O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 75 - Escrito em: 1993-05-22 - Publicado em: 1992-08-24


Leia o livro


Dez de março de 1988. Eu suava frio. O modem era um Moddata 300 bps e o micro era um XT. A emoção me tomava. Um colega de trabalho chamado Havilson havia me falado sobre o que era um BBS e que existia um aqui no Rio chamado Forum-80. Metí os peitos e lá estava eu fazendo minha primeira conexão. Com a transmissão a 300 bps, as mensagens deslizavam lentamente na tela, numa velocidade que hoje seria motivo de pilhéria. E já no meio daquela lenta maçaroca de mensagens, um usuário nitidamente se destacava pela sua seriedade e por ser extremamente prestativo em relação aos novatos que, como eu, estavam totalmente perdidos naquele fascinante mundo novo. Esse usuário chamava-se Sérgio Gallo e foi para ele que eu enviei minha primeira mensagem, um pedido de socorro. No dia seguinte, o Sérgio me respondeu com toda atenção, apresentando soluções para todos os meus problemas. Fiquei emocionado e muito agradecido pela gentileza do moço. Daí por diante, continuei fuçando sozinho, mas sempre contando com o apoio dele quando estava em apuros. Muitas vezes depois estive em contato com o Sérgio Gallo, tanto em mensagens pelos vários BBS's da cidade, quanto pessoalmente nos diversos encontros mensais dos BBSzeiros. Paciente com os que lhe procuram com dúvidas e mais dúvidas, mostra-se sempre um sujeito tranquilo, fleumático e meticuloso.

Em meados do ano passado, o Sérgio comentou que ia escrever um livro sobre BBS. Mesmo antes de ver o bicho pronto já tinha certeza que ia sair coisa boa. Lançado na última FenaSoft, chegou-me semana passada uma cópia aqui na Redação. Levei para casa, abrí o livro e só parei de ler na página 169. Só não fui adiante porque não tenho o hábito de ler índices remissivos. Ao terminar a leitura, já tarde da noite, fiquei tentado a telefonar para o Sérgio e lhe dizer uns desaforos. Afinal de contas, porque diabos aquele desgraçado não tinha escrito tudo aquilo antes, por exemplo em 1988? Eu teria comprado o livro logo de cara e não teria passado pelos apertos que passei. Acabei não ligando, pois já era de madrugada.

Editado pela Campus, o nome do livro é "Guia do CBBS" e sua capa se parece com uma placa de sinalização de trânsito. Não se incomode com o "C" do CBBS. É BBS mesmo. Esse que todos nós conhecemos ou pretendemos conhecer. Você vai olhar o livro e talvez o ache fininho, comparando com os tijolaços importados do Dvorak ou do Hedtke. Conheço um monte de livros sobre BBS, mas nunca encontrei nenhum como o do Sérgio Gallo, que pegasse um usuário completamente crú no assunto e o fosse levando passo a passo até a maestria na BBSiologia.

O Guia do CBBS é um livro simplesmente soberbo. Se você é um micreiro que sempre quis saber o que é um BBS, mas nunca teve coragem de perguntar, pode comprar direto sem pestanejar. Se você já é um BBSzeiro experiente, pode comprar também pois sempre vai ter a chance de aprender algo novo. Sabe o que é um modem baunilha? Já ouviu falar no HS-LINK? Conhece a pinagem do cabo null-modem? Pois é, está tudo lá esperando por você.

Prepare-se para travar contato com uma abordagem eminentemente prática da questão. É mão-na-massa e vamos que vamos. Naturalmente o Sérgio não esqueceu de prover os fundamentos teóricos da coisa, sempre apresentados no momento oportuno e através de uma linguagem acessivel e muito objetiva. Se o seu desejo é montar o seu próprio BBS, o capítulo sete foi feito para você. Lá o autor revela barbadas só conhecidas por quem já ralou noites e noites como Sysop de um BBS como o Correio INFO.

