O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 188 - Escrito em: 1994-08-31 - Publicado em: 1994-10-24


Cyber-xerife em ação


Se a estimada leitora quiser ver um exemplo típico de caos quase completo, vale a pena dar uma olhadela na famosa Usenet, o ultra-BBS que paira no cyberspace sob a égide da Internet, a grande rede. Vez por outra aqui abordamos este verdadeiro labirinto de câmaras, ante-salas e compartimentos, cada um deles chamado "newsgroup". Diversos BBS já ecoam conferências da Usenet, permitindo ao BBSzeiro comum acesso a este vasto mundo. As mensagens na Usenet, ao contrário das de um BBS comum, são sempre endereçadas a "ALL", ou seja, a todos os usuários. Daí o perigo de se escrever uma asneira e vê-la reverberando por todo o planeta e eventualmente gerando "flame", ou melhor, uma torrente infindável de respostas muitas vezes violentas de usuários que se sentiram atingidos, incomodados ou ofendidos com o que você escreveu. Daí a insistência dos administradores de sistemas para que usuários novatos nas malhas da Usenet leiam atentamente os inflexíveis ditames da Netiquette, a etiqueta da Net.

Mas sempre há os espertinhos que não estão nem aí para a tal etiqueta. Na edição de 06/06/94, foi noticiado na BBS-Mania o caso do casalzinho de advogados, Canter & Siegel, que se meteu a fazer propaganda na Usenet e acabou com sua mailbox (caixa de correio) entrando em colapso, tal o fluxo de flame que passaram a receber como represália.

E agora foi a vez de um xerife do condado de Okaloosa, na Flórida, EUA. Desesperado à procura de um certo facínora e sabedor do vasto alcance que tem a rede no território norte-americano e no mundo, teve ele a petulância de postar na Usenet uma mensagem de "PROCURA-SE", ou seja, algo semelhante ao velho cartaz "WANTED" dos filmes de bangue-bangue. O cyber-xerife colocou a mensagem em dois newsgroups de grande leitura, quais sejam alt.internet.services e alt.culture.internet. As reações à mensagem do bravo homem da lei foram as mais diversas possíveis. Uns se mostraram extremamente zangados com o que chamaram de mau-uso de uma ferramenta tão poderosa. Outros contudo, acharam o máximo a criatividade do tira e atulharam sua mailbox com mil e um elogios. No final das contas, não se sabe ainda se o celerado foi capturado. O único resultado concreto até agora foi o overflow da mailbox do xerife.


RENASCENDO DAS CINZAS: Às vezes aparece alguém com uma ótima idéia mas que infelizmente contraria poderosos interesses já de há muito estabelecidos e lucrando horrores. Súbito estas idéias desaparecem tão repentinamente quanto surgiram.

Rumores há muitos, até a história dum mancebo que inventou um automóvel movido a água e dias depois foi encontrado num beco com a boca cheia de formiga. No nosso ramo da computação, a coisa não é tão drástica assim, mas muitas vezes já se viu firmecas com produtos revolucionários sendo silenciosa e rapidamente engolidas por gigantes da indústria. Anos depois aparecia o mesmo produto relançado como idéia original da poderosa companhia.

O velho e pouco conhecido backup em fita VHS de videocassete desapareceu sem deixar vestígios. Outro sumido foi o pretenso substituto do disco rígido: uma matriz de chips de memória. Nos tempos em que achávamos um winchester de 80 megas algo imenso, uma empresa anunciava a preços competitivos um "array" de chips que poderia armazenar os mesmos 80 megas, só que com um tempo de acesso estupidamente menor e com menos consumo de energia. Sumiu também.

E agora recentemente surgiu nos fórums de eletrônica da Compuserve uma interessante discussão sobre os lançamentos de novos flash chips pela NEC e pela SunDisk, com capacidade 16 vezes superior à dos flash chips atualmente disponíveis. Planejados para adornarem as prateleiras em meados de 1997 e se tornarem o sonho de consumo dos hardwaristas em geral, estes chips de 256-megabits serão de grande utilidade como substitutos dos minúsculos discos rígidos que hoje equipam laptops, notebooks e outras miudezas que estão por vir.

O que se espera é que num futuro não muito distante, winchesters serão peças de museu. E nossos filhos comentarão: "Puts, imagina só que há dez anos eles se vangloriavam de armazenar 2 Gigabytes em discos magnéticos que ficavam rodando dentro dum gabinete lacrado e eram acessados com cabeçotes mecânicos móveis, que pobreza!"


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