O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 102 - Escrito em: 1993-02-24 - Publicado em: 1993-03-01


Cedilha na sigla


Antes de prosseguir naquele papo sobre protocolos de alta-velocidade, cabe aqui oferecer minhas escusas ao leitor que, no artigo da semana passada, quedou-se obstúpido diante da medonha sigla CCITT. A forma correta é C.C.I.T.T. (Comitê Consultivo Internacional para Telégrafo e Telefone). A maldita cedilha surgiu por imperícia deste Teixeira no manejo dos códigos de conversão que fazem este meu depauperado micrinho se comunicar com os poderosos e inflexíveis supercomputadores da Redação.

Voltando à vaca fria, falávamos sobre a rusga burocrática e filosófica que tacou no mercado os dois primeiros protocolos para modems de alta velocidade: o HST da US Robotics e o V.32 do C.C.I.T.T. - que infelizmente não se falam entre si. A diferença entre os dois é essencialmente técnica, residindo no fato de ambos utilizarem processos de modulação diferentes. A US Robotics, que não dorme de touca, passou a produzir um modelo de modem - um tanto mais caro, naturalmente - que engole, sem eructações, os dois sapos. Trata-se do HST Dual Standard.

Alguns anos mais tarde, o C.C.I.T.T. desenvolveu um protocolo mais esperto, o V.32bis. Capaz de tratar velocidades de transmissão até 14.400 bps, este protocolo novamente baseava-se numa abordagem diferente da do padrão HST. Com o correr do tempo foram surgindo diversos outros protocolos "proprietários" (patenteados pelas empresas que os desenvolveram), mas nenhum deles colou. As séries HST e V.xx dominaram o mercado.

Acontece que, nos laboratórios da vida, os pesquisadores não param quietos e continuamente põem-se a engendrar melhoramentos e firulas mil. Circuitos e programas de compressão de dados e correção de erros foram sendo incorporados aos novos modelos de então. Quando o honorável BBSzeiro que me lê ouvir falar de um tal padrão V.42, saiba que estão falando de um processo de correção de erros em tempo de transferência de arquivos.

Não raro surge outra obscura sigla junto às alusões ao padrão V.42 - o misterioso MNP. Era uma vez uma empresa chamada Microcom, fabricante de modems, que desenvolveu um protocolo chamado MNP (Microcom Networking Protocol). Ofereceu o dito cujo em diversos níveis ou classes. Níveis 1 a 4 referem-se a correção de erros, ao passo que nível 5 tem a ver com compressão de dados. Folgue o leitor, pois sobre MNP falaremos com sobejidão em artigo propínquo. Por ora, cumpre ressaltar que um método superior de correção de erros foi incorporado ao padrão V.42. O dito método é conhecido como LAP-M (de Link Access Procedure). De acordo com as respectivas definições formais dos padrões V.32 e V.42, nada garante que um modem V.32 seja compatível com um V.42. Acontece que, para nosso gáudio, na maioria das vezes eles conversam sem problemas.

No final da década passada, nosso C.C.I.T.T. lançou o V.42bis, que suporta LAP-M e MNP classe 5. Lançando mão de uma taxa de compressão de até 4 para 1, o V.42bis possibilita transferências a até 38.400 bps. Só que não adianta babar a camisa, ó leitor de olho-grande. O V.42bis não faz milagre, portanto pode ir desistindo de obter taxa de compressão 4:1 para um arquivo já compactado via ARJ, LHA ou ZIP.

Neste exato instante em que você está tomando chá com biscoitos e devorando este colorido e agradável caderno globiano, os magos do C.C.I.T.T. estão desenvolvendo um protocolo que deverá chamar-se V.FAST e que, segundo alardeiam, será capaz de alcançar velocidades de 28.800 bps nas mais podres e ruidosas linhas telefônicas. É coisa para as calendas de dezembro vindouro. Resta-nos aguardar. Enquanto escrevo este último trecho, olho de soslaio pro meu modemzinho baunilha. Ele retribui o olhar com indisfarçável temor de que, movido por essa enxurrada hi-tech, eu venha a aposentá-lo à primeira chance. Calma bichinho, ainda vamos trabalhar juntos um tempão.


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