O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 51 - Escrito em: 1993-05-22 - Publicado em: 1992-03-02


Perfumarias


Quando surgiram as primeiras maquinetas que hoje chamamos micros, fazê-las falar via modem com um outro computador era considerado uma verdadeira façanha. Naqueles tempos de antanho, muito pouco ou quase nada havia de disponível em termos de software de comunicação. Os programas eram sequíssimos, oferecendo apenas as funções indispensáveis e da forma mais "user-enemy" possível.

Mas as coisas não poderiam ficar assim por muito tempo. E nem ficaram. Os micros foram se tornando mais poderosos e ao mesmo tempo mais baratos. Começou a sobrar de tudo. Memória não era mais problema. Espaço em winchester? Capacidade de processamento e velocidade do clock? Bah! Resultado: os produtores de software puderam se dar ao luxo de caprichar nos projetos dos pacotes, melhorando a interface com o usuário e oferecendo cada vez mais facilidades e, muitas vezes, perfumarias e outras funções muitas vezes supérfluas. Por seu turno, os fabricantes de hardware adoraram essa tendência dos softwaristas em inchar desmesuradamente os programas. Isso porque um software maior mastiga mais máquina, come mais memória, abarrota o disco e engasga o processador. Logo, logo o usuário começa a ficar inquieto, se remexe na cadeira e, insatisfeito com sua configuração, acaba achando essencial trocá-la por um aparelho novo, mais parrudo, veloz e poderoso. E o ciclo vicioso não pára mais. Quem micra ou já microu sabe muito bem que o quesito "capacidade de processamento", tal como as drogas, a cachaça e o xarope expectorante, acaba criando dependência física. Você quer ver a CPU gemendo, gritando e fritando ôvo. É a ânsia pelo poder e pela velocidade.

Sob um outro enfoque, o reflexo desse vício sobre a indústria de software não deixou de ser benéfico para os usuários. É inegável que os programas ficaram mais fáceis de usar. E os softwares de comunicação não escaparam deste efeito. Por sorte, a concorrência é acirrada e apesar dos incessantes melhoramentos apresentados nas novas versões, os preços dos pacotes vem se mantendo razoavelmente estáveis.

Sei muito bem que você faz parte de nosso seleto grupo de louvabilíssimos probos e ilibados usuários honestos, que só rodam software original comprado, legalizado e imaculado. Portanto, ouça bem o que digo. Não adianta sair desesperado gastando centenas de dólares n'algum software comercial de comunicação que anuncie oferecer incontáveis inânias e bugigangas. Você estará provavelmente jogando dinheiro fora. Existem montes de programas de alta qualidade sendo oferecidos ou gratuitamente, ou em regime de shareware ou mesmo comercialmente, mas a preços bastante camaradas.

Talvez você já tenha um programa de comunicação em sua máquina e nem esteja sabendo. Por exemplo, se você é usuário de Windows e tem um modem, então já pode sair falando com o mundo afora através do programa "Terminal". Usa Microsoft Works? Então também já pode acionar seu modem sem dor de cabeça.

Semana que vem falaremos mais sobre as coisas que você deve ter em mente ao escolher seu software de comunicação. Por enquanto desejo que você se divirta bastante nesse Carnaval, seja pulando por aí ou se logando nos BBS's da vida, que a esta altura devem estar às moscas.


Amados comparsas do Informática et Cetera:

Atendendo ao gentil pedido gravado na minha secretária eletrônica pela resplandescente sóror Luiza II da Bélgica, mal-educadamente não respondido por mim - reconheço - por estar em viagem de negócios acima do paralelo 16° mas abaixo do 15°, encaminho às poderosas mãos dessa audaz equipe mais duas estupendas obras primas da criação literária mundial, antecipando-me aos festejos orgíacos pagãos em que todos, salvo raras exceções, soltaremos as respectivas frangas e arrebentaremos as respectivas bocas dos respectivos balões.

Bom feriado a todos e nada de exageros.


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