O
GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: Clique da Morte - Escrito em: 1998-03-16 - Publicado em: 1998-03-23
Clique da morte, o terror que ronda seu Zip drive
A ilusória segurança dos Zip disks esconde grave defeito de projeto, que já atingiu cerca de 120 mil usuários da Iomega
Legenda da foto: ESTÁ RINDO DE QUÊ? O Zip é mesmo uma gracinha, mas pode fazer todo o seu trabalho naufragar de uma hora para outra - uma tragédia
Há alguns anos, o Sumo Sacerdote da Confraria, o legendário Silva Costa <www.iis.com.br/~scosta> apareceu com uma quente: um superdisquete em que cabiam 100Mb. Era o Zip drive, da Iomega, uma fabulosa engenhoca que hoje quase todos conhecem, capaz de se ligar à porta paralela e permitir backups imensos sem grande esforço. (Não confundir com os zips do PKZIP, formato compactado de arquivo.) Depois do Zip vieram o Jaz e o Ditto, armazenando respectivamente um e dois gigabytes, com o mesmo sucesso. No meu caso, parei nos discos de 100Mb mesmo, e tinha a ilusão de que algum dia iria ter saco de gravar nos Zips todo meu acervo de disquetes mofados. Nunca tive. Mas já possuo uma respeitável coleção de Zip disks e, até ontem, acreditava piamente que meus dados estavam a salvo por muito tempo ainda.
Era simplesmente bom demais para ser verdade
Ligou-me então o mestre Silva Costa, falando no "Click of Death" (CoD) - o clique da morte. Ele pintou-me uma situação tão aterrorizante que quase caí da cadeira, de choque. Visite <www.juip.com/cod.html>, o centro de informações não-oficiais sobre os drives Iomega. Muita gente começou a perder seus valiosos dados gravados em drives Zip e Zip Plus. Por algum motivo, sem qualquer aviso ou indício, o disco começa a clicar. Clica, clica sem parar e, quando você vai conferir, lá se foram seus dados. E mais, basta que isso aconteça com um disco para que o próprio drive seja afetado e, muito provavelmente, venha a destruir outros discos que nele sejam montados. A posição oficial da Iomega com respeito ao CoD resumiu-se a um documento pouco esclarecedor que pode ser encontrado em <www.iomega.com/support/techs/zip/2135.html>. Muito embora no documento a empresa se proponha a substituir o disco ou o drive defeituoso, nem todo mundo está satisfeito com o comportamento da Iomega em relação à questão. Os usuários estão totalmente perdidos e descascam suas mágoas num volumoso board de iradas mensagens que é mantido pelo site não-oficial. Contudo, justiça seja feita: mais de um usuário relatou que recebeu de Cingapura um drive novinho grátis.
O problema é que tem muita gente completamente perdida e, a cada ligação que se faz para o suporte Iomega, são cobrados US$ 15, reembolsáveis caso o aparelho esteja realmente com problema. De qualquer modo, uma vez que a companhia não fornece informações adicionais sobre o defeito, é preciso sair lendo as centenas de mensagens dos usuários para pegar dicas e experimentar os macetes que eles sugerem. Uns, são brilhantes; outros, nem tanto.
Bruce, um dos visitantes do site, com anos de experiência como técnico de discos rígidos da Seagate Product Development and Failure Analysis, declarou-se bastante familiar com o defeito dos Zip drives. O sintoma dos cliques é exatamente o que experimenta um disco rígido quando perde a capacidade de ler a chamada "servo-trilha", o anel de informações que o cabeçote "servo" lê de forma a alinhar os outros cabeçotes exatamente em cima das trilhas de dados da superfície do disco. No caso do Zip disk, essa trilha se chama Z-Track e, se for perdida por algum motivo, a cabeça "servo" vai seguindo loucamente até o final do disco, batendo numa outra trilha chamada "end of travel stop" (parada do final da viagem). Repete o gesto e fica lá, dando cabeçadas na mesma trilha final, triste por ter perdido o alinhamento e produzindo os hediondos cliques.
Segundo os mais aptos no board, o defeito pode ocorrer devido a um "crash" físico, real, aquela situação em que o cabeçote de gravação aterriza sobre a superfície do disco, destruindo os dados gravados. Outra possibilidade é que a mola da cabeça servo esteja contaminada com partículas magnetizadas, necessitando de limpeza. Em casos assim, um disco com CoD pode propagar o defeito entre sucessivas unidades Zip. Também não é prudente inserir discos bons numa unidade doente. Segundo o Bruce, este problema é bastante comum com meios removíveis, sendo raro nos discos rígidos selados. Pelo que se vê, a facilidade e a conveniência que os Zip disks oferecem têm lá seu preço.
