O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 192 - Escrito em: 1994-09-05 - Publicado em: 1994-11-21


Arremesso de modem


Você já deve ter se maravilhado alguma vez com um "demo". Mas calma, não é culto ao demônio, não. Refiro-me a "demonstração", palavra que, por caprichos neologistas, mudou de gênero quando foi encurtada e adaptada ao dia-a-dia do micreiro, passando a significar um pequeno programa que permite ao usuário ter uma noção das melhores e mais impressionantes características de um software qualquer, seja ele um joguinho, uma ferramenta de CAD, ou qualquer outra coisa. Tudo isso à guisa de propaganda.

Um demo é um programinha singular. Deve ser pequeno, chocante, cativante e rápido. Objetivo: vender software. O usuário potencial tem que levar um impacto sensorial e, nesses tempos de multimídia, qualquer demo que se preze tem muita animação, cor e som. Ocupados com nossos afazeres informáticos, sejam eles profissionais ou não, raramente nos damos conta de que existe uma certa magia na arte dos demos. Escrever uma dessas peças não é tarefa simples e exige muita prática e talento.

Um dos BBSzeiros mais atuantes aqui no Rio, apesar de seus 16 anos de idade, teve o privilégio de conhecer de perto a confraria dos fabricantes de demos. O nome do mancebo é Pedro Campos, simpático jovem que micrava já antes de engrossar a voz. Pedro não só travou contato com esta casta, como também passou a fazer parte dela, ao participar ao vivo e a cores de um evento ocorrido em julho passado na Escandinávia. O ASSEMBLY '94 foi um torneio de "demistas" ocorrido na cidade de Raisio, perto de Turku, na Finlândia. No momento em que o Pedro lá chegou, passou a ser um membro de uma das agremiações, tornou-se um "trader" e adotou o nome código Méson. As atividades, torneios e palestras viraram noites sem parar e o que se via ao final dos "trabalhos" era gente caindo pelas tabelas por todo lado.

Imaginar um encontro dedicado a demos parece uma piada, mas aconteceu mesmo e tinha gente saindo pelo ladrão. O nome do acontecimento também tem uma explicação clara. Uma vez que um programa de demo deve ser, acima de tudo, pequeno e rápido, naturalmente deverá ser escrito numa linguagem o mais baixo-nível possível. Em qualquer computador, seja pequeno, médio ou grande, a única linguagem que permite a um programa reunir estas duas características é o assembler. No universo da programação, poucos são os que se aventuram nos herméticos domínios desta que é conhecida como "linguagem de máquina".

E lá estavam eles, aparentemente protegidos pelos deuses nórdicos do clima, sob um sol agradável, confraternizando-se animadamente num evento patrocinado por companhias que sabidamente não estão no páreo para perder. A lista de patrocinadores é significativa: Advanced Gravis, Epic MegaGames, Creative Labs, Compaq, Terton, iD Software, IBM e outras empresas menores como Toptronics, Sound Solutions, Waite Group Press, SSI, Foley Hi-Tech & Hyperware, PC Superstore, Team 17, Megazone, Suomen On-line Pelit, Pro Component e Data Fellows.

O ASSEMBLY '94 foi na verdade um torneio, dividido em categorias por tamanho de programa, medido em kilobytes: 4 kb, 40 kb e 64 kb. Quem fizesse o melhor e mais chocante demo de acordo com estas limitações de tamanho, seria o vencedor. A disputa foi ferrenha e os campeões mostraram habilidades de gênio. Segundo nosso Méson, os visuais e os sons que jorravam de micros de todo tipo eram simplesmente exasperantes, coisa de cair o queixo de qualquer um.

E a turma não perdeu a oportunidade de se divertir, é claro. Houve até um campeonato de Doom, famoso joguinho da ultra-violência, que atraiu legiões de especialistas. Mas o que mais emocionou a galera foram as inusitadas competições desportivas: lançamento de disquete à distância e, pasme, lançamento de modem à distância. Imagine uma galera de lunáticos arremessando modems de todos os tipos num verdejante gramado da cidade. Quanto ao recordes batidos neste evento, o Pedro só registrou o do lançamento de disquete de 3 e meia polegadas. Foi um cabra americano o autor da façanha: 97 metros de distância. Experimente você mesmo e verá que não é mole.


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