O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 94 - Escrito em: 1992-12-19 - Publicado em: 1993-01-04


Noite pesada


Foi uma grande virada noturna. Refiro-me ao trabalho de apuração paralela das recentes eleições presidenciais nos Estados Unidos, feito pela famosa agência de notícias AP (Associated Press). Só depois que a coisa toda terminou com sucesso, é que ficamos sabendo dos detalhes, através de mensagens trocadas nos BBS's de lá, entre os que participaram direta ou indiretamente da maratona de processamento dos resultados. A turma da AP já estava preparando o circo com grande antecedência, mas evitava alardear sobre o estupendo poder de processamento envolvido. Sabe lá se iria dar tudo certo? E se o sistema pifasse no meio do caminho? Mas correu tudo bem e o resultado mereceu nota 10. Durante a noite de apurações, a agência pôde fornecer minuto a minuto tabelas rigorosamente atualizadas aos seus clientes, espalhando informação precisa sobre os fatos para milhões de pessoas nos EUA e em todo o resto do mundo.

A Associated Press é responsável pela reportagem dos resultados eleitorais nos EUA em todas as eleições e também nas primárias, tanto estaduais quanto nacionais. Cobre todas as corridas eleitorais mais importantes nos 50 estados usando poderosas workstations. Naquela noite frenética, a AP acompanhou em suas velozes máquinas alguns milhares de corridas, desde o nível presidencial, passando pelos representantes do Congresso, prefeitos e até xerifes. Eram mais de 500 usuários pendurados na rede ao mesmo tempo, gerando centenas de milhares de transações que eram processadas em tempo real e tornavam-se disponíveis instantaneamente para os inúmeros relatórios que eram produzidos e imediatamente divulgados pela própria rede, por modem, fax e voz.

Os relatórios gerais eram gerados em ciclos de 5 em 5 minutos, a partir de centenas de imensas tabelas que eram atualizadas em questão de segundos. A rede da AP estava azeitada ao máximo e, segundo revelam os BBSzeiros envolvidos no trabalho, eram simplesmente fantásticos os procedimentos de redundância controlada embutidos no sistema visando segurança, caso desse algum pepino durante os momentos mais críticos. Com essa parafernália armada, a AP tornou-se o verdadeiro backup do esquema oficial de apuração, o News Election Service, que supre outras redes nacionais norte-americanas como a ABC, NBC, CBS e CNN.

O processamento dos votos começou em cada prefeitura, sendo tabulados os votos localmente por oficiais eleitorais. Os resultados eram transmitidos a 40 centrais apuradoras e daí a dois centros principais de processamento da própria agência AP. Cerca de 400 profissionais eram responsáveis pela entrada de dados. Dezesseis workstations funcionaram como servidores, coletando os dados, tabulando-os e produzindo relatórios que eram imediatamente retransmitidos para mais de 1560 jornais e cerca de 6000 estações de rádio e TV, só nos EUA.

Durante a noite das apurações, os BBS's americanos foram atulhados de mensagens sobre o assunto. Durante toda a campanha, os comitês de cada candidato contaram com BBSzeiros entusisastas que literalmente entupiram os boards com propaganda eleitoral, estatísicas, pesquisas e debates. Agora que a coisa toda acabou, a Sysopada de lá está se dedicando mesmo é à limpeza dos winchesters.


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