O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
73
- Escrito em:
1992-08-03
-
Publicado em:
1992-08-10
Sem pesadelos
Esta noite foi tenebrosa. Seres hediondos mastigavam meu winchester. Infecções incuráveis corrompiam meus arquivos. Meus disquetes de backup estavam cheios de bad sectors. Acordei sobressaltado e sentei-me terrificado na cama com o pijama molhado de suor e a cara toda babada. Explicação para a noite mal dormida: ontem visitei um colega BBSzeiro que estava com a máquina infestada por dezenas de virii.
O honorável leitor vai me dar licença por um momento. Você sabe e eu sei que a palavra virus é latina e que o plural de virus deveria ser virii. Eu tentei, juro que tentei, mas escrever virii me faz um mal danado. Portanto conto com sua compreensão, pois passarei a contar 1 virus, 2 virus, 3 virus. Voltando ao sonho, meu pobre colega estava com seu micro tomado por dezenas de virus.
Às vezes é até bom que estejamos meio atrasados tecnologicamente em relação aos colegas do norte. Em termos de contaminação por virus, nossas aporrinhações se limitam às pestes mais corriqueiras e fáceis de controlar. Refiro-me àquelas que são detectadas desde os tempos da minha avó, da época do SCAN versão 64 (hoje já estamos na versão 93). Já passamos a tratar nossos virus de computador como pulgas: é um Joshi aqui, um Ping-Pong ali e um Michelângelo acolá. Nada muito sério, nada que um bom backup periódico e um CLEAN não resolvam.
Já falamos no BBS-Mania dos virus conhecidos como máquinas mutantes. Os BBSzeiros conterrâneos nunca reportaram ataques desta terrível família de seres. Mas lá fora o buraco é mais embaixo. A coisa está pegando fogo. Novamente nos chegam pela santificada BitNet, as valiosas mensagens do professor Vesselin Vladimirov Bontchev, o cacique do Virus Test Center da Universidade de Hamburgo, Alemanha.
De acordo com os escritos do violentíssimo catedrático, quando começarem a pipocar por aqui os temíveis mutantes do clã MtE, não será suficiente rodar um SCAN na máquina para poder suspirar aliviado pensando que o sistema está limpo. Sempre segundo o mago Bontchev, desde a versão 91, o programa SCAN da McAfee vem introduzindo um monte de virus com nomes de duas letras não documentados no polpudo arquivo VIRLIST.TXT que acompanha o pacote e relaciona todas as infecções detectáveis pelo programa. Ao que parece, a linhagem de detectores da McAfee está cada vez mais querendo abraçar o mundo com as pernas, propondo-se a identificar um número cada vez maior de virus, pagando o preço de afrouxar seus critérios de pesquisa. Em alguns casos recentes, o programa SCAN chegou a alterar os nomes de alguns virus antigos. Por exemplo, o virus W13 passou ser reportado como um V2 [F3]. Alguns variantes do Vienna passaram a ser detectados como Family [FM]. Mutações do Dark Avenger foram identificadas como RKO e daí por diante.
Resumindo a coisa toda, se o programa SCAN encontrar algum virus no seu sistema, existe a possibilidade de ser um alarme falso. Não dê lá muita atenção ao nome do virus apontado pelo programa. Respire fundo, enxugue a testa e trate de arranjar um detector mais confiável para saber exatamente que mal está a afligir seu micro. E aí você me pergunta, mas CAT, que detector eu devo usar? É o próprio fera Vesselin que responde: NIMM'S ZUR KENNTNISS, PRIMA SACHE, ERSTE SAHNE! Apelei para uns amigos de Munique que estão hospedados aqui em casa. A resposta do estudioso foi: "Anote aí, que é coisa muito boa!" Em seguida evocou os santificados nomes dos programas que passaram pelos rigorosos testes do Virus Test Center: UTScan 23.00.12 (o detector da Untouchable); F-Prot 2.04; FindVirus 4.20 (o detector do Dr. Solomon's Anti-Virus ToolKit); VirHunt 3.1A (incluído no pacote do Data Physician Plus); VIRSCAN 2.2.3A (o detector da IBM) e finalmente o AntiVir IV 4.03 de julho de 92. E durma com os anjos.
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