O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
77
- Escrito em:
1992-08-30
-
Publicado em:
1992-09-07
Voando alto
Arregalei os olhos e levei um verdadeiro choque: chegou minha conta de telefone. BBS é sem a menor dúvida um ótimo divertimento, mas pode acabar se tornando uma brincadeira cara. É bem verdade que um usuário pode passar a vida inteira mantendo mansa a sua conta de telefone, acessando apenas os BBS's locais. Afinal de contas os sistemas cariocas são muitos e têm material de sobra, bancos de programas carregados com megas e megas de preciosidades e a quantidade de mensagens é sempre gigantesca. Nem um usuário fanático que se dedicasse 24 horas por dia, acessando apenas os sistemas locais, conseguiria dar conta do recado, ou seja: ler todas as mensagens, responder às do seu interesse, baixar os arquivos novos que vão sendo "uploadeados" e analisá-los um a um. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, o usuário trava contato com as famigeradas "listas", em que aparecem o nome, o telefone e os parâmetros de conexão dos mais diversos BBS's em outros estados e em outros países.
No início, prevalece o bom senso. Afinal, interurbano é caro. Internacional nem se fala. Mas existe sempre aquele sabor de mistério, o encanto do desconhecido. Como será aquele tal BBS no Recife? Que tipo de gente manda mensagem por lá? E os arquivos, que tal serão? O mistério fica ainda maior com os super-BBS's norte-americanos. E pronto, lá está você com os dedos coçando e, num momento de fraqueza, acaba discando o código DDD, ou pior, o DDI. E lá se vai a sua conta telefônica pro beleléu.
Para saciar o incontrolável apetite dos que anseiam por conhecer sistemas remotos, alguns Sysops fazem com que seus BBS's se tornem membros de uma ou mais redes interestaduais ou internacionais. Desta maneira, os usuários destes sistemas podem trocar mensagens com colegas distantes de BBS's diferentes. Durante as madrugadas, os diversos BBS's pertencentes a uma rede se conectam uns aos outros de forma automática, sempre segundo uma ordem previamente definida. Enquanto os Sysops dormem o sono dos justos, seus computadores realizam um intenso intercâmbio de pacotes, transmitindo e recebendo mensagens, programas e arquivos de controle. Ao raiar do dia, cada sistema integrante da rede já enviou e recebeu todos os seus pacotes pelo páis afora. De manhã cedo, a mensagem de um usuário carioca já poderá ser lida por seu destinatário em Brasília ou Curitiba. Em muitos casos, os contatos entre BBS's não se dão diariamente, o que aumenta o intervalo entre uma mensagem enviada e sua resposta. Este intervalo é ainda maior no caso das redes internacionais. Mas tudo bem: ninguém busca mesmo respostas imediatas nessas mensagens através de redes.
No Brasil, as mais importantes interligações entre BBS's são a FidoNet - uma rede mundial de sistemas - e a Ponte Aérea, representada no Rio pelo Eureka BBS. Poucos Sysops implementam contato internacional entre sistemas, como é o caso do Hot-Line, que oferece aos seus assinantes acesso a uma excelente tele-conferência mundial em língua portuguesa. Já dei boas gargalhadas com as mensagens dos BBSzeiros de Portugal, escritas num linguajar totalmente diferente do que estamos acostumados, com papos por vezes estranhos e inesperados. Nas conversas luso-brasileiras, o assunto pode ser técnico ou não, mas é certo que haverá sempre muita pinimba, alfinetadas e troca de impropérios, tudo no mais alto nível e sempre com espírito de brincadeira. Outro sistema bastante atuante a nível internacional é o CentroIn BBS, onde é possível ler mensagens dos colegas de Israel, EUA, Alemanha e de muitas outras paragens.
Nos tempos de antanho, quando os BBS's eram gratuitos, era o próprio Sysop que arcava com os custos dos telefonemas. Hoje, com quase todos os BBS's cobrando taxas de seus assinantes, a coisa fica bem mais fácil e o serviço, cada vez mais confiável.
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