O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 168 - Escrito em: 1994-05-26 - Publicado em: 1994-06-06


A grande trapalhada italiana


Dia 10 de maio passado foi realizada a primeira grande operação de busca e apreensão em redes de telecomputação na Itália. Graças a um mandado judicial impetrado por um juiz da cidade de Pesaro, cerca de 60 BBS espalhados por todo o país foram visitados e vasculhados pelos oficiais de polícia.

Em janeiro deste ano foi aprovada uma nova legislação anti-pirataria de software pelo Parlamento italiano. Com base nesta Lei, vários Sysops foram formalmente acusados de distribuir programas ilegalmente copiados e de se apropriarem de senhas secretas de acesso a computadores.

As buscas incluiram residências particulares e, como na maioria dos casos os policiais não sabiam ao certo o que procurar, foram confiscando computadores, disquetes, modems, cabos, CD-ROM, WORMS, secretárias eletrônicas, fitas de audio e outros bens privados. O pessoal não deu moleza não, batendo nas portas das casas no meio da madrugada de metralhadora em punho.

No final das contas, ninguém acabou sendo preso, mas cerca de um terço de todos os nodes FidoNet da Itália foram fechados na ocasião. A operação policial durou dois dias e ainda se estendeu pelas cidades de Modena, Bologna, Ancona, Pisa e mais algumas outras.

O motivo da busca gigante foi a descoberta de um esquema de pirataria de software e de passwords roubadas operando sob a rede FidoNet. Até onde já se conseguiu apurar, o tráfico ilegal de programas era feito por apenas dois elementos. O brabo é que os criminosos foram se utilizar logo da Fido, uma rede mundial abertamente contrária a práticas piratas. O grande azar na estória toda foi que os oficiais encontraram em poder dos dois piratas a "nodelist" da FidoNet italiana, ou seja, todos os telefones e nomes de BBS pertencentes à Fido naquele país. Decerto pensando que haviam descoberto uma monstruosa rede de contatos de pirataria, os policiais sairam feito doidos, pegando todo BBS que apareceu na relação.

O triste resultado é que a maior parte dos Sysops que tiveram seus BBS fechados não tinha a menor relação com os dois suspeitos. Grandes foram as perdas materiais dos inocentes, em sua maioria estudantes e profissionais atuando na área de processamento de dados que tiveram seus arquivos e registros pessoais confiscados não se sabe por quanto tempo.

Diante do susto, muitos dos outros Sysops de BBS Fido na Itália resolveram desativar seus nodes, temendo novas buscas atabalhoadas por parte dos anti-piratas.

Particularmente tocante foi o relato de um BBSzeiro, Riccardo Pizzi (e-mail staff "at" ita.it), funcionário da ITA, Informatica e Tecnologie Avanzate. Riccardo teve sua casa visitada às 3:30 da madrugada no dia 11, quando ele estava em viagem de negócios, por conta de uma consultoria. Verdadeira raridade no mundo informático, o Riccardo é um daqueles usuários "caxias", que não usam um byte sequer de software pirata. Os policiais levaram tudo que fosse eletrônico, ou que tivesse algo a ver com computador, de dentro de seu quarto. Em resumo, mais de cinco anos de trabalho sumiram em cinco minutos. O pior que, como todos os outros, o rapaz nem sabe se algum dia vai conseguir reaver seu hardware e seus arquivos.


Recentemente a mini-empresa Canter & Siegel, um pequeno escritório de advocacia integrado apenas por marido e mulher, decidiu anunciar seu negócio na Internet. Para tanto, preparou uma mensagem nesse sentido e postou-a em diversos newsgroups da Usenet, o fabuloso BBS que varre o planeta inteiro, através dos sites da Rede. A reação dos Useneteiros foi a mais violenta possível, uma vez que a tal firma contrariou um dos ditames básicos da netiquette (a etiqueta da Net), ou seja, "não anunciarás produto nem serviço profissional nas sagradas malhas da Grande Rede". Muito embora diversas empresas já estejam penduradas na Internet, oferecendo serviços e produtos a valer, a colocação de uma mensagem dessas nos, até então virgens, boards da Usenet, provocou uma inédita torrente de iradas mensagens por parte dos milhões de usuários. Este fenômeno, conhecido como "flame", já havia ocorrido antes, mas nunca em proporções tão avassaladoras. O flame consiste em cada usuário que se julgar ofendido enviar centenas ou milhares de mensagens para o e-mail do infrator. Quanto maiores as mensagens, mais atulhada vai ficar a caixa de correio do infeliz destinatário. Agora imagine um monte de gente zangada em toda a Usenet, metralhando mensagens sem parar rumo ao casalzinho de advogados.

É claro que os dois jamais se esquecerão do ocorrido. Mas parece que não tomaram jeito não. Decidiram lançar um novo serviço, o CyberSell, que visa ajudar outras empresas que queiram fazer o mesmo que eles fizeram. CyberSell vai cobrar US$ 500 para divulgar pequenas mensagens em mais de 6000 newsgroups da Usenet, provavelmente causando novas torrentes de flame. O casal chegou a esta idéia ao constatar que seus negócios frutificaram barbaramente com a invulgar propaganda que tiveram na Rede. A idéia dos dois é muito engracadinha, mas constitui uma prática inteiramente fora dos padrões internetianos e que poderá ter sérias conseqüências caso a moda pegue.


O CentroIn BBS anuncia que abriu mais uma "library" de arquivos, a de número 10, apresentando o quentíssimo CD-ROM Night Owl #12, com mais de 3600 arquivos selecionados, oferecendo o mais recente shareware disponível no pedaço. Para obter o catálogo deste novo CD-ROM, baixe o arquivo LIB010.EXE na library 1 do CentroIn. Como disse o Sysop Sérgio Mascarenhas, "é só liberar espaço em seu hard-disk e ligar o aspirador!".


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