O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 161 - Escrito em: 1994-04-12 - Publicado em: 1994-04-18

Cuidado com o crachá

Como sabemos, existem BBS só para hackers, os temidos fuxicadores e burladores de sistemas. Para ser admitido em um destes BBS, o aspirante tem que provar ser digno de pertencer a este seleto grupo de futucadores. Em um destes BBS surgiu uma revelação sobre o recente caso da patinadora Tonya Harding, aquela celerada que já confessou ter mandado aplicar umas pauladas nas pernas da sua maior rival. Mas o que tem isso a ver com os hackers? Explico.

Lá nos EUA, alguns dos mais competentes hackers são justamente os repórteres da imprensa. Quando o caso das patinadoras ainda pairava no campo das especulações, três repórteres se dispuseram a analisar com cuidado algumas gravações em video em que aparecia a maldita desportista Tonya ostentando um discreto crachá com suas credenciais de acesso. Movidos pelo mais puro espírito dos hackers, descobriram o sistema online que ela usava para trocar e-mail (correio eletrônico) e conseguiram ler sua correspondência, graças ao código de acesso surrupiado das imagens em video. O passo seguinte foi adivinhar a password (senha) da dona, o que, dizem eles, foi tarefa simples.

Foi justamente no e-mail da Tonya que os repórteres lavaram a égua e conseguiram as pistas valiosíssimas que acabaram levando à solução do caso. Muito bonito, mas onde fica a privacidade da usuária? Aqui no Brasil a legislação não é muito clara a respeito, mas lá em cima a coisa pega. Ou pelo menos deveria pegar. Tendo declarado em entrevistas que violaram o e-mail da patinadora, os hackers estão sujeitos a punição. A estória não deve acabar por aí, pois já existe muita gente presa nos EUA por delitos computacionais bem mais brandos.

Uma estatística divulgada em diversos BBS no exterior comprova que o prejuízo causado pela pirataria de software diminuiu no ano passado. Em 1992, o total de perdas atribuídas à pirataria foi de US$ 9,7 bilhões. Já em 1993, este total caiu para US$ 7,4 bilhões. Segundo a SPA (Software Publishers Association), esta expressiva redução foi causada pela queda dos preços do software e não por uma redução da atividade pirata. Na verdade, a quantidade de produtos copiados e vendidos ilegalmente aumentou cerca de 1,5% neste mesmo período.

Nos newsgroups especializados em CAD na Internet choveram mensagens de orgulhosos usuários IBM, garganteando o projeto do Boeing 777, a maior aeronave de duas máquinas já construída. O aviãozinho foi inteiramente projetado em telas de computador e foi montado sem necessidade do tradicional "mockup", modelo em escala 1:1. Foi o primeiro projeto "paperless" (sem papel) deste porte. Foi projetado utilizando oito poderosos mainframes IBM, suportando 2.200 workstations.

O Sysop do BioHardware BBS, Marco Querini, depois de renhida luta, conseguiu implantar uma espetacular enciclopédia em CD-ROM. Graças à revolucionária interface gráfica RIP, que já está se tornando padrão em BBS do exterior, o acesso à enciclopédia do BioHardware é instantâneo, limpo e amigável. A coisa fica ainda mais ligeira se o usuário é o felizardo proprietário de um desses modems de alta velocidade.

Além desta novidade, o BioHardware está oferecendo o banco de dados DisqueFácil, onde podem ser feitas pesquisas por telefone, bairro, classe e nome. Por enquanto o sistema está oferecendo dados de pizzarias, restaurantes e clínicas médicas, mas o banco de dados não pára de ser enriquecido pela equipe do BioHardware.

O Querini ainda provê acesso a um outro banco de dados, este em modo gráfico e ainda em fase de demonstração. Graças a um programa dedicado chamado DC-Term, que pode ser "downloadeado" pelo usuário do BBS, as imagens são compactadas e transmitidas com uma rapidez surpreendente. O Sysop já está cheio de minhocas na cabeça, desenvolvendo mil aplicações para este fabuloso e revolucionário banco gráfico. Logo de cara, está elaborando um módulo para venda e mostruário de produtos. Em seguida vai implantar um centro de contatos para promover encontros amorosos via modem. Pelo jeito, a coisa vai pegar fogo.

Uma área que também está fazendo sucesso no BioHardware é a de intercâmbio de audio CD's usados -- rola de tudo: troca, compra e venda. E o fax online? Essa é boa: o usuário do BioHardware prepara uma mensagem em uma conferência específica do BBS. Mais tarde, à noite, o sistema aciona os fax-modems e envia a mensagem via fax para o destinatário final. Um chuá.

O BioHardware atende pelo modem (021) 267-6680, num tronco com 4 linhas. Se quiser fax ou voz, ligue para 267-6944. Recentemente associou-se a duas empresas, que estão oferecendo serviços através do BBS. A primeira delas é a Processa, com o shopping via modem. A outra é o tradicional escritório Luiz Paulo Conde Arquitetura, que está oferecendo serviços de gravação de CD-ROM.

Depois de um sangrento combate contra as hordas de hackers que sistematicamente atacavam o BBS, o Sysop Marco Querini transformou o BioHardware num sistema robusto e inexpugnável. Aproveitou o ensejo para finalmente sanear seu cadastro, fuzilando mais de 2.700 usuários fantasmas e ficando com um número enxuto de cerca de 300 seres de carne e osso.

Má notícia para os usuários do Amiga Link BBS. O Sysop informa que o sistema ficará fora do ar por tempo indeterminado. Vai voltar? Vai sim, mas bem diferente. Aguardem.

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