O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
32
- Escrito em:
1991-10-16
-
Publicado em:
1991-10-21
Mãos ao alto
"Isso mesmo, jogue esse modem no chão e saia com as mãos para cima!" Parece loucura, mas é justamente o que aconteceu no início deste ano em determinado recanto que reputamos como do primeiro mundo. Está bem que possa até parecer papo de subdesenvolvido recalcado, quiçá. Mas mesmo lá na terrinha do titio podem acontecer coisas estranhas como a que narraremos aquí.
A crônica policial e os jornais sanguinolentos dos EUA repetidamente dão conta de especialistas em computação que têm toda sua configuração de hardware confiscada por zelosíssimos agentes do FBI e autoridades locais. Motivo: tais facínoras, que na verdade muitas vezes não passam de Sysops de BBS's, são suspeitos de passarem instruções de como fabricar uma bomba atômica, ou de como produzir nitroglicerina, ou até mesmo de como penetrar no sistema de computadores do departamento de defesa americano.
Vamos encarar essa estorinha a partir do nosso ponto de vista, ou seja, usuários de BBS's: criaturas noturnas que costumam ligar, ligar e ligar para um, dois, dezenas de números de telefone numa só noite.
Um certo BBSzeiro da California recebeu no escritório um estranho telefonema de seu vizinho pegado. O choroso homem contou que a polícia tinha lhe batido à porta e levado embora todo seu equipamento de computação.
No dia seguinte, um periódico local relatou que outro cidadão teve sua casa invadida pela polícia. Tudo foi revirado e investigado. No final, levaram o computador e o modem do infeliz. Segundo a reportagem, o computeiro estava tentando burlar o sistema de segurança de um BBS sysopeado por dois dermatologistas da cidade de San Luis Obispo. Os referidos doutores, que montaram um BBS com bancos de dados de seus registros médicos e artigos na área, foram azarados ao herdar um número de telefone de um popularíssimo BBS da cidade que havia sido desativado há pouco tempo. Os inexperientes Sysops, perturbados com as seguidas "tentativas de acesso indevido" ao seu sistema, acabaram por apresentar queixa à polícia.
O departamento de polícia mandou instalar um tracer na linha do BBS, ou seja, um dispositivo que identifica o número do chamador. Foram providenciados mandados de busca e apreensão para todos os assinantes que ligassem para o tal número mais de três vezes num mesmo dia. Decerto pensavam os policiais, induzidos pelos médicos Sysops, que os supostos "hackers" (burladores de computadores) pretendiam fazer downloads de arquivos GIF e imprimí-los em suas impressoras a laser, falsificando receitas médicas. Parecia que estavam diante do mais surpreendente caso de apreensão de hackers do ano.
A dupla de Sysops programou seu BBS de forma que ele se desativasse quando duas tentativas de entrar password (senha de acesso ao BBS) inválida fossem feitas. Começaram a suspeitar que algo andava errado quando o BBS começou a se desativar com frequencia cada vez maior. Contrataram um programador e gastaram mais de 1.500 dólares antes que o profissional os recomendasse a notificar a polícia.
Após terem grampeado a linha dos doutores, os policiais ficaram estupefatos ao constatar que cerca de duzentas ligações eram feitas por dia para aquele número. A polícia estava certa de que estava diante de um grande caso.
Por sorte, alguns BBSzeiros locais que ficaram sabendo do bafafá foram até o departamento de polícia para prestar os devidos esclarecimentos aos inexperientes policiais. Explicaram que o número telefônico dos doutores Sysops era há poucas semanas o de um movimentadíssimo BBS da cidade. Destarte, centenas de usuários ainda tinham este número nos "dialing directories" (lista de números de BBS) de seus softwares de comunicação. A sugestão que deram foi que o número fosse trocado e tudo ficaria às mil maravilhas. Foi o que aconteceu e em pouquíssimo tempo os micros confiscados foram devolvidos aos seus donos.
Imagine a desgraça de um novo assinante que compre a linha telefônica de um BBS que tenha sido recentemente desativado.
* Programa Novo: Saiu (lá) a versão 2.0 do sotware de comunicação HyperACCESS/5, vulgo HA5. A nova versão traz grandes facilidades de acesso remoto a programas e dados, oferece suporte a modems V.42 e melhora bastante sua linguagem script e o procedimento de captura de sequencias de teclado e comandos. Como se não bastasse, oferece poderosas facilidades de gerenciamento de memória e proteção contra virus. É o primeiro software de propósito geral para acesso a BBS's que também oferece funções de controle remoto, tais como as que notabilizaram o Carbon Copy, o CO/Session e o PC-Anywhere. A grande jogada é que o HA5 permite acesso fácil a PC's remotos, rodando DOS ou OS/2. Explicando melhor, um usuário DOS pode acessar um micro remoto que esteja rodando OS/2 e vice-versa. Que maravilha!
Versão DOS pura: US$ 100, versão DOS-OS/2: 200. Para maiores informações segue endereço da firma: Hilgraeve Inc. 111
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