O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
256
- Escrito em:
1996-07-16
-
Publicado em:
1996-07-22
Cuidado com a biometria
É uma verdadeira avalanche sufocando a gente, mas mesmo assim o pessoal parece que nem se dá conta das transformações e mudanças. Para a maioria de nós, aficcionados pela informática, as coisas estão ótimas do jeito que estão. Na verdade, quanto mais rápido o ritmo de mudanças, melhor. Uma versão nova aqui, outra ali; um novo site hoje, dez novos sites amanhã; lançam um Pentium novo agora, outro duas vezes mais rápido semana que vem, e a roda viva continua.
Sabemos o quanto melhorou nosso acesso à informação com esses avanços fantásticos na ciência dos computadores e nas grandes redes que hoje envolvem o mundo. Mas tem gente muito procupada com os efeitos a longo prazo que podem ter estes aparentemente benéficos aprimoramentos tecnológicos.
É altíssima a probabilidade de uma nova invenção ser primeiramente utilizada para o mal. Sobejam exemplos. Só depois de muita cabeçada, depois de muita tirania e crimes contra a humanidade, é que alguém tem a brilhante idéia de usar a dita invenção em proveito da raça humana.
Um sujeito norte-americano entra em qualquer lojinha num shopping nos EUA e, pelo número do Social Security (documento que traz um número único para cada cidadão, tipo o nosso CPF) o balconista fica sabendo de todo o seu perfil de consumidor, sua renda, o tamanho de sua família, hábitos de compra e diversos outros detalhes sobre sua vida. São os gigantescos bancos de dados corporativos, cheios de informações sobre você e os seus.
Imagine agora um pesquisador clicando o mouse e recuperando em frações de segundo todo o registro histórico escolar de um determinado indivíduo, sem seu consentimento. Isto incluiria quais escolas freqüentou, suas notas em todas as disciplinas, seu comportamento, as punições que sofreu e suas habilidades e inabilidades físicas e emocionais.
O jornal Denver Post (http://www.denverpost.com) anunciou recentemente a proposta feita diante do Colorado Board of Education: montar um grandioso banco de dados centralizando informações sobre 656 mil estudantes naquele estado. Cada distrito forneceria as informações via Internet para o departamento responsável pela coleta de informações, tudo pendurado no nome de cada aluno e no seu número de Social Security, ou coisa que o valha. Que beleza, não?
Daí para a moda se espalhar por todos os EUA é apenas questão de tempo. E como macacos de imitação, poucos anos depois vai acontecer o mesmo aqui e em todo canto dito "civilizado". Ora diacho, já não estão nos convencendo que a solução para a educação no Brasil é "um micro em cada sala de aula"? O próximo passo seria o inevitável intercâmbio de informações entre escolas, depois agências de serviço social, agências de saúde, agências de segurança, instituições militares e então as grandes empresas e corporações.
Se a leitora pensa que isso tudo é bobagem e não há motivo para preocupação, decerto sentirá cãibras na orelha quando eu lhe contar sobre os maravilhosos bancos de dados biométricos. Bio é vida, e métrico é medida. Aí se encaixam todos os dados físicos que podem identificar univocamente um ser humano. Dimensões dos ossos, impressões digitais, padrões da retina e por aí vamos.
Em julho passado, a prefeitura de Toronto, no Canadá, adotou a técnica de Fingerscanning (digitalização de impressões digitais) como padrão para identificar usuários do sistema de seguridade social. Espera-se que em breve o sistema seja adotado em todo o país. Por enquanto o método não será obrigatório em Toronto, mas os contribuintes já foram avisados que, os que não se submeterem ao "escaneamento" do polegar terão seus cheques atrasados e passarão por verificações adicionais para identificação.
Adivinhe, leitora, isso mesmo: em pouco tempo teremos imensos bancos de dados com nossos dedinhos digitalizados. Encoste no lugar errado e na hora errada e espere uns sujeitos sinistros batendo à sua porta numa noite chuvosa e fria. Os grupos ativistas canadenses, cientes das implicações dessa nova gracinha, já estão chutando o teto. Sintonize em http://tdg.uoguelph.ca/~lilith/gcac/ para saber mais sobre o movimento.
Nossa privacidade pode ser seriamente ameaçada com a construção desses grandes bancos de dados biométricos centralizados. Iniciativas aparentemente positivas podem, a longo prazo, servir como modos de gradualmente alimentar sistemas desse tipo.
Para lhe deixar com apenas mais uma pulguinha atrás da orelha, e fazê-la ter pesadelos com bancos de dados biométricos monstruosos, vou contar o que achei no The Mouse Monitor, da Scope International (http://www.britnet.co.uk/scope). Certamente a leitora já usou aquelas salvadoras maquinetas do Banco 24 Horas, que lhe tiram do sufoco quando lhe acaba a grana. Pois bem, sabe quando você enfia sua linda mãozinha naquele gabinete onde introduz seu cartão do banco? Pois é, querem implantar um scanner que vai digitalizar o padrão de veias da sua mão. Armazenam esta imagem e montam um sistema anti-fraude para quando um eventual gatuno quiser usar seu cartão roubado. O número do cartão não bateria com a imagem das veias da munheca da leitora e o fraudador seria capturado. Quem sabe eles bolam até umas algeminhas que pulariam da máquina e prenderiam o safado no ato?
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