Bruce dá algumas dicas para nós, preocupados usuários. Em primeiro lugar, manter sempre os Zip disks dentro da capinha plástica. Poeira sempre será um inimigo mortal, pois suas partículas podem se chocar com os cabeçotes, causando um crash. Mantenha também seu Zip drive devidamente coberto, também para evitar poeira. Observe ainda que, nas especificações técnicas do Zip drive menciona-se temperatura, impacto e até altitude. Que surpresa, hein, altitude! A explicação é simples. A cabeça da unidade Zip flutua sobre um colchão de ar. Quanto mais alto estamos, mais fininho fica o ar e tornando-se menos capaz de sustentar o vôo dos cabeçotes. Uma partícula de poeira é centenas de vezes maior que a distância que separa a cabeça da superfície do disco, daí o perigo do excesso de pó.
Outro cuidado é o de jamais esbarrar, batucar ou mover o drive enquanto ele estiver funcionando. A superfície do disco é de alumínio rígido, diferente de um disquete comum, molenga. Portanto o Zip drive é mais sensível a impactos dessa natureza, com o agravante de que há duas cabeças posicionadas, uma em cada lado da superfície do disco.
Segundo nosso colega Erik Hook, é possível verificar visualmente a integridade de seu disco Zip. Num ambiente não-empoeirado, abra a portinhola metálica do cartucho de modo que você possa examinar a beira do disco que logo aparece. Vá girando o disco tocando apenas no fundo do cartucho (NUNCA NA SUPERFÍCIE EXPOSTA), naquela rodela metálica que o faria rodar quando estivesse na unidade. Se você detectar alguma parte da superfície que esteja torta ou áspera, descontinue de imediato o uso desse disco e entre em contato com a Iomega, pois a garantia que eles dão é permanente. E mais: se por desgraça ouvir um clique inesperado, e depois um segundo, aperte imediatamente o EJECT antes de ouvir o terceiro. Assim, provavelmente seu disco estará salvo.
Só 1% dos 12 milhões de Zip drives apresentou problemas
É o que diz a Iomega. Já é gente à beça: 120 mil almas enraivecidas com seus dados perdidos. Mesmo assim, o aparelho continua fazendo grande sucesso no mercado. A IBM japonesa <www.news.com/News/Item/0,4,19482,00.html> incorporou o Zip drive como opção padrão em suas configurações Aptiva. Minha unidade e meus disquinhos aqui estão firmes. Trato-os com carinho, mas pretendo fazer cópias redundantes de meus discos contendo dados mais críticos.
Antes de lhes passar dicas adicionais sobre como conviver bem com seu Zip drive, um pequeno parêntese para quem, por algum motivo, precisa ou precisou quebrar a password de um disco Zip. Visite o endereço <www.juip.com/crack.html> e aja por sua própria conta e risco. É notável apreciar as coisas de que é capaz um verdadeiro fuxiqueiro. Aí, garotada, vocês que ficam querendo ser hackers, aprendam nessa URL o que é uma autêntica fuxicada. Outro endereço que merece atenção é o de um colega nosso, de nome Alex Sotelo, que documentou minuciosamente o interior de Zip drives danificados e exibiu os resultados em sua página: <http://freenet.tlh.fl.us/~asotelo/badzips.html>. As fotos têm um clima um tanto ginecológico, mas ilustram bem os defeitos. De quebra, o Alex nos brinda em sua página com o processo penal que os usuários abriram contra a Iomega. Aliás, nosso amigo Paulo Vianna, também amedrontado diante das perspectivas, cavou um interessante relatório sobre os prejuízos que teve a empresa em 1998. O texto pode ser encontrado no seguinte endereço: <www.techweb.com/investor/story/INV19980316S0004>.
Manutenção preventiva pode evitar o clique da morte
Um usuário apelidado Minos, figura fácil no board do CoD, já abriu seu Zip várias vezes e não hesita em aplicar spray limpador de cabeça de vídeo em seu aparelho. Ele usa daquele tipo que não precisa de pano ou polimento, só o spray. Utiliza também um daqueles pincéis soprantes de fotografia, para eliminar poeira do interior da unidade. Já se habitou a repetir o procedimento a cada seis meses e também nunca experimentou o clique mortal.
Para formatar um disco Zip, use apenas os utilitários da Iomega. Disk Doctor, Speed Disk e similares podem estragar a Z-track e acabar com seu sossego. Se precisar desfragmentar um disco Zip, copie tudo para um outro disco, reformate o original e recopie para ele todo o material. Outra recomendação importante é tentar manter o tamanho dos arquivos abaixo dos 50 megas, quando usando um disco Zip. Arquivos maiores têm maiores chances de se corromperem com o tempo.
Olho aqui meio de banda para a caixinha azul do Zip, deitada quieta por trás do laptop. Ela parece inofensiva e pronta a me servir. Mas será que vai me deixar na mão um dia?
[ Voltar ]