O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: Echelon - Escrito em: 1998-03-25 - Publicado em: 1998-03-30


ECHELON - Será o Big Brother


Quando digo para ter cuidado com o que se diz ao telefone e recomendo trocar e-mail crítico em formato criptografado, tem gente que faz cara de escárnio e acha tudo isso paranóia. Mas os tempos em que espionagem era feita ao estilo James Bond já se foram. A coisa hoje é eletrônica pura. Em junho do ano passado, foi lançado o livro "Secret Power" (ISBN 0-908802-35-8), de autoria do jornalista investigativo Nicky Hager, que teve acesso a documentos secretos da Nova Zelândia. Neles, o autor descobriu que, no fim da década de 80, os EUA tomaram uma decisão de que mais tarde certamente se arrependeriam. Convocaram a Nova Zelândia para participar de um novo e altamente secreto sistema de vigilância global.

As investigações de Hager revelaram então um dos projetos mais abrangentes e mais secretamente guardados do mundo: o dicionário Echelon, um sistema que permite às agências de espionagem monitorarem a maioria das comunicações mundiais por telefone, e-mail, fax e telex. Microondas e rádio convencional, incluindo walkie-talkies, também já são monitorados há muito tempo.

Segundo Hager, por mais de 40 anos a maior agência de inteligência da Nova Zelândia, o Government Communications Security Bureau (GCSB), que é o equivalente à National Security Agency (NSA) americana, esteve auxiliando seus aliados a espionarem países na região do Pacífico, sem o conhecimento do público da Nova Zelândia nem de muitas de suas maiores autoridades. O que a NSA não podia saber é que, no fim dos anos 80, vários funcionários da inteligência decidiriam que estas atividades estariam se mantendo demasiado secretas por tempo demais e acabariam entregando de bandeja a Nicky Hager informações sigilosas, através de entrevistas e documentos revelando as atividades de inteligência da Nova Zelândia. Com o avanço dos trabalhos, mais de 50 pessoas ligadas ao projeto toparam dar entrevista.

As atividades que essa turma descreveu permitiram documentar, a partir do Pacífico Sul, sistemas e projetos que estavam sendo mantidos em segredo alhures. Dentre estes, o mais importante é o Echelon, de alcance mundial. Projetado e coordenado pela NSA, o Echelon é usado até hoje para interceptar comunicações ordinárias via e-mail, fax, telex e telefone trocadas pelas redes mundiais de telecomunicações. Diferentemente de muitos dos sistemas de espionagem eletrônica desenvolvidos durante a Guerra Fria, o Echelon foi idealizado primariamente para alvos não-militares: governos, organizações, empresas e indivíduos em qualquer país. Ele afeta potencialmente qualquer pessoa se comunicando internacional ou domesticamente, em qualquer lugar do mundo.

Não é novidade nenhuma que as organizações de inteligência bisbilhotam e-mail alheio e outras redes públicas de telecomunicações. O dado novo é a localização das estações e os detalhes de como o trabalho é feito.


Com o notável trabalho do Nicky, vieram a público capacidades e fraquezas do sistema Echelon e surpreendentes detalhes, incluindo nomes-código.

A rede do Echelon não foi projetada para espionar a correspondência individual de ninguém. O sistema funciona interceptando indiscriminadamente imensas quantidades de comunicações, fazendo uso de poderosos computadores para identificar e extrair mensagens de interesse de dentro da massa das informações cruas. Uma cadeia de instalações secretas de interceptação foi estabelecida ao redor do mundo para captar tráfego entre os maiores componentes das redes internacionais de telecomunicações. Algumas delas monitoram redes de comunicações baseadas em terra, outras espionam comunicações entre satélites, e uma outra categoria vigia mensagens de rádio. O sistema Echelon interliga todas essas instalações secretas, suprindo os EUA e seus aliados com a capacidade de interceptar grande parte das comunicações no planeta.

Os computadores em cada estação da rede Echelon vasculham através de milhões de mensagens interceptadas, em busca daquelas que contêm palavras-chave pré-programadas, que podem incluir nomes, localidades, assuntos e tudo o mais que merecer atenção das agências de inteligência. Cada palavrinha de uma determinada mensagem é pesquisada de forma automática, independentemente de um dado número de telefone ou endereço e-mail estar na lista ou não. Segundo conta o jornalista Nicky Hager, "as milhares de mensagens simultâneas são lidas em tempo real à medida que vão sendo pescadas em cada estação, a cada hora, a cada dia, enquanto os computadores encontram agulhas de inteligência no palheiro das telecomunicações".

Nesta rede, antes secreta, os computadores localizados nas estações são conhecidos como dicionários Echelon. Máquinas como estas, capazes de analisar fluxos de transmissões sugadas de redes de telecom, existem já há pelo menos 30 anos, mas o sistema Echelon foi projetado pela NSA para interconectar estes monstros e permitir às estações que funcionem como um todo. A NSA e o GSCB estão unidos em um acordo que envolve cinco países do grupo chamado Ukusa. Os outros três parceiros, com nomes igualmente obscuros, são o GCHQ (Government Communications Headquarters) da Grã-Bretanha, o CSE (Communications Security Establishment) do Canadá e o DSD (Defense Signals Directorate) da Austrália.

Esta aliança, que cresceu durante a Segunda Guerra Mundial para interceptar transmissões de rádio, foi formalizada no acordo Ukusa em 1948 e tinha como alvo primeiramente a então União Soviética. As cinco agências Ukusa são hoje em dia as maiores organizações de inteligência em seus respectivos países. Com a maior parte dos negócios se fazendo atualmente através de fax, e-mail, telefone e telex, espionar estas comunicações proporciona recursos inestimáveis de dados estratégicos para inteligência.

Muito antes do aparecimento do Echelon, havia um trabalho cooperativo entre nações nesse campo, mas cada agência processava e analisava as informações coletadas em suas próprias estações. Hoje, este processamento é distribuído e as vastas massas de dados circulam entre os aliados de acordo com as palavras-chave de interesse para cada agência.

O livro "Secret Power" não está à venda nas livrarias, mas pode ser encontrado na Web com capa dura por US$ 49,95 em <http://infowar.com/cgi-shl/infowar.exe>. Clique em "Bookstore" e divirta-se. (Aliás, tem cada livro nesse site, que vou te contar!) Se quiser comprar por e-mail ou por telefone, a US$ 33, contate a Covert Action Quarterly <caq@igc. apc.org>, voz: +001 (202) 331-9763, fax: +001 (202) 331-9751. O endereço da empresa é: Covert Action Quarterly; 1.500 Massachusetts Ave NE #732; Washington, DC 20005, USA.


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