O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 84 - Escrito em: 1992-10-19 - Publicado em: 1992-10-26


Besouro: que grilo!


Se você é atacado por um virus, fica zangado, chuta a parede e arranca o cabelo. Depois, mais calmo, pega seu programa F-PROT ou mesmo um destes CLEANs da vida e dá uma limpada na casa. Chora pelos os arquivos mortos, porém depois de baixar aquele backup adorado que você sempre faz (faz mesmo?) tudo volta à normalidade. Sua rotina foi afetada por um programeto reconhecidamente maligno. Contudo, pior que ser atacado por um virus destes é quando o BBSzeiro faz download de um programa shareware novinho em folha e só algum tempo depois descobre que o dito cujo está com bug. Abre parêntese. Bug? Provavelmente você já sabe o que é. Se não sabe, significa "besouro" em inglês. Como se pronuncia? Difícil dizer. Use a pronúncia abrasileirada para designar filme de velho oeste: bangue-bangue, tire as letras N e pronto, você acabou de pronunciar "bug" duas vezes. Nos tempos dos primeiros computadores, uma falha elétrica podia queimar centenas de válvulas em uma fração de segundo. Certa feita, numa daquelas máquinas gigantes de outrora, um daqueles programas arcaicos apresentou comportamento e resultados errôneos. Investigaram fundo o código, mas nada encontraram que pudesse ser responsável pela falha. Foram fuxicar o hardware. E eis que naquele emaranhado de fios encontraram um besouro que havia feito dos circuitos sua moradia. Roeu uns fiozinhos aqui, fez um xixizinho ali e acabou danificando a eletrônica. Foi o primeiro bug de todos os tempos. O termo passou a denotar erro de programa, mesmo que daquela primeira vez o software fosse inocente. Os caras encheram a máquina de inseticida Flit e daí por diante tudo correu bem. Logo depois surgiu o termo "debug", significando tirar o besouro - corrigir o erro. Em homenagem ao inseticida, um dos primeiros programas debugadores chamou-se DDT. Ainda cheguei a usá-lo no velho CP/M. Mas chega de teretetê e fecha parêntese.

Aparecer um shareware novo buguento é meio raro. Famoso foi o caso do programa SPLIT, utilitário da bem conceituada PC-Magazine baseado numa idéia genial e que foi amplamente difundido pelo mundo inteiro. O Split dividia um arquivo grande demais para caber em um só disquete, picotando-o em tantos pedaços quanto necessário e acomodando cada naco em um disco separado. Só muito tempo depois foi-se descobrir que o Split dava pau com nomes de arquivos com exatamente oito caracteres. Era simplesmente impossível por meios mundanos recuperar o arquivo gigante original danificado. Só mesmo chamando um cirurgião de bits competente, coisa rara de se achar. Final da história, o Split foi enterrado e surgiu o Slice, testado, aprovado e melhorado aqui no Brasil pelo Cesar Allevato e por um outro sujeito cujo nome me falha. Este caso já é passado e quem o vivenciou sofreu bastante.

Mas o brabo mesmo é quando surge uma nova versão buguenta de um programa shareware que já havia adquirido boa fama anterior. Aconteceu há poucas semanas nos BBS brasileiros. COPYQM é uma daquelas joias do shareware. Para quem copia muito disquete é um verdadeiro tesouro. Tão confiável quanto Farinha Láctea ou Criolina. Lançaram a versão 3.0 e a negada nem pestanejou: detonou a versão antiga e jogou a nova no path do DOS sem maiores preocupações. Eu fui um deles. Salvei um monte de matrizes imensas devidamente ARJeadas em doze disquetes usando COPYQM 3.0. Na hora de descarregar o fardo em ourta máquina, nada. Chafurdando na lama identifiquei o culpado: era ele. Por sorte, nossos BBSzeiros mais adubados estão sempre de orelha em pé e rapidinho apareceu nas quebradas da noite o COPYQM 3.02. Desta vez testei fundo o famigerado. Até onde pude ver, está limpo. Pode deitar e rolar.

Veja como são as coisas. Acordei hoje com um artigo inteiro prontinho na cabeça. Sentei no Blazugro para escrever o texto, mas havia esse disquete com etiqueta COPYQM bem aqui na frente do teclado. E acabei escrevendo coisa completamente diferente do que pretendia. Mas semana que vem tiro a forra e vou abordar um tema tão delicado que me até me atazanou o sono.

 


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