O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 194 - Escrito em: 1995-07-21 - Publicado em: 1994-12-12


Agorafobia: adeus


Quando dizemos que o uso pesado do computador muitas vezes afasta as pessoas do convívio humano, alguns replicam que é exagero de nossa parte. Mas as provas estão aí no nariz de quem se dispuser a enxergá-las. Sem mencionar o tempo dispendido nas tarefas diante da fascinante maquineta, é a necessidade de grande concentração que às vezes coloca o micreiro dentro de uma campânula invisível, isolando-o do mundo exterior por horas a fio.

Todavia, alguns usuários de computadores têm grande dificuldade de concentração e acabam se distraindo com o ambiente que os cercam, prejudicando seu rendimento nos bits e bytes. Talvez estas criaturas devessem procurar algum outro trabalho ou, se for o caso, outra diversão. Mas tem sempre alguém mais vivo, de olho nas oportunidades de negócio que podem aparecer de um momento para o outro. E aí está uma delas, atender aos avoados da informática.

Recebí de um BBS americano uma mensagem de divulgação de produto de uma empresa e solicitei maiores informações por via postal. Há poucos dias, recebí um bizarro folheto desta empresa chamada New Space, que vende uma cabine de madeira e fibra de vidro, dentro da qual o micreiro instala toda sua parafernália e pode literalmente se fechar num casulo, isolando-se do mundo e focalizando sua mente exclusivamente na máquina e em seus periféricos. A que ponto nós chegamos! A cabinezinha se parece com um cockpit furreca de carro de corrida. Na verdade tem até rodinhas que facilitam sua movimentação pelo aposento, ranhuras para arejar o exíguo ambiente e umas placas translúcidas dos lados e no teto para aproveitar a iluminação circundante.

A Clipper CS-1, o nome da gaiolinha hi-tech, é o sonho de consumo dos micreiros agorafóbicos. Nada mais de ficar encarando seu colega de trabalho, ou conversando sobre coisas não afeitas à labuta computacional. Nada de desfrutar dos amplos espaços dos escritórios modernos: fique enjaulado com seu adorado micrinho nesta confortável cabine com luzes ajustáveis, ventilação super-silenciosa e espaço, mesmo que pequeno, para impressora, arquivos, scanner e outros tesouros pessoais. O confortável assento de couro é montado sobre um trilho parecido com o de um barquinho a remo e é cheio de frescuras, rotações, translações e regulagens. Até parece que o cara vai ficar sambando, se recostando e rebolando dentro da cabine. Tem cada uma... Para contatos com a New Space, ligue para o titio em 001 (817) 921-5331, fax: 927-8655. Como existe gosto prá tudo, anote aí o preço desse item de importância fundamental em sua estação de trabalho: US$ 6.000. E pensar que ainda tem gente morrendo de fome em Quixeramobim...


FORÇANDO A BARRA: Lá nos EUA sempre houve uma certa celeuma em torno do fato de se poder ou não patentear um software. Dizia-se que não faria sentido uma patente de uma criação puramente intelectual, um conjunto de sentenças escritas em uma linguagem por mais estranha que fosse. É verdade que um software produz resultados concretos para seu usuário, mas o pessoal da ceguinha (a Justiça) nunca havia se convencido... isso até ontem.

A Corte Federal de Apelações norte-americana acabou de chutar o pau da barraca, estabelecendo que um programa de software pode ser patenteado, sim senhor. Uma vez que sua execução determina configurações específicas nos interruptores e chaves internas do computador, ele na verdade cria um "novo circuito" quando está rodando. Consequentemente, ao ser executado, um software "cria uma nova máquina" no computador em questão. Cá entre nós, o pessoal forçou um pouco a barra, mas o advogado e BBSzeiro Donald Chisum, finca pé na questão: "A Corte posicionou-se amplamente favorável à patenteabilidade de qualquer software, desde que esteja o dito programa operando em u' a máquina, produzindo um efeito físico."


[ Voltar ]