O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 101 - Escrito em: 1993-02-12 - Publicado em: 1993-02-22


A Babel dos velozes


Quem terão sido os desgraçados que, na aurora dos tempos, inventaram a sigla e a abreviatura? Esta pergunta por certo já lhe martelou na cachola quando começou a se interessar por microinformática em geral e por telecomputação em particular. A profusão de siglas incompreensíveis e de termos insondáveis no jargão do BBSzeiro torna a coisa um tanto dura para o iniciante. Mas estamos aqui justamente para amansar a fera e tornar as coisas menos complicadas para você, gente boa. Vamos começar a decifrar estes sombrios e misteriosos enigmas no que diz respeito aos protocolos de transferência de dados em alta velocidade. Padrões de modems podem ser um tanto confusos para o usuário neófito de BBS. Mesmo aqueles já meio calejados no assunto desconhecem o significado de todos os termos. Todos estamos sempre aprendendo uma nova especificação, padrão ou sigla. Quando falamos sobre modems de alta velocidade a coisa complica ainda mais, visto que não há consenso mundial sobre o melhor padrão.

Partindo bem do início, falemos sobre a velocidade de transmissão de um modem, que é expressa em "baud", um termo francês. A grosso modo, pode-se dizer que um modem 2400 baud é capaz de transmitir 2400 bits por segundo, ou 2400 bps. Podemos considerar então que 1 bps é igual a 1 baud. Esta afirmação não é tecnicamente exata, mas podemos considerá-la válida: dá para o gasto. Todo modem precisa seguir certas regras para se comunicar com um outro modem. Estas regras são padronizadas e se chamam protocolos. Você encontra com um conhecido na rua e, antes de dar início ao papo propriamente dito, inicia uma troca de frases convencionais que também constituem um protocolo. "Opa, tudo bom?"; "Comigo tudo bem, e você? Família boa?"; "Tudo jóia, o que é que tem feito?"; e por aí vai começando a conversa.

Com modems é a mesma coisa: "Oi, estou aqui"; "Também estou"; "Meu padrão é X, e o seu?"; "O meu é Y. Minha velocidade é tantos bauds"; "OK. Já me ajustei à sua velocidade. Posso começar a transmitir?"; "Vai fundo, estou pronto"; e a transmissão começa. Quando se trata de modems parrudos, de alta velocidade (9600 baud ou maiores), então a coisa fica mais séria. Torna-se vital que os protocolos sejam bem definidos e rigorosamente observados em ambos os lados da conexão. Se assim não for, muitos problemas podem surgir, geralmente em virtude da má qualidade da linha telefônica ou outras perturbações no sinal. Existem atualmente diversos padrões para modems ligeiros. Alguns são exclusivos de um determinado fabricante, como por exemplo o protocolo US Robotics HST (High Speed Technology - tecnologia de alta velocidade). Há também padrões internacionais, tais como a série V estabelecida pelo CCITT. Mas, ora pipocas, outra sigla. Essa é francesa e, traduzida, significa Comitê Consultivo Internacional para Telégrafo e Telefone.

A empresa US Robotics, que foi uma das primeiras a oferecer um padrão para modems de 9600 baud, lançou o HST lá pelos meados da década de 80. Logo depois, a própria empresa melhorou bastante o HST, "esticando" suas especificações para abocanhar transmissões a 14.400 baud. Acontece que, devido a uma briga de comadres, o HST não foi aceito pelo CCITT. A gaga instituição acabou adotando, para modems de 9600 baud, o padrão V.32, isso lá no fim dos anos 80. Para nossa infelicidade, os padrões HST e V.32 não são compatíveis entre si, de forma que dois modems representando estes dois babelísticos protocolos poderão apenas se falar a 2400 bps. Mas isso não é motivo para tristeza. Aproveite seu Carnaval e divirta-se. Enquanto isso vou escrevendo, aqui de cima da silenciosa serra, a continuação dessa complicada história sobre os protocolos velozes. Falaremos mais semana que vem.


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