquanto não paramos para ver um deles de perto. As máquinas cortam o feno no campo e o empilham numa carreira bem certinha. Depois, outra máquina chamada round baler chega e vai enrolando os feixes em grandes cilindros, empacotando-os com plástico ao final. É perigoso ficar por perto quando ela trabalha. Eles depois armazenam todos os rolos e vão liberando aos poucos para o gado durante o inverno.


[30/08] Continuamos seguindo para oeste e entramos na região de Cornwall, rumo a Tintagel. Em 1139 surgiu o zum-zum-zum de que o legendário Rei Arthur teria nascido lá. Nas cavernas que aparecem na foto, o rei ainda menino teria sido iniciado pelo Mago Merlin. O lugar é mágico mesmo. As cavernas são bem grandes -- os pontinhos brancos que se vê na areia, atrás, são pessoas à distância.


[30/08] O Castelo de Tintagel, ao fundo, está fadado a desmoronar, pois as cavernas abaixo dele estão aumentando, escavadas pelo mar quando fica bravio. Uma delas já é um túnel, que chega até o outro lado. Muitos refutam a lenda de Tintagel, mas o local hoje sobrevive graças aos turistas que vêm curtir o clima de mistério e a energia da região.


[31/08] Voltando para Dover, agora pela orla sul da Inglaterra, paramos na praia em Hastings para preparar um rango. A praia é de pedras, mas a moçada não está nem aí para isso. Laiz tirou um ronco e fui cobrindo-a suavemente de pedregulhos. Logo depois de bater a foto, ela acordou surpresa.


[02/09] Pegamos o ferry para Calais e, aí sim, começamos a curtir a França em detalhe. É incrível a diferença no estilo de ocupação urbana entre Inglaterra e França. No primeiro país, as pessoas vivem meio que grudadas uma nas outras. Já na França há muito mais espaços abertos e as residências são mais distantes entre si. Optamos por usar as estradas secundárias na França. Mas isso teve o seu preço. Calhou de os agricultores e caminhoneiros estarem fazendo protestos contra o preço dos combustíveis. Enchiam o centro das cidadezinhas de tratores e caminhões, causado congestionamentos terríveis. Nossa vantagem é que podíamos parar o carro em qualquer buraco e fazer algo mais agradável enquanto o engarrafamento terminava. Fomos descendo no rumo sudeste e chegamos a Paris à noite, num ótimo horário para encontrar vaga. Ainda visitamos a Torre Eiffel antes de dormir, para o quê estacionamos a duas esquinas do monumento. De manhã cedo, Laiz subiu num corrimão e bati essa foto.


[02/09] Deixamos o carro estacionado e compramos o bilhete de transporte parisiense que dava direito a andar de metrô e ônibus quantas vezes quiséssemos por 24 horas. Rodamos a valer por Paris. Por trabalhar com arte, Laiz passou horas e horas visitando o Museu do Louvre. Adorou a visita. Enquanto isso, fiquei perambulando pelas redondezas até o fim da tarde, pois já conhecia o museu. Grude em excesso faz mal ao casal. O reencontro, por menor que tenha sido a separação, foi uma glória.


[02/09] Em Paris, a catedral de Notre Dame é imperdível. Apesar da chuvarada e do tumulto na entrada, deu para visitar. Dei muita cabeçada nas criptas, onde o teto era muito baixo. Ao terminarmos a visita, havia estiado. 


[04/09] Saindo de Paris, descendo para o sul, dormimos em Versailles, onde tivemos a sorte de ainda poder assistir ao show das Águas Musicais, no lago do palácio da cidade. O dia seguinte foi só estrada e chegamos a Poitiers, onde fica o sensacional parque de imagens Futuroscope. São dezenas de construções arquitetonicamente ousadas que abrigam cinemas de alta-tecnologia, com exibições contínuas de filmes incríveis. É o supra-sumo da multimídia. Abre às 9h00 e, se você não otimizar direitinho seu caminho lá dentro, não dá para ver tudo num dia só, de jeito nenhum.


