O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 165 - Escrito em: 1994-05-11 - Publicado em: 1994-05-16


Querem me pegar!


Não há limites para a paranóia. É a conclusão a que chegamos ao ler uma mensagem pinçada em um BBS canadense especializado em segurança de informações, da parte de um elemento chamado John Ketchersid (E-mail: hardware "at" NETCOM.COM).

Como sabemos, pelo menos até hoje, a coisa lá na tampa do planeta tem sido bem mais séria do que aqui. Os órgãos de segurança estão constantemente de olho vivo em todo tipo de crime informático e muitos são os infratores flagrados com a mão na massa diariamente nos EUA e na Europa. Uma vez identificado um provável criminoso digital e arregimentadas as devidas provas contra ele, os oficiais conseguem um mandado e mandam brasa na residência ou escritório do celerado, geralmente confiscando o computador e todo o material do delinqüente.

É bem verdade que recentemente tivemos um caso semelhante, em que um chefão da contravenção teve seus disquetes apreendidos e vasculhados. Mas lá em riba, investidas assim são muito mais comuns e mais frutíferas. Tanto que alguns usuários, certamente com alguma culpa no cartório, entram em verdadeira paranóia, com a mania obsessiva de querer proteger seus dados a todo custo. Uns apelam para os mais cabeludos algoritmos de criptografia, outros escondem o computador dentro do esgoto.

Entretanto, o supra-citado Sr. John Ketchersid superou a todos os "perseguidos" quando postou sua mensagem intitulada "Espero que isto salve as tripas de alguém - DESTRUA SEUS DADOS!". Assumindo que a maioria dos leitores de seu exasperado relato guarda seus hard disks dentro do gabinete do micro (onde mais?), o desvairado cidadão especifica minuciosamente todos os passos para se construir uma matriz eletromagnética cúbica em torno deste gabinete. Assim que é ligada, a dita matriz apaga instantaneamente todos os dados de qualquer meio magnético que estiver dentro da gaiola. O John chega ao requinte de fornecer uma detalhada lista de materiais, incluindo 300 metros de fio, fonte UPS (no-break), um monte de engenhocas eletromagnéticas da Radio Shack, central de alarme, controles remotos, sensores diversos, um abajur, um cata-vento, um ventilador e outros estrambólicos artefatos e pecinhas. Todo o aparato fica ligado à UPS, fonte não-interrompivel de alimentação, imune portanto a faltas de energia ou desligamentos intencionais da força.

Partindo do pressuposto que os agentes tentarão impedi-lo de chegar ao seu micro, de forma que ele não possa apagar seus dados caso se veja ameaçado pelo longo e poderoso braço da lei, o John imagina uma situação em que está chegando do trabalho e percebe que sua casa está sendo observada. Usando o pequeno controle remoto, sempre no bolso, ele liga a iluminação interna do apartamento e, caso ela acenda, pressiona imediatamente um dos botões vermelhos do aparelhinho, acionando a gaiola eletromagnética que apaga todos os dados de seu disco.

Num outro cenário, caso os agentes tenham desligado a força elétrica de propósito, ainda segundo os intrincados pensamentos de nosso paranóico personagem, naturalmente eles permanecerão à espreita, aguardando a chegada do pobre John. Porém ele é mais esperto e aperta um outro botãozinho no seu controle remoto, acionando o ventilador, que faz girar o cata-vento, que por sua vez projeta sombras móveis na parede, graças à luz do abajur, também acionado nesta mesma ocasião. Os agentes estarão alerta e darão o bote, iludidos pelos bruxuleantes efeitos de luz. John detectaria o ataque e apertaria o outro botão vermelho do controle, detonando os megabytes no seu winchester.

John também imagina que pode ser atacado dormindo, ora bolas. Pois dorme com o controle remoto debaixo do travesseiro. Ele alega que não é doido e que o único motivo para todo este cuidado é que costuma escrever no micro um diário em que expressa pensamentos muito pessoais sobre religião, política, práticas sexuais e outros assuntos controvertidos. Prá cima de moá, meu nego?


Há cinco meses o Sysop Daniel Rebelo inaugurou o Fox BBS, lutando desde então, bravamente, contra a fúria dos elementos. Hoje, já com o sistema rodando redondo e azeitado, finalmente pode o jovem mancebo ver reparada a cruel injustiça de que foi vítima, causada pela desatenção deste avoado articulista. Antes tarde do que nunca, anote então, estimado leitor, os dados do Fox BBS, cujo modem lhe responderá com gentil apito se você ligar para (021)511-3397, das 21 às 6:30 da madrugada. Com velocidade de 2400 bps, o Fox faz parte da RioNet (1021:10/9), da OutNet (586:10/3) e da FidoNet (4:802/49). Circulam rumores que está rolando uma vaquinha para obter um modem mais rápido para o Fox. Verdade ou não, sucesso Daniel!


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