O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 29 - Escrito em: 1991-09-06 - Publicado em: 1991-09-23


Intriga internacional


Se sairmos pesquisando os bancos de programas dos BBS's encontraremos aquí e alí arquivos que podem parecer estranhos: os "logs de conexões". Recapitulando: quando estabelecemos conexão com um BBS, é possível armazenar todas as informações que vão surgindo em nossa tela. Esta facilidade, provida pela grande maioria dos programas de comunicação, chama-se "logging". Destarte, quando você termina a ligação telefônica, pode chamar de volta o seu log e rever tudo que se passou durante sua sessão no BBS.

Pois bem, estes arquivos ditos estranhos que mencionei acima, nada mais são que logs de conexões com BBS's raras, de difícil acesso ou estrangeiras. É o caso de algum usuário mais estribado, ou com alguma facilidade de fazer ligações interestaduais ou internacionais, que age altruísticamente e salva o log de sua sessão. É possível encontrar nos BBS's cariocas, logs de acessos a alguns BBS's nacionais, tais como FGV e Persocomm (Brasília) e mesmo a BBS's internacionais: BIX via Renpac, Compuserve, InCider, SeaBoard, AirCom, Boca Raton, Digital, Hayes, PCBoard da Arábia Saudita, ToolShop e Cadence.

É sempreinstrutivo dar uma fuxicada nestes logs, pois geralmente trazem interessantíssimos papos entre usuários, amiúde versando sobre as últimas novidades na área da microinformática, com dicas altamente categorizadas e até mesmo boatos que mais tarde se transformarão em notícias. Há coisa de poucos meses, por exemplo, surgiram arquivos nos BBS's Genie e Compuserve que traziam memorandos confidenciais de figurões como Bill Gates (Mr. Microsoft) e John Walker (Mr. Autodesk), que vazaram de suas empresas e imediatamente foram digitados e amplamente difundidos, revelando planos e estratégias.

Isso sem contar com surpreendentes avanços na área micreira que chegam fresquinhos dentro das mensagens trocadas entre os power users. Muitas vezes um novo programa ou uma nova configuração de hardware se tornam conhecidos antes de seu lançamento oficial.

É o caso da Cache Computers de Fremont, California, que está lançando uma máquina chamada CACHE 386-40, com placa-mãe abrigando CPU 386 com clock de 40 MHz, oferecendo ainda um "writeback cache" de 256 kb e permite povoar o sistema com até 32 Mb de RAM "onboard" (na própria placa mãe). A tal placa é de formato "baby-AT" e inclui uma porta IDE, uma controladora de floppy, uma porta paralela, duas seriais, uma porta para jogos, seis slots de 16 bits, um de 8 bits e mais um de 32 bits. Tudo isso por um preço de US$ 795. Ainda dão o telefone dos caras: 001 (415) 226-9922 e o fax: 001 (415) 226-9911.

Você poderia dizer: "Ora, mas 386 já era. O negócio agora é 486." Muito bem, espertinho. Veja só o que aparece em outra mensagem de BBS americano: A Lightning Computers de San Francisco, California, anunciou uma maquineta 486 com 50 (cinquenta) MHz. A engenhoca é tão violenta que possui até um módulo interno de refrigeração que reduz a temperatura da CPU para 0 a 4 graus Celsius. Afinal de contas, para rodar a 50 MHz, uma CPU 486 trabalha em modo "screaming" (gritando). Para humilhar de vez, este 486-50 oferece três aceleradores gráficos: o primeiro otimizado para aplicações baseadas em Windows, o segundo para aplicações bidimensionais em CAD e o terceiro para exibições foto-realísticas em video de alta resolução para modelos tridimensionais. O usuário que quiser desfrutar de tal poder de processamento vai ter que desembolsar uma ninharia que ficará entre os 9 mil e os 30 mil dólares. O pessoal da Lightning pode ser contactado através do telefone 001 (415) 543-3111 e do fax 001 (415) 543-3532.

Muitas são as conversas que circulam sobre os mais recentes passos dos gigantes da indústria, sendo que a tônica do momento é o lançamento do chip da Intel, o 486 DX de 50 Mhz que, segundo alardeia a própria fabricante, é duas vezes mais ligeiro que o "antigo" chip de 33 Mhz. Alguns fabricantes demonstraram em recentes exposições norte-americanas alguns protótipos de pseudo-486/50, mas eram puro xaveco. Na verdade eram máquinas 386 envenenadas, rodando a 100 Mhz. Não me perguntem como conseguem fazer isso, mas que eles fazem, fazem. O tom de seriedade foi dado pela Compaq, que anunciou para outubro o lançamento de sua legítima Deskpro 486/50L que, além do chip de última geração da Intel, apresenta gerenciador interno de memória e um controlador integrado de memória com 8 kb de cache e co-processador matemático interno. Para arrematar, esta nova configuração baseia-se na FLEX da Compaq, ou seja, a Flexible Advanced Systems Architecture que proporciona melhor desempenho do processador sem sacrificar a compatibilidade com as placas e periféricos ISA de 8 e 16 bits. Quanto aos precinhos, vão variar de 11.300 a 14.000 dólares, dependendo do disco rígido oferecido.

Outro assunto que está provocando certo ti-ti-ti é a briga entre a Intel e a Cyrix. Como se sabe, a Cyrix apareceu com uma linha de co-processadores compatíveis com os 80287 e 80387, sendo que por um preço menor e oferecendo chips mais velozes e com menor aquecimento que os originais da Intel. Pronto: foi declarada a guerra. A turma dos BBS's que acompanhava a batalha entre Intel e Cyrix veio anunciando a queda vertiginosa dos preços. O chip co-processador mais modesto da Intel, o 80287XL, foi caindo de US$ 326 para US$ 99. A Cyrix acompanhou o ritmo e foi baixando o preço de seu chip correspondente, o CX-82$87, de US$ 238 para US$ 89. Na batalha seguinte, a Intel anunciou que o preço de sua linha de co-processadores 80387DX, independentemente da frequencia do clock, cairia para US$ 299. Imediatamente a Cyrix derrubou o preço de seu chip similar (CX-83D87-40) de US$ 1.075 para US$ 299. O movimento mais recente relatado nos boards de mensagens foi o dado pela Intel, que reduziu o preço do seu chip 8487SX de US$ 799 para US$ 599, mesmo não tendo ainda concorrente no mercado, quer por parte da Cyrix, quer por parte de outro fabricante qualquer.

Em resumo, vale a pena prestar atenção aos logs de conexões com BBS's internacionais, pois além do que ilustramos aquí, muitas vezes estes arquivões trazem as listas completas dos gigantescos bancos de programas dos sistemas de lá.


Oi Cora: 

Recebí uns logs de conexões com BBS dos EUA com novidades muito interessantes. Uma vez que estão bem fresquinhas, resolví sentar logo para escrever o próximo BBS-Mania. Talvez fosse uma boa publicar o "Briga de foice" que lhe mando agora [ART029] antes do "Parlevú langlé" que lhe mandei na quinta-feira [ART028] e que fala sobre o BBS do Lavelle. Acho que o Lavelle poderia esperar mais uma semaninha, pois não?

Vê aí o que você decide e mande pirão. De resto, vai tudo bem por aquí e espero que por aí também.

Frase do dia: "Diz-me quem sois e te direi quem és"

c.a.t.


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