O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
189
- Escrito em:
1994-08-31
-
Publicado em:
1994-10-31
Ensinar não ofende
Em agosto passado realizou-se em Nova York uma conferência chamada HOPE, palavra que significa "esperança" no idioma da rainha, mas que, neste caso, é abreviação de "Hackers On Planet Earth". Pelo nome já dá para se ter uma idéia dos assuntos tratados: coisa fina. Coincidência ou não, o evento teve lugar no décimo oitavo andar de um tal HOtel PEnnsylvania, novamente começando por HOPE.
A abertura do acontecimento ficou a cargo de um cavalheiro de nome Robert Steele, ex-funcionário da CIA. Os trabalhos foram conduzidos num clima de grande animação e deixaram os privilegiados fuxiqueiros inscritos bastante contentes com o que viram e aprenderam.
Thomas Icom abordou o tema "Diversão com Pagers". A leitora decerto sabe daqueles aparelhinhos que se vê pendurados no cinto de uns e outros para receberem curtas mensagens onde quer que estejam? Isso mesmo, tipo Mobi e Unibanco 30 Horas. Pois bem, eles se chamam "pagers". O Thomas ensinou aos presentes como interceptar estas mensagens alfanuméricas e ler página por página tudo que aparece na telinha de qualquer pager à sua escolha, dentro da área de alcance de sua cidade. Ensinou também inúmeros outros truques com pagers e apresentou diversos fatos pouco conhecidos sobre estes simpáticos aparelhinhos.
Dois senhores que adotaram os pseudônimos de Bernie S. e Count Zero ensinaram técnicas de "cellular cloning", ou seja, adulteração de telefones celulares, copiando os identificadores internos de um outro aparelho, consequentemente prejudicando o verdadeiro dono daquel' outro identificador. Crime? Claro que é crime. Mas esses hackers têm a cara-de-pau de alegar que não é crime discutir a técnica. Crime é utilizá-la. Poucos já tiveram peito de aplicar estes conhecimentos prá valer em telefones celulares. E menos gente ainda teve sucesso, uma vez que há muita informação furada circulando no submundo informático. Lá no HOPE, porém, os caras realizaram diversas clonagens ao vivo diante da platéia, usando um micro PC, e chegaram a distribuir de graça software com esta finalidade. Deram também preciosas dicas sobre os altos riscos de se usar telefones celulares, quando se precisa de privacidade.
Como desafio aos presentes, foi proposto um ataque hacker massivo contra um novo sistema de cartões de transporte adotado em Nova York, o MetroCard. O sistema é pioneiro nos EUA e os crackers (quebradores de sistemas de segurança) já vem há tempos coletando dados sobre as entranhas do novo esquema. O objetivo, novamente segundo os petulantes fuçadores, não é fraudar cartões, mas sim provar que a idéia apresenta falhas. Estiveram presentes representantes da Metropolitan Transit Authority, órgão novaiorquino responsável pelo sistema, que responderam perguntas sobre os cartões e aproveitaram para ficar do olho nos participantes, potenciais infratores da lei.
Um valioso intercâmbio foi travado pela primeira vez entre os hackers norte-americanos e os legendários integrantes do Chaos Computer Club da Alemanha. Representantes do CCC estiveram presentes ao HOPE e soltaram a franga, liberando inestimáveis segredos europeus para a seleta platéia.
É claro que havia muito olheiro infiltrado entre os "inocentes" conferencistas e o clima de desconfiança certamente prejudicou um pouco os trabalhos. Se compararmos o HOPE com as memoráveis conferências Galactic Hacker Party em 1989 e Hacking at the End of the Universe em 1993, fica claro que o ambiente desta vez não foi tão descontraído.
Outro tópico de grande interesse foi o da "Engenharia Social", intrincado conjunto de técnicas psicológicas de sedução, circunlóquio e encantamento, amplamente empregadas por hackers do sexo masculino visando extrair informações preciosas de telefonistas, funcionárias de empresas de software e outras damas de coração mole. Foram feitas notáveis demonstrações práticas e relatados casos antológicos e legendários dos grandes mestres desta nobre arte. Foi promovida até uma disputa online, em que a cada participante era "dada" uma operadora na linha de voz e via-se quão longe cada um conseguia chegar na engenharia social.
Foi feito também um acompanhamento sobre o desenrolar do traumático "crackdown" ocorrido há poucos meses na Itália, quando foram fechados dezenas de BBS sob a acusação de pirataria de software. As investigações sobre o caso na terra do Pavarotti continuam e o clima entre os Sysops ainda é de terror.
Diversos autores literários de sucesso na área de hackering estiveram presentes: Steven Levy (Hackers), Winn Schwartau (Terminal Compromise), Paul Tough (Harpers, Esquire), Paul Bergsman (Control The World With Your Computer) e Julian Dibbel (Village Voice, Spin). Aguarda-se para breve a liberação de copiosos textos na Usenet trazendo a público muito do que foi tratado no HOPE. Se o leitor quiser maiores detalhes, pode mandar e-mail para Emmanuel Goldstein (emmanuel "at" well.sf.ca.us) ou para os organizadores da conferência (info "at" hope.net).
Se você ainda não viu, não sabe o que está perdendo. É a revista EDM/2, voltada para programadores e desenvolvedores de software. Apenas para você tirar uma linha do que é tratado nesta publicação, veja alguns tópicos de uma edição recente: animações e "sprites", dicas sobre Visual REXX e a arte da programação C em OS/2 2.1. Bom mesmo é o preço da revista: ZERO reais. Você pode conseguí-la através dum simples download na IBM BBS, Sysop Márcio Alexandre, 24 horas no ar a 14.400 bps, nos telefones (021) 542-8332 e (011) 889-0065.
[ Voltar ]