O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
37
- Escrito em:
1991-11-20
-
Publicado em:
1991-11-25
Lixo nunca mais
Quando um BBSzeiro combina uma visita à casa de um outro, é batata que vai levar uma pasta, sacola ou maleta com disquetes. É uma lei imutável. Não se trata de pirataria de software, mas de economia de downloads. Ora pipocas, porque gastar ligação telefônica para um BBS visando baixar um arquivo que um colega já baixou? As trocas são feitas pessoalmente, de forma asséptica e com completa confiabilidade. Afinal de contas, um usuário de BBS é por extensão um expert anti-virus.
Um desses dias, recebí a visita do Mestre Paulo Pinto, fundador do primeiro BBS brasileiro. Nosso assunto era eminentemente técnico, envolvendo trapezismos e acrobacias para converter entre dois estrambóticos formatos de arquivos gráficos. Como veterano BBSzeiro que é, o Paulo não esqueceu seu disquete de "intercâmbio". Terminado o trabalho duro, passamos às amenidades. Conversa vai e conversa vem. Assuntos: congestionamento dos BBS's e as costumeiras fofocas, polêmicas e discussões em andamento nos boards do Eureka e do Hot-Line. E eis que o Paulo pede para se conectar com a minha máquina ao Eureka, para acessar uma mensagem que ele havia me enviado horas antes e que eu ainda não tinha lido.
Pois olha, querido leitor: quando o Paulo Pinto começou a manejar a minha máquina e fechou a conexão com o Eureka BBS, recebeu uma carreira de "raízes-quadradas" e outros lixos ASCII. Sua fisionomia transfigurou-se. Ele se virou para mim e me passou um dos maiores esculachos que já recebí na vida. O pacato sujeito ficou uma fera, babando e esbravejando: "O queeeê? Seu modem não tem correção de ruído?"
Tomado de surpresa com a violenta reação do amigo, custei um pouco a entender o que se passava. Indignado a princípio, acabei caindo na real quando compreendí o motivo da jiribanda que levei.
Nos dias de hoje é quase inadmissível ver lixo na tela de um BBSzeiro. Os modems mais recentes são equipados com protocolos internos de correção de erros e compactação de dados. Quem for comprar um modem hoje deve procurar avidamente pela especificação "Hayes Compatible - V.42bis/MNP-5".
Voltando um pouco no tempo, lembro-me do meu primeiro modem. Um Taihaho Lynker External 1200 bps feito em Taiwan, comprado na Alemanha em 1988 por uma amiga em viagem. Paguei 400 dólares no doce aparelhinho. Há alguns meses o mesmo modem podia ser comprado por 80 dólares na mesma Alemanha. Em NY, por menos de 60 verdinhas você leva um modem semelhante. Meu passo seguinte foi um modem 2400 bps tipo-baunilha, ou seja, sem qualquer protocolo ou facilidade especial. Quanto à marca, inteiramente desconhecida - made in Taiwan e fim de papo. Nunca deu problema. Infelizmente, meu passo seguinte foi ousado demais. Inadvertidamente infringí a Lei de Dvorak, enunciada adiante. Adquirí numa liquidação um V-Series Smartmodem Hayes original, estado-da-arte na época em que foi comprado. Todavia, é um 9600 bps frustrado, pois só fecha conexão a 9600 com outro modem igual a ele, porcausa do maldito protocolo Ping-pong. Ele fala a 2400 bps com grande desenvoltura e nunca tive queixas, mas fica sempre aquele gostinho amargo na boca.
A proliferação de BBS's e, especialmente nos EUA, dos serviços online de informações (Compuserve, PC MagNet, GEnie, Prodigy e America Online), combinados ao número cada vez maior de programas Shareware e de domínio público disponíveis para download, tem tornado os modems mais populares do que nunca. Estão cada vez mais confiáveis e baratos. O surgimento de standards internacionais e modems cada vez mais rápidos tem contribuído para isso.
Qual modem comprar, para você que está começando? Obviamente procure o modem mais rápido e "bem-protocolado" que puder bancar. Lembre-se que alta velocidade custa mais caro na hora de comprar, mas acaba sendo economia na hora de transferir arquivos. Até recentemente o custo de modems de 9600 bps era proibitivo. Para piorar, era difícil ter certeza se o modem recém-comprado iria utilizar todas as suas facilidades quando conectado a um modem similar, mas de outro fabricante. Nessas circunstâncias os dois modems poderiam até se ligar em 9600 bps, mas as características de compressão de dados e verificação de erros (que os tornavam tão mais caros) não necessariamente funcionariam. Esses percalços enfrentados pelos pioneiros compradores de modems hi-tech, dentre os quais me incluo, justificam a famosa Lei de Dvorak: "Espere sempre, no mínimo, um ano antes de comprar equipamentos com tecnologia de ponta". Depois desse período, você já poderá ter uma idéia melhor se a nova tecnologia era puro "vaporware" ou se promoveu um impacto real no mercado. Sempre haverá empresas velhacas querendo experimentar no campo produtos não inteiramente testados, portanto devemos dar um tempo para que se resolvam os inevitáveis bugs que aparecem em produtos novos. Além disso, os preços sempre são altos por ocasião do lançamento de uma nova tecnologia.
Você poderá encontrar modems Incom Data Systems 9600 bps vendidos a US$ 395 pelo distribuidor MWi, tel 001 (714) 753-0360. Incluem protocolos V.32, V.22bis e protocolos MNP-1 até MNP-5 para correção de dados, além de auto-fallback, auto-answer, auto-dial, auto-configuração em memória não-volátil, garantia de 2 anos, software de comunicação e diagnóstico e compatibilidade com o bus EISA. É bem verdade que esse modem não traz a última palavra em protocolo de compressão, que seria o V.42bis, mas é mais do que suficientemente rápido para o dia-a-dia de um BBSzeiro, que realiza basicamente transferências de arquivos ZIPados. Mas se você não precisa de 9600 bps, então - pasme - a própria MWi vende modems Calpak 2400 bps a US$ 53. Estão dando!
Você pode comprar modems ligeiros de marcas mais famosas, mas o preço naturalmente será um pouco maior. A Computer Discount Warehouse tel 1 (800) 726-4239 vende por US$ 448 o estupendo Practical Peripheral's External PM9600SA. Esse sim, vem com V.42bis, MNP-5 e uma garantia de 5 anos.
Na minha lista de prioridades já está em primeiro lugar: um modem decente. E o lixo passará a ser coisa do passado.
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