Mas a grande sacada do Sérgio Gallo foi apresentar em seu livro um aspecto que nunca ví ser abordado em nenhuma outra obra do gênero: o lado humano dos BBS. Sempre bem-humorado, o autor nos leva a conhecer o perfil dos usuários típicos de BBS: o moita, o garganta, o sugador de arquivos e muitos outros. Inicia o usuário na arte de acessar BBS's de acordo com as tradicionais regras de etiqueta. Ensina a resolver conflitos conjugais causados pela BBSMania aguda. E muitas outras dicas de valor inestimável. Conheça os encontros de usuários: onde são e quando são. Tenha a seu dispor a lista completa de BBS's em todo o Brasil. Expulse sua empregada e ocupe o quarto dela com o micro. Acorrente seus filhos ou tranque-os em jaulas para que não lhe perturbem os acessos aos BBS's. Aprenda a manter uma geladeira e uma TV perto de seu hardware, para tornar longos downloads mais agradáveis. Em resumo, compre o livro, acerte seu micro, agite seu modem e vá à luta.

(fim do BBSMania ART075)


Cara Coro, digo Coro Caro, ou melhor CARA CORA!

De acordo com nosso combinado há vários meses, não estou lhe enviando comentários sobre o Talmud, nem poemas alexandrinos, muito menos receitas de pernil. Envio-lhe artigos e em número de três. São dois BBS-Manias adiantados, já que estou me mandando para Manaus, de onde partirei para o mato a procurar pirâmides perdidas pelas próximas duas semanas. E tem mais.

Recebí uns papers da Access Software anunciando um jogo de golfe fantástico para PC. Aproveitei o ensejo e escreví uma análise do programa. Estou enviando os dois BBS-Manias e a análise por FAX.

Qualquer sebo, ligue. Só de malandragem, também enviarei mensagem private para o Sérgio Gallo no Hot-Line BBS com os três textos.

Tchauzinho, Cora. Cuide-se bem e lembranças à turma.

Carlos Teixeira


ANALISE DE SOFTWARE: LINKS 386 PRO [Publicação 31/08/92]

Ano passado, um amigão nosso conhecido como "O Andarilho" esteve em peregrinação pela Europa e Ásia. Sua jornada estendeu-se desde Londres até Abu Simbel, no Egito. Travou contato com micreiros de toda espécie, mas o que lhe chamou mais a atenção foi um velho magnata dono de faustosa mansão nos arredores de Zürich, Suíça. Tomando chá com o milionário, o Andarilho acabou travando contato com uma casta privilegiada de usuários de micros PC que se dedica única e exclusivamente a um tipo de programa: jogos de golfe. Geralmente experts na versão "ao vivo" do jogo, para estes viciados, o mundo não tem fronteiras. Quando chove ou neva em sua aldeia, nosso magnata e seus coleguinhas árabes e japoneses pegam seus jatos e se mandam para passar uns dias jogando no Hyatt Dorado Beach East Course, em Puerto Rico. Aberdeen na Escócia e Scottsdale no Arizona são outras opções possíveis. Mas quando querem divertimento imediato, estes coroas estribados põem-se a jogar partidas de golfe uns contra os outros via modems de alta velocidade em intermináveis e caríssimas ligações telefônicas internacionais. Mantêm-se constantemente atualizados, comprando sem parar as últimas versões dos mais sofisticados programas simuladores de campos de golfe.

Desde junho passado, esta elite golfista computacional encontra-se em polvorosa após o lançamento de um novo e extraordinário produto pela empresa Access Software Incorporated. Apenas para fazer um rápido retrospecto do sucesso da Access, vale citar que seu carro-chefe, um jogo de golf para MS-DOS chamado "LINKS - The Challenge of Golf" recebeu em 1990 e 1991 o prêmio de melhor software esportivo do ano, em pesquisas promovidas pela Software Publishers Association dos EUA. Em 91 ganhou o prêmio de melhor jogo de ação pela revista Computer Gaming World. Como se não bastasse, o programa foi um dos finalistas na pesquisa Editor's Choice da revista PC Magazine em 1991, recebendo o PCMag Award for Technical Excellence, na categoria de programas de lazer.

A euforia em torno do produto foi tamanha que em pouco tempo a Access passou a produzir módulos adicionais, os "LINKS Championship Courses", novos campos de golfe além dos oferecidos no software original. Nem precisamos dizer que venderam que nem banana. No início, a cada dez semanas, um novo campo digital para campeonatos de golfe era lançado pela Access. Agora, a cada 60 dias já estão lançando no mercado um novo campo de golfe para torneios simulados. Cada um destes kits tem preço de lista de US$ 25 e é projetado por renomados designers de campos de golfe reais. Figuras famosas no ramo como Tom Fazio, Jay Morrish e Tom Weiskopf assinam os projetos de campos tão realísticamente bem produzidos para telas VGA, que o jogador quase se sente estando no próprio local.

O sucesso da Access não parou por aí. Há poucos meses fechou parceria com uma empresinha norte-americana chamada Microsoft. Juntas lançaram o fabuloso programa "Microsoft Golf", um novo jogo de golfe - para Windows, é claro. Inteiramente compatível com os campos adicionais da Access já disponíveis no mercado, o jogo agradou logo de cara e tornou-se coqueluche entre os golfistas janotas do mundo inteiro.

Para coroar o êxito da família LINKS, a Access acabou de lançar sua última bomba. Após 18 meses de desenvolvimento intensivo, a equipe de programação da empresa produziu uma nova versão que já representa o estado-da-arte em simulação de golfe. O velho jogo LINKS tem agora um irmão mais velho. O "LINKS 386 Pro" é o primeiro software de entretenimento que utiliza todo o potencial de máquinas PC padrão 386 e 486. O programa foi escrito utilizando código real de 32 bits, o que possibilitou a implementação de interfaces muito mais amigáveis, e simulações gráficas de alto realismo. Até o momento, LINKS 386 Pro é o único software de golf que utiliza gráficos exclusivamente em padrão Super-VGA. Este modo gráfico de alta definição é capaz de reproduzir o jogo de golfe com tal exatidão, que o realismo do software só perde para o do jogo real.

O novo software oferece 345 diferentes janelas para visualização do jogo. Ao usuário é permitido configurar suas telas da maneira que lhe aprouver, não ficando restrito a um só layout arbitrário e fixo no video. Todas as superfícies tridimensionais do campo de golfe são adequadamente texturizadas, causando agradável impacto visual. Água tem textura de água; o céu é belíssimo; a grama é grama mesmo; o arvoredo é composto de imagens reais digitalizadas em Super-VGA; todos os sólidos têm sombra e por aí vai. Nesta versão Pro, o programa faz uso integral da memória do PC, através do DOS Extender. Muito embora rode perfeitamente com apenas dois megas de memória RAM, o software se esbaldará caso o micro tenha até oito megas. Se o jogador utilizar algum gerenciador de memória estendida (HIMEM.SYS, EMM, ou algum outro), o LINKS 386 Pro tirará pleno proveito desta facilidade. Na falta de semelhante gerenciador, o próprio software assume a tarefa.

Em termos do jogo propriamente dito, o LINKS 386 Pro tem as seguintes características: oponentes humanos; jogadores masculinos e femininos sempre com esmerado gabarito gráfico de alta resolução; perfil inteiramente configurável, desde a bolinha até os pinos de jogo; torneios online ligados à Computer Sports Network; exaustivas coleções históricas de estatísticas; vistas de topo com Zoom; possibilidade de salvar seu visual predileto em disco; múltiplos modos de jogo; poderoso suporte de placas de som e muitas outras facilidades que foram sendo requisitadas pelos clientes antigos do LINKS e incorporadas à nova versão 386 Pro.

Os requisitos de hardware são: máquina MS-DOS com processador 386 ou 486; placa de vídeo e monitor Super-VGA; disco rígido; dois megas de RAM; rato; e drive de alta-densidade para disquete de 5,25 ou 3,5 polegadas. O programa não é protegido contra cópia (epa, pode limpar essa baba que está escorrendo aí, leitor pirata). Suporta RealSound e todas essas plaquinhas barulhentas, tipo AdLib, SoundBlaster e congêneres. Já vem com um campo de golfe incluído de fábrica: Harbour Town. Preço de lista: US$ 70. [Access Software Incorporated: 4910 W. Amelia Earhart Drive, Salt Lake City, Utah 84116, tel: 001 (801) 359-2900, fax: 001 (801) 359-2968]


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