O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 175 - Escrito em: 1994-07-20 - Publicado em: 1994-07-25


Teclado nunca mais


Nosso endereço e-mail Internet para correspondência WA104 "at" FIM.UNI-ERLANGEN.DE foi inaugurado pelo M. Savio da IBM com uma notícia que pode significar a realização de um antigo sonho de qualquer usuário de micro, BBSzeiro ou não.

Imagine ter ao seu dispor uma interface robusta de entrada de dados por voz. É bem verdade que coisas assim já vinham sendo tentadas há anos. Em laboratórios, sistemas deste tipo já funcionavam com sucesso, permanecendo apenas o obstáculo do elevado custo. Soluções baratas de comando por voz para PC já haviam sido lançadas, por exemplo, pela minúscula empresa Covox com seu sistema Voice Master. Depois, já um tanto melhor, apareceu a linhagem Sound Blaster e seus diversos programas de apoio, tal como o Sound System, que também possibilita entrada de comandos por voz.

Mas o que o M. Savio nos trouxe de bandeja foi algo realmente interessante, um passo a mais. Até agora o que tínhamos eram sistemas que analisavam grupos de fonemas, ou seja, expressões vocais, e associavam-nas a comandos de teclado ou mouse, permitindo o controle do micro por voz, dependendo naturalmente de algum "treinamento" do software para reconhecer os padrões de voz de cada operador. Bastava uma plaquinha especial num slot do PC, um microfone, meia dúzia de programetos e pronto.

O IBM Personal Dictation System 1.0 (PDS) é algo mais. Trata-se de um sistema de ditado para profissionais de alto nível, executivos, diretores e gente da nata. Seu objetivo é livrá-los da escravidão do teclado, arcaico dispositivo de entrada que, em muitos casos, acaba representando um gargalo em sua produtividade. O PDS elimina os frequentes erros ortográficos que ocorrem nas transcrições do texto falado para o digitado, destrinchando com valentia até os termos técnicos mais complexos.

O preço é um tanto azedo, pouco menos que US$ 1000, mas por ser o que é, este sistema em pouco tempo paga seus custos. O software é baseado em OS/2, já quase saindo do forno a versão para Windows. O hardware consiste de um adaptador para processamento de sinais, compatível com padrões ISA ou Micro Channel. Em testes conduzidos nos tradicionais laboratórios da PC Week, o PDS foi capaz de traduzir texto com vocabulário geral e especializado a uma taxa de 90 palavras por minuto. Ainda segundo estes testes, provou ser um sistema fácil de instalar, de aprender e, mais importante, sem complicações na hora de adequá-lo a diferentes necessidades e gostos do usuário.

Por trás da agradável interface gráfica do PDS e de sua flagrante simplicidade de uso, está um modelo linguístico cabeludíssimo que desempenha tarefa heróica ao discernir fonemas e locuções homófonas e, por vezes, confusas. Estes complexos problemas de semelhança vocal são muitas vezes resolvidos pela análise da expressão em pauta, em função de seu uso na frase.

É claro que os erros que às vezes aparecem costumam ser cômicos, mas os projetistas do PDS bolaram um sistema de correções ligeiro, prático e acima de tudo inteligente, tornando o software cada vez mais esperto à medida que vai sendo usado. Cada erro é uma chance para o programa se tornar mais safo.

Fico imaginando o dia em que poderei aposentar este teclado seboso e barulhento, acostumando-me simplesmente a ditar o texto da BBS-Mania para o micro. Êita vida dura.


Semana passada tivemos a comemoração dos 25 anos do primeiro passo do homem na Lua. Aconteceu mesmo? Alguns até hoje duvidam. Mas outra comemoração de 25 anos acontece neste ano de 1994, estoutra isenta de dúvidas ou especulações. Em 1969 foi inventado o kernel (núcleo) do sistema Unix no laboratórios da Bell, por Dennis Ritchie e Ken Thompson.

Desenvolvido diretamente de experiências obtidas em pesquisas acadêmicas, o Unix é hoje em dia a alma de grande parte das workstations espalhadas pelo orbe terrestre e até em naves espaciais. A despeito do mito estabelecido na comunidade informática, Ritchie e Thompson não chegaram ao Unix kernel por acidente, mas sim depois de um duro trabalho em busca de um sistema de time-sharing (compartilhamento de tempo) semelhante ao complexo Multics, desenvolvido em conjunto com a General Electric, a AT&T (American Telephone & Telegraph) e o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Na época, a dupla de fuçadores requisitou um computador para mandar brasa no trabalho, mas sua proposta não foi aceita. Trataram de se virar e acabaram encontrando num canto esquecido da Bell um obsoleto e pouco usado minicomputador PDP-7 da Digital Equipment Corporation, uma maquineta bem modesta, com poder computacional entre o Commodore 64 e o PC-AT, tendendo mais para o primeiro.

Pasme o estimado leitor ao saber que um ano mais tarde, em 1970, finalmente conseguiram nossos heróis uma máquina bem mais possante para conduzir seu trabalho: um DEC PDP-11 com apenas 24 kb de memória, sendo 12 kb reservados para o sistema operacional, uns poucos kilobytes para programas de usuário e o resto, se é que sobrava alguma coisa, funcionando como um vasto disco virtual, ou RAM disk.

E pensar que hoje tem muita gente fazendo cara feia para micro com 4 megas de RAM. Ainda acho que tem alguma coisa errada...


[ Voltar ]