O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 8 - Escrito em: 1991-04-16 - Publicado em: 1991-04-22


Viciados em comprimidos


De forma geral, os arquivos gravados num micro, seja em disquete ou em disco rígido, podem ser comparados a "esponjas". Estranho? Decerto que sim. Mas observe uma esponja. Notará que sua parte sólida é comparativamente menor que o seu volume total. Se apertar um pedaço de esponja com as duas mãos você poderá reduzir bastante seu tamanho. Solte-o e o pedaço voltará a crescer, ocupando o mesmo volume de antes e sem ter sido a esponja danificada ou alterada em qualquer aspecto. Chave do milagre: os espaços vazios, a alta porosidade da esponja.

Os estudiosos da ciência da computação começaram a pesquisar, já há tempos, a composição média dos arquivos gerados e mantidos em sistemas computacionais. Começaram a identificar configurações típicas de arquivos, de acordo com o tipo de máquina e com a aplicação final em questão. Mas, não vamos entrar no mérito da teoria que está por trás dos bastidores. Encurtando a conversa: estes sábios concluíram que os arquivos magnéticos gravados em seu micro - não todos, mas grande parte deles - apresentam características similares às da esponja. Muitos códigos repetitivos, espaços vazios, cadeias de caracteres recorrentes e outras características mais sutis fazem deles excelentes candidatos ao processo chamado "compressão" ou "compactação". Funciona da mesma maneira que no caso da esponja, sendo que, infelizmente não se consegue reduzir proporcionalmente tanto o volume final do pacote.

Baseados neste enfoque, diversos entortadores de bits se propuseram a escrever programas de compactação. Dizem os feras no assunto que, no início, esses programas eram até certo ponto simples e rudimentares. Mas a coisa foi tomando tal vulto que, atualmente, trava-se uma silenciosa mas violenta batalha entre cérebros privilegiados. Cada qual tentando escrever o compactador mais eficiente. Os recursos mais sofisticados de programação, os modelos matemáticos mais cabeludos e os algoritmos mais geniais são empregados por estes crânios. Alguns nomes já se tornaram lendas: Knuth, Greenlaw, Schlafly, Huffman, Ziv-Lempel-Welch, Shannon-Fano, Phil Katz e, mais recentemente, o célebre japonês Haruyasu Yoshizaki, vulgo Yoshi, sempre traduzido pelo Prof. Kenjiro Okubo (quem girou o cubo?). Mas no final das contas, quem ganha com isso tudo? Ora diacho: nós mesmos, a galera.

Todo este furdunço foi em parte motivado pela necessidade de baratear os custos de transmissão de dados por teleprocessamento. Arquivos grandes demoram mais para serem enviados através de uma linha telefônica. Comprimindo os arquivos, fazendo-os mais compactos, teremos tempos menores de transmissão e, consequentemente, uma economia substancial.

O fato é que, em sua esmagadora maioria, os arquivos dos bancos de programas dos BBS's em todo o mundo estão em formato compactado. Sabemos perfeitamente que a motivação inicial de um bbs-zeiro novato é justamente colocar as mãos nessas maravilhosas coleções de software. Para ajudá-los neste afã apresentaremos aos poucos aquí no BBS-Mania os diversos programas compactadores disponíveis e dicas para sua melhor utilização. Mas cabe aquí um parêntese.

Pior que os virus que vem infectando nossas máquinas nos últimos tempos, existe um outro tipo de contaminação - esse sim: purulenta e hedionda moléstia - que ameaça a comunidade. Trata-se da compulsão doentia de colecionar software. Esse mal, que assola um número imenso de micreiros, vem fazendo a festa dos fabricantes de disquetes. Megas e megas de software velho e muitas vezes inútil estão, e continuarão, guardados por anos a fio em empoeiradas gavetas e prateleiras. São versões pré-históricas do DOS, SideKick, PrintMaster, e do PCTools que os usuários enfermos guardam carinhosamente. Os disquetes, coitados, muitas vezes já mofados e cheios de "bad blocks". E o pior, muitas vezes estas coleções de cacarecos nem estão catalogadas. O infecto colecionador tem que sair dando "dir" em disquete por disquete até encontrar o que deseja, pois as etiquetas já estão ilegíveis de tão amareladas. A cura para esta tenebrosa síndrome exige pesadas doses de força de vontade e determinação. Reformatar um disquete velho com aquela versão tão saudosa do Cobol pode levar um colecionador convicto às lágrimas.

Pois bem, possuído por essa ânsia incontrolável de colecionar programas, grande parte dos bbs-zeiros iniciantes tem um chilique ao deparar-se com as extensas listas de software disponíveis nos BBS's. Pensa logo: "Quero tudo!". Bobagem, não entre nessa. Guarde, isso sim, a lista de programas de cada BBS. Estude-as bem. Conscientize-se daquilo de útil que está disponível em cada sistema. E o mais importante: só faça "download" dos programas que precisar de fato. Fecho o parêntese.

Logo de cara, o neófito terá que identificar em cada BBS qual é o compactador em voga. Alguns sistemas aceitam contribuições (uploads) compactadas em qualquer formato. Outros fazem questão de manter rigidamente apenas um padrão de arquivos comprimidos. O fato é que, tendo se cadastrado num BBS, recebido sua senha e se tornado um usuário autorizado, um dos primeiros downloads que você fará será o do software compactador/descompactador de arquivos. Já dissemos aquí, mas nunca é demais repetir: procure pelos arquivos PKZ110 e LHA211 que são respectivamente os pacotes que trazem os compactadores ZIP (versão 1.10) e LHA (versão 2.11). Cada um destes pacotes contem o manual completo do programa. Vale a pena lê-lo com toda calma. Apesar de os textos serem escritos num inglês manso e de relativamente fácil entendimento, a barreira do idioma tem sido um dos entraves à disseminação das técnicas de compactação no universo dos micristas não-bbs-zeiros.

Se você é uma alma nobre, possui um espírito abnegado, conhece razoavelmente bem a língua inglesa e quer entrar para a história dos BBS's brasileiros tornando seu nome conhecido aos quatro ventos, tire uma tarde chuvosa e traduza os manuais dos compactadores encontrados nos arquivos LHA211.DOC (incluído no pacote do programa LHA) e/ou MANUAL.DOC (no pacote do programa ZIP). Em seguida, faça um upload do ASCII desta tradução para os BBS's do Rio. Não esqueça de mandar mensagem para "ALL" alardeando o feito. Seu nome será cultuado em festa e é altamente provável que paguem sua cerveja no encontro mensal, na última quarta-feira do mês, dia 24 de abril às 21:00h no calçadão do final da Praia do Leme.


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