[04/09] Tivemos a sorte de visitar o parque justamente no primeiro dia da baixa estação, quando os preços são mais em conta. O dia estava lindo e as formas arquitetônicas são de tirar o fôlego. Foi uma overdose de cinema hi-tech. Por coincidência, no Cinema 360 graus, o filme em exibição era sobre o Brasil e sobre o Rio de Janeiro. A platéia ficava totalmente hipnotizada com a beleza das imagens. E nós, em silêncio, quase explodíamos de orgulho besta.


[06/09] Descendo rumo à Espanha, encontramos ainda na França uma região praieira belíssima. A água estava gélida e foi o mar mais bravo que vimos. Os surfistas, empacotados em neoprene, faziam a festa desde a madrugada. Dormimos em Saint Giron Plage e, pela manhã, tomamos o café da manhã nesse bosque lindão. Venta tanto no local, que as árvores cresceram inclinadas.

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[07/09] Chegamos à Espanha e, na região basca, paramos em Laredo para fazer supermercado. No estacionamento, esta imagem singular. O cara foi pintar a faixa branca no chão e, ao ver que o pneu dianteiro de um carro estava atrapalhando...


[07/09] Em Santander, norte da Espanha, havia essa linda praia chamada Magdalena. Estava cheia, era meio-dia. Fui me meter a escalar este rochedo e quase fui pro beleléu. Tudo isso para abraçar a estátua que fica lá em cima. Mas subir não foi o pior. Na descida, por ser de arenito, eu agarrava a pedra e iam caindo os pedaços. Foi um sufoco e tanto. Laiz documentou o momento da conquista. Depois, fizemos um lauto almoço à beira-mar, cujo prato principal foram pernas de caranguejo.


[19/09] Vistamos toda a Galícia e entramos em Portugal. No Porto encontramos a família da Laiz, com quem havia-se perdido o contato com o ramo brasileiro há quase quarenta anos. Ficamos hospedados com a família e foi ótimo para recarregarmos as energias, lavarmos a roupa e curtirmos muita conversa animada com aquela turma boa. Em Lisboa, ficamos na casa de nossa amiga Isabel e visitamos entre outras atrações a Torre de Belém. Depois dessa foto, quando caiu um pé d'água dos diabos, fomos correndo comer os inefáveis Pastéis de Belém -- os melhores pastéis de nata do mundo. Grande perigo de comer até morrer. Compramos alguns e fomos para o Mosteiro dos Jerônimos degustá-los com Coca-Cola gelada. Nirvana!


[20/09] Descemos Portugal em direção ao Algarve. Na ponta mais ocidental da Europa, o Cabo de São Vicente, passamos a noite junto ao farol, numa ventania que chegava a balançar o carro. O visual do farol varrendo o horizonte com seus três fachos era o máximo. No dia seguinte pudemos ver como são lindos os altos penhascos.


[20/09] As placas que se vê nas estradas em Portugal às vezes nos faziam rir: "Troço em obras", "Bermas baixas", "Lanço com portagem", etc. Algumas placas de cidades também eram divertidas. Esta da foto, em especial, fez com que parássemos para dar uma espichada.


[20/09] Entrando novamente na Espanha, fomos dormir logo antes de Córdoba, numa cidadezinha chamada Almodóvar del Rio. Qual não foi nossa surpresa ao encontrarmos lá esse lindo castelo. Laiz visitou-o demoradamente no dia seguinte.


[21/09] Ao papearmos com o guarda do castelo, ele nos sugeriu que pernoitássemos numa represa ali perto, o Embalse de Breña. Havia muitos pescadores no local quando chegamos, mas quando o Sol se pôs, ficamos sozinhos. A água estava quentinha e rolou uma nadada esperta, seguida duma macarronada deliciosa. No meio da noite, uns cães selvagens ficavam rondando o veículo, mas sem incidentes. Céu super estrelado com direito a uma penca de estrelas cadentes. Planejam construir uma nova represa perto dali, mas o pessoal da região não está gostando da idéia e vem protestando muito.


[25/09] Depois de passarmos pela França mais uma vez, rapidamente agora, entramos na Itália e dormimos em Pisa. A torre está mais inclinada do que nunca, cheia de cabos de sustentação e estruturas de reforço. Quanto tempo ainda vai agüentar? Laiz acha que deveriam desmontá-la inteira e remontá-la novamente depois de firmarem o terreno.


[25/09] Roma é sempre um show de História, uma overdose de monumentos e ruínas. Na foto, Laiz diante do Coliseu, cujo nome correto é Colosseum.


[27/09] Dando início ao nosso périplo italiano dos vulcões, fomos ao Vesúvio, perto de Nápoli. Essa foto foi batida lá em baixo, em Ercolano, onde pernoitamos. Tivemos que invadir um terreno baldio para posicionar nosso tripé furreca e bater esta foto. Depois disso fomos até lá em cima o vulcão, para tomar café da manhã com ovos mexidos. O Vesúvio só lança fumarolas de vapor. Ao visitarmos o antigo rio de lava vesuviana, encontramos outros tarados por vulcões: um coroa alemão e sua filha, gente finíssima. Foi esse cara que rolou a barbada de que o Etna era bom, mas que o Stromboli era o máximo.


[28/09] Descemos o resto da Itália inteira usando as autoestradas e chegamos à Sicília. O lugar é meio barra-pesada, mas chegamos ao Etna sem incidentes. Alugamos uma excursão que subia quase ao topo do vulcão levando-nos num caminhão Mercedes Unimog. Chegamos a 3100m e a altitude nos deixou fora dos eixos: tonteira e falta de ar. O Etna cospe enxofre e produz uns estrondos lindos. O guia nos impediu de chegar mais perto da cratera, pois o perigo é grande.


[29/09] Em Milazzo, Sicília, deixei a Laiz bem acomodada e peguei sozinho o aliscafo Masaccio da Siremar às 6h00 para o Stromboli. Laiz não é lá muito chegada a alturas. Cheguei à ilha cedo e logo me deparei com uma placa proibindo excursões sem guia ao vulcão. Huah! Encontrei na praia um casal de turistas tchecos: Jan e Hanna. Topamos subir o vulcão juntos. Fui comprar comida no mercadinho e encontrei outro casal: Matteo de Milão e Bee Jay da Tasmânia, Austrália. Também toparam. A subida foi pesada mas chegamos bem. Os estrondos do Stromboli são impressionantes. Encontramos um jovem casal polonês que estava descendo, Grzegorz e Barbara. Eles pretendiam dormir no topo, mas foram avisados por um guia que naquela noite em especial, seria suicídio, pois o vento Scirocco estava jogando cinzas demais. A cratera principal do Stromboli fica abaixo do cume. Alguns de nós fomos até a cratera, que cuspia lava e pedras a cada 20 minutos. Havia risco, mas a adrenalina valeu a pena. Fotografar aquilo era difícil, especialmente por causa do enxofre que saía do buraco. Nessa foto, o Matteo me pegou saindo da cratera.


[29/09] Eis o nosso grupo. De baixo prá cima: Hanna, Bee Jay, Jan, Matteo e eu. Depois da perigosa aventura junto à cratera, voltamos ao cume para almoçar. Planejávamos pernoitar lá em cima, mas já achando que tinha visto tudo, decidi descer. Matteo e Bee Jay me acompanharam. Havia outros excursionistas no cume. Despedi-me de todos e começamos a descer. O casal correu demais e fiquei para trás. De repente, devo ter perdido os sentidos e, quando acordei, tinha perdido a memória. Quem era eu? Onde estava? Que lugar estranho era aquele? Eu não sabia. Clique aqui para maiores detalhes sobre como vivenciei essa assustadora amnésia.


[29/09] Tentei levantar e descer, mas novamente desfaleci. Um camarada austríaco com quem tinha falado lá em cima me encontrou desacordado. Desceu comigo até o vilarejo. Até agora não consigo me lembrar do nome dele. Pelo menos tirei essa foto do meu salvador. Deixei um cartão com o cara, mas até agora ele não emailou. Mais tarde, no hospital, disse-me o médico que eu havia me envenenado com o gás sulfuroso.

-> [ Artigo sobre enxofre vulcânico | Outro ]


[30/09] A placa diz tudo: "DO NOT CLIMB VOLCANO WITHOUT AUTHORIZED GUIDE". Mas se tivesse subido com guia não teria passado por essa experiência fantástica de desorientação absoluta. Foi uma lição e tanto. Lembrei-me do capítulo 44 do livro de Jules Verne... Tirei essa foto na madrugada seguinte, ainda bem zonzo, durante uma pausa na tempestade. Foi sorte, pois essa pequena acalmada no tempo foi o suficiente para o barco poder encostar no cais às 5h30 da manhã.


[30/09] De dentro do barco, tirei essa foto do vulcão e do vilarejo. Lá em cima, na cratera, existe uma Web Cam.


[30/09] O barco foi parando em cada uma das ilhas Eólias até chegar em Milazzo. Demorou séculos. Esse visual da foto estava chocante, com o Stromboli lá longe. Deu até vontade de voltar e subir tudo de novo.


[03/10] Depois de reencontrar a Laiz e contar do ocorrido, comi uma gororoba e caí duro de cansado. Fiquei dormindo por quase dois dias, enquanto ela dirigia para o norte. Ainda paramos em Milão e depois entramos na Suíça. Os Alpes são uma visão esplêndida. Esta foto foi tirada no passo de San Gottardo. Dormimos em Zurique, Suíça. Mas o frio começou a apertar e apressamos nosso retorno a Munique, para fechar a viagem.


[06/10] Antes de voltarmos à Alemanha, ainda passamos pelo pequeno país chamado Liechtenstein e depois pela Áustria. Em Munique fomos novamente recebidos pelos nossos amigos Klaus Thon e Regina Heilmann-Thon que nos trataram a pão-de-ló. A casa deles é um brinco de alta-tecnologia, situada em Baldham, nos arredores da cidade. A filha deles, Lea Thon (14), faz parte da equipe campeã-mundial de acrobacia em cavalos, esporte conhecido como Voltigieren, em alemão. Clique aqui e veja, na equipe Deutschland, o nome da Lea.


[07/10] Depois de descansarmos bastante e rearrumarmos toda a bagagem, demos uma geral no carro. Laiz usou seu talento de restauradora e, com a ajuda do Klaus, que também é restaurador de arte, deu um jeitinho no arranhão na dianteira do carro e o conserto ficou perfeito. Empacotamos tudo e nos despedimos de nossos amigos tão queridos. Tivemos ainda que enfrentar um mega-engarrafamento na Autobahn que nos levaria ao aeroporto. Graças a algumas barbeiragens, deu para chegar a tempo. No aeroporto, ainda conseguimos nos livrar dos últimos marcos alemães e despedimo-nos da culinária alemã no restaurante Airbräu. Foram 47 dias maravilhosos, 11 países e 16 mil km rodados. Deus nos ajudou. Já sentimos saudade da deliciosa aventura, parece até que foi um sonho. Para onde será nossa próxima jornada?

* The End *


Agradecimentos ao Marcelo Balbio, pela idéia; à Cristina de Luca pela autorização e supervisão; 
aos companheiros José Carvalheira, Daniel Chaves e Leonardo Dresch pela implementação 
e a Charles Miranda pelo espaço.

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