O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 210 - Escrito em: 1995-07-20 - Publicado em: 1995-04-03


Fax via e-mail


Quem leu o Conde de Monte Cristo decerto se lembra do "Confiar e Esperar". Na Internet também vale o escrito. Basta que a idéia seja boa para que, dando tempo ao tempo, ela vá passando de boca a ouvido, de mailbox a mailbox, até se tornar famosa. O PGP, por exemplo, começou assim. Meia dúzia de gatos pingados começaram a usá-lo, fizeram discreta propaganda em suas sigs (assinaturas de mensagens e-mail) e a criptografia chegou até as massas.

Uma outra brilhante bolação surgiu da cachola de dois sujeitos: Carl Malamud da Internet Multicasting Service e Marshall Rose da Dover Beach Consulting, Inc. Eles iniciaram em 1993 um experimento que acabou se transformando em um grandioso projeto atualmente em contínua expansão na grande rede. Seu objetivo é integrar o sistema já existente de e-mail com a comunidade de fax. Trabalhando juntos, muitos sites podem cooperativamente prover acesso à rede telefônica internacional através do que se chamou de "remote printing" (impressão remota). Em resumo, você pode enviar fax via e-mail. A infraestrutura descentralizada do e-mail Internet se encarrega de todo o roteamento, enviando a mensagem ao gateway de impressão remota apropriada, de maneira totalmente transparente para o usuário.

Partidários de que o fluxo de informações deve ser livre para todos, os dois pioneiros acreditavam que provendo acesso fácil aos destinatários via impressão remota, a comunicação universal será muito mais fácil, independente do tipo ou do tamanho das instituições envolvidas no fluxo de dados. É uma abordagem universalista que poderá tirar o sono de alguns gigantes da telecomunicação, mas sem dúvida já é uma realidade e cada vez mais sites estão aderindo ao sistema.

Existe uma mailing list, caso a leitora queira se manter informada sobre o assunto. Basta enviar e-mail para este endereço na Austrália: [email protected]. Para obter todos os detalhes sobre este fabuloso projeto, basta enviar e-mail para [email protected] e receberá um detalhado FAQ (Frequently Asked Questions: lista de perguntas mais comuns e suas respostas) em sua caixa de correio.

Vamos colocar a coisa em termos práticos. Por exemplo, para enviar um fax para seu mestre de Tae-Kwon-Do em Seul, Coréia, bastaria enviar e-mail começando assim:

To: [email protected]

No corpo da mensagem deve ir o texto do fax. Os outros headers (cabeçalhos) Internet funcionam normalmente. Observe que a estranha tripa de algarismos acima corresponde, em ordem invertida, ao fictício número 82 (2) 512-5234, onde 82 é Coréia, 2 é Seul e 512-5234 é o telefone. Esta mensagem seria enviada normalmente via Internet e, chegando lá em Seul, um servidor a interceptaria e transmitiria um fax ao destinatário. Assim que a transmissão terminasse, o servidor lhe remeteria uma nota indicando que tudo correu bem. Espantada, cara leitora? Não a culpo, a simplicidade é revoltante.

À esquerda do arrôba (@), temos um indicador do tipo de acesso ("remote-printer") seguido do nome do destinatário ("Lee_Tak_Gong"). Alguns processadores de e-mail têm problemas com os caracteres "espaço" e "newline", portanto eles devem ser substituídos no cabeçalho "To:" pelos caracteres "_" (sublinhado - ascii decimal 95) e "/" (barra normal - ascii decimal 47), respectivamente. Desta forma, quando a folha de rosto do fax for gerada a partir do cabeçalho "To: " da mensagem Internet, todo caractere "sublinhado" vai se transformar num espaço e todo caractere "barra normal" vai virar uma quebra de linha.

À direita do arrôba, como já vimos, temos o número invertido do fax destinatário, separado por pontos, seguido do string fixo "tpc.int".

A leitora perguntará: "E isso vale para qualquer cidade do mundo?". Caia na real, prezada. O notável experimento começou em 16 de julho de 1993 e a cobertura naquela época era a capital da Austrália e alguns poucos area-codes nos EUA. De acordo com a listagem mais fresquinha, que pode ser obtida mandando qualquer mensagem para o endereço [email protected], o sistema está atendendo a diversas localidades. A cobertura está longe de ser global, mas já se pode acessar lugares interessantes como: Australia (+61: Canberra, Melbourne e Sydney, entre outros); Canada e EUA (+1: area-codes 202, 212, 301, 310, 313, 317, 408, 410, 412, 415, 508, 510, 516, 608, 613, 617, 707, 714, 718, toll-free 800, 810, 813, 818, 819, 909, 917 e 919); Grécia (+30); Dinamarca (+45: Lyngby); Alemanha (+49: Universidades de Dortmund e Hagen); Japão (temporariamente fora de serviço); Coréia (+82: Seul); Nova Zelândia (+64); Portugal (+351: Lisboa); Reino Unido (+44: Universidades de Oxford, Manchester e Loughborough); Suécia (+46) e Taiwan (+886: Tauyuan).

O crescimento desta rede informal se deve às iniciativas pioneiras de diversos sites, sejam eles empresas, universidades e agencias governamentais que estão se pendurando ao sistema. Em cada uma das localidades acima existe um site Internet que se "registrou" no sistema como uma "célula", indicando a porção do espaço telefônico internacional que ela ocuparia. Uma célula pode englobar um continente, um país, um estado, uma metrópole, um campus, um prédio ou um único número telefônico.

É possível enviar imagens ao invés de apenas texto. Isso é feito através do formato MIME, que é suportado pelos servidores de impressão remota, sob os seguintes tipos: text/plain, message/rfc822, application/postscript, image/tiff e multipart. Para quem não sabe, MIME é um daqueles formatos que codificam diversos tipos de arquivo, transformando-os em "tijolos" de texto puro, de forma que possam ser enviados via e-mail.

Se a leitora estiver interessada em operar um servidor de impressão remota em sua localidade, bastará ter um computador pendurado à Internet, um fax/modem, uma linha telefônica, um software de fax spooling e dispor-se a operar a célula de acordo com as políticas do projeto, que abrangem temas como funcionalidade, honestidade, recuperação de custos, performance, eficiência, segurança e legalidade. Se a leitora desejar detalhes técnicos adicionais, deverá ser uma verdadeira "gurua" Internet e poderá obtê-los na RFC 1486: "An Experiment in Remote Printing".

O gateway jamais garante que um fax chegará ao destino, especialmente se o remetente começar a exagerar nas remessas. Existem espertinhos em todo canto do planeta e o sistema está devidamente preparado para vetar acesso a sites ou a cafumangos que abusarem da facilidade. Quanto à segurança, não convém enviar fax secreto através deste gateway.

O mundo do fax via Internet é vasto. Outros sistemas existem, uns gratuitos ou não. Existem até gateways especiais para Moscou e Hong Kong. Não cabe tudo aqui, é claro. Sugiro enviar e-mail para [email protected] com subject "subscribe" e você receberá um completíssimo FAQ sobre o assunto.

Aqui no Brasil, foi a turma de Recife que deu o pontapé inicial, muito embora ainda estejam fora do sistema internacional de impressão remota. Para enviar fax para aquela maravilhosa cidade, basta enviar e-mail para a Escola Americana de Recife <[email protected]> ou para o Time Tunnel BBS <[email protected]>. No subject, coloque o número do fax recifense, no formato XXX-XXXX e, no corpo da mensagem, coloque o texto do fax. O serviço é gratuito, mas só atende à cidade de Recife.


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