O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: Tech-Ed 98/New Orleans - Escrito em: 1998-06-05 - Publicado em: 1998-06-22


Tech-Ed 98 New Orleans


Semana passada em New Orleans, naquele calor da peste, para qualquer lado que se olhasse na rua havia um camarada com jeitão de adepto da Microsoft. Para confirmar, bastava olhar o crachá do sujeito: Tech-Ed 98 <www.microsoft.com/events/teched>, a super-conferência técnica para usuários e desenvolvedores empenhados em soluções completas para Windows. Foram cinco dias de concorridíssimas palestras e sessões tipo "mão-na-massa" em que a ávida audiência travou contato com as últimas ferramentas microsoftianas e de terceiros, além de tecnologias de ponta para construção de aplicações. Foram 8.800 fanáticos por Windows se acotovelando no centro de convenções da cidade do jazz, em mais de 250 sessões técnicas que variaram desde explicações estratégicas até pesadas atividades práticas reservadas aos verdadeiros experts. As sessões englobaram as áreas técnicas mais importantes da Microsoft: comércio, análise e acesso a dados, aplicações de negócios, mensagens, trabalho cooperativo, publicações, gerência de conhecimento, controle e adrminstração de redes. A expectativa pela versão 5.0 do NT era grande, com palestras especiais para desenvolvedores e outras para administradores.

Steve Ballmer, vice-presidente executivo de vendas e suporte, abriu os trabalhos anunciando importantes iniciativas de interoperabilidade, relacionadas ao conceito de COM (Component Object Model), ao MTS (Microsoft Transaction Server) e também à ligação mais estreita entre o Microsoft SQL Server 7.0 e a próxima versão do Office. Steve anunciou também um parrudo programa de treinamento em SQL Server para DBAs (Database Administrators - Administradores de Bancos de Dados), orçado em US$ 20 milhões. Falou também sobre a Developer Punchlist, uma lista de pendências para as equipes internas da Microsoft incorporando os desejos da comunidade de desenvolvedores Windows.

Neste evento, cujos patrocinadores oficiais foram: Compaq, Compuware, Digital, Everex, Hewlett-Packard, IBM, SAP, Seagate Software, Sony e Synon, o mais importante para os participantes foi a oportunidade de ouro de trocar calor com as equipes de desenvolvimento da Microsoft em carne- e-osso, uma rapaziada extremamente dinâmica e competente, sempre pronta a ouvir o que os usuários tinham a dizer, suas reivindicações e zangas. Para a Microsoft também foi uma boa chance para sentir o mercado e conhecer os anseios da comunidade usuária. O pavilhão da exposição reuniu 275 empresas ligadas de alguma forma à Microsoft, oferecendo um vastíssimo leque de soluções e produtos. O visitante que se empenhasse em levar tudo que distribuiam nos estandes sairia com uma pilha de quase um metro de CD-ROM's. E como todo mundo era usuário pesado de Internet, havia um salão com mais de 700 estações penduradas à rede, disputadas a tapa, onde os fissurados podiam ler seu e-mail e navegar confortavelmente pela Web. A lojinha da conferência ocupava grande espaço em um dos pavilhões do show, oferecendo na seção de livraria uma superabundância de títulos sobre software da "Pequena-Mole", a preços bem atraentes.

Participar de um acontecimento como esse é uma experiência assaz interessante. Em primeiro lugar, o perfil do usuário é aquele típico de um "nerd" informático, aquele fera em computação, com cara de doido, sedentário, meio obeso e pouco chegado à conversa. Bem, quero dizer conversa comum, porque se o papo fosse sobre máquinas, programas e ferramentas Microsoft, os camaradas falavam pelos cotovelos. O assunto não era outro, nem no café da manhã, no almoço, no jantar, no mictório, nos corredores, na rua ou mesmo nas festas de jazz que a Microsoft promoveu. Numa dessas festanças, em que os participantes iam sendo entupidos de comida, beberagens e falatório microsoftês, abriram um imenso pavilhão com três ambientes, imitando as cidades de Nice (França), Yokohama (Japão) e Acapulco (México). Havia grandes mesas redondas com cartazes indicando o nome de cada produto Microsoft ligado à família Windows. Em cada uma dessas mesas, havia dois ou três mancebos da Microsoft munidos de poderosos laptops, e cercados por um monte de urubús babando por informações, dicas e previsões sobre os novos lançamentos de software.

Terminados os trabalhos do dia, era só dar uma chegada na área de badalação da cidade, a Bourbon Street, para dar de cara com os marmanjos da conferência, todos já mais ou menos mamados, entrando de bar em bar, dançando e jogando colares de contas para as meninas mais jeitosas, no intuito de convencê-las a executar rápidas manobras de topless, para delírio dos atentos transeúntes.

Muitos dos participantes aproveitaram o Tech-Ed 98 para fazerem os temidos exames de capacitação da Microsoft, que os habilitaria a ostentar os invejados títulos profissionais homologados pela empresa: MCP (Microsoft Certified Professional), MCSE (Microsoft Certified Systems Engineer) e MCT (Microsoft Certified Trainer). Eram intermináveis filas de gente obviamente nervosa, esperando sua vez para adentrar os amplos salões de prova onde conseguiriam ou não lograr seu intento.

O evento Tech-Ed de New Orleans em 1998 foi apenas uma das muitas conferências internacionais que irão se verificar neste mesmo ano em diferentes pontos do globo: Austrália, China, Cingapura, Coréia, Europa, Hong Kong, Índia, Japão, México, Nova Zelândia e Taiwan. (Notaram alguma ênfase na região asiática?) Uma vez que a Microsoft se empenha bravamente em levar os resultados dessa conferência ao maior número possível de desenvolvedores, ela bolou o "Microsoft at the Movies", em que serão exibidas palestras em diversos cinemas nos EUA e Canadá, em 30 de junho corrente. Por US$ 79 os interessados poderão assistir a diversas sessões gravadas e receberão um polpudo CD-ROM com o material gerado no evento. Maiores informações em <www.microsoft.com/events/msmovies>.

A ênfase na conferência foi dada às aplicações DNA e aos lançamentos do Windows 98 e do NT 5.0, além do questionável vaporware sobre o Internet Explorer 5.0. Mas dentre a gama de soluções fornecidas, a quantidade de produtos e frentes tecnológicas de software para Windows apresentadas no Tech-Ed 98 é simplesmente exasperante. As palestras mais concorridas foram todas as ligadas ao NT 5, ao ano 2000, ao Visual Interdev e ao notável pacote Visual Studio 6.0.

Sem dúvida, o Tech-Ed 98 foi um acontecimento memorável. Logo antes do final do evento, com o show do Steve Winwood e do Chip Trick no estádio Super Dome de New Orleans (sem comentários!), o grande momento foi a esperada palestra do chefão Bill, cuja personalidade é cultuada como a de um semideus pelos crédulos participantes. Ele fez um discurso de visionário, falando sobre o "Digital Nervous System" <www.microsoft.com/digital_nervous_system> e sobre como esse ambiente tecnológico irá afetar nossas vidas. Pena que o pobre homem rico nem se deu ao trabalho de se despencar até a calorenta cidade: deu sua palestra via satélite.


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