O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 270 - Escrito em: 1996-10-22 - Publicado em: 1996-10-28


O ouro negro da discórdia


Estava meio perdido aqui pelo Texas. Meu mapa voou e fui me guiando pelo cheiro. Quando o ar ficou salgado, ví que estava perto do mar, na cidade de Corpus Christi. Tinha uma seta para a TAMU-CC (Texas A&M University at Corpus Christi <http://www.tamucc.edu>) numa bela ilha chamada Ward Island e resolví entrar, em busca de um acesso à Internet para ler meu e-