O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 227 - Escrito em: 1995-07-27 - Publicado em: 1995-07-31


Novos bárbaros


Outro dia desses, chegando aqui na portaria do laboratório, vi parada a Kombi da Net. Não falo da Internet e sim da Net, a TV a cabo. Estavam fazendo a instalação num prédio perto daqui e havia dois técnicos fazendo uma emenda no cabo. Pedi para dar uma examinada na fibra ótica e fiquei maravilhado com a delicadeza do fiapinho. Coqueluche que só há pouco começou a encher os olhos do nosso pessoal, lá fora TV a cabo não é novidade. Imagem e som quase perfeitos, programação sensacional e muita gente aqui começa a reclamar do dia só ter 24 horas.

Nos EUA, muitas e muitas são as residências penduradas ao sistema de TV a cabo. O que se tem é uma imensa rede de fibra ótica gradualmente fechando sua malha em torno do geóide civilizado. Por aqueles feixezinhos de luz atualmente viajam apenas sinais de TV em sentido único, ou seja, da emissora para os telespectadores. No futuro, muitos outros fluxos de informações irão compartilhar este meio físico, entre eles a TV interativa, em que os espectadores enviam sinais de volta para a emissora, podendo interagir de algum modo com os programas que recebem. Outra maravilha que poderá chegar até nossas casas através desses mágicos cabos de fibra ótica é a Internet, ou seja lá qual for seu nome quando isso acontecer. Considerando que os serviços online estão baixando loucamente de preço e com mais e mais badulaques sendo oferecidos aos usuários, é de se esperar que o número de assinantes aumente cada vez mais, massificando o mercado.

Quem leu as sábias palavras de Lady Liskauskas na semana passada, está a par da paulada que será a MSN - MicroSoft Network - que vem entrando de sola por ocasião de seu lançamento, dia 24 de agosto próximo. Vejamos o preço da assinatura mensal nos EUA de seu concorrente, o America Online, um dos provedores gigantes de serviços: US$ 9,95. A MSN entra detonando, cobrando só US$ 4,95 por mês, ou seja, os outros grandalhões vão ter que rebolar para acompanhar o pique, se puderem.

Nosso velho amigo-gênio Américo Oliveira esteve semana passada numa mega-reunião da MicroSoft em Toronto, Canadá, e de lá me enviou um e-mail todo cheio de pingos de baba. Pilotou horas a MicroSoft Network e ficou vivamente impressionado com o que viu. Entre outras maravilhas, navegou online e faceiro pelo Bookshelf, Encarta, America's Cup (revista de vela e motor), United Nations, Golf Digest e Runner's World - tudo com aparência de produto comercial, tipo a que se vê nos CD-ROM's. Visitou também o fórum de Fórmula-1 entre muitos outros e constatou que a coisa é mesmo de deixar qualquer fã de cabelo em pé.

Apesar de toda essa maravilha, há dois grandes desafios para fazer emplacar esse novo sistema da MicroSoft. O primeiro deles - já quase vencido - é a facilidade de instalação. Famílias inteiras de novatos vão querer se plugar e rápido. É imenso o potencial de encrenca com essa turma neófita metendo disquetes de instalação em seus micros. Vão se embananar todos. Porisso, a MicroSoft já enfiará o software nas máquinas antes delas irem para os lares de seus felizes clientes. O mesmo se dá nauadêis com DOS e Windows, e continuará acontecendo com Windows 95, que trará MSN prontinha para uso, bastando ao usuário clicar no lugar certo. Imagine comprar sua maquineta, ligá-la na tomada e num piscar de olhos se ver navegando pelas teias da Internet.

O segundo probleminha é um pouco mais sério. De acordo com a Forrester Research, uma empresa norte-americana de pesquisas, dentre os que assinam serviços online, cerca de 30 a 50% dos usuários caem fora depois de alguns meses. Alguns acham a conta demasiado salgada, outros concluem que o serviço em nada melhora suas vidas.

Para segurar o usuário pelo cabresto, a MicroSoft planeja criar uma imensa variedade de ofertas de produtos classe A, como sempre permitindo a terceiros desenvolverem aplicações de alta qualidade seguindo o padrão da MicroSoft. As novas versões dos grandes aplicativos MS estarão oferecendo acesso embutido à Internet via MSN. Um clique no lugar certo dentro de um documento Word e você poderá enviar o texto via e-mail para um companheiro em outro país. Ou mais, um clique num ícone especial de uma planilha e você poderá abrir, numa janelinha em sua tela, um videopapo online via Internet com um colega seu do outro lado do mundo. Quanto ao conteúdo da MSN, podemos esperar coisa grande também. Os parceiros da MicroSoft irão ocupar esse espaço rapidamente, funcionando como verdadeiras revistas e jornais digitais em hipermídia. Espera-se que até a virada do ano, a MSN terá cerca de 1,3 milhões de assinantes.

Para quem frequenta newsgroups Usenet, todo esse frisson faz lembrar a época em que o América Online abriu suas porteiras e soltou sua turba na grande rede. O tráfego aumentou e os newsgroups se viram coalhados de novatos barulhentos, baderneiros e enchendo a rede com aquelas mensagens "Hehehehehe, estou aqui!" Imagina-se que, com a Microsoft Network estourando no pedaço e os preços baixando do jeito que estão, uma nova horda de bárbaros deverá invadir a aldeia. Reclamem e esperneiem o quanto quiserem, pois eles vêm com toda força. Mas cá entre nós, essa agitação é que, para muitos, é a graça do negócio. Que venham os bárbaros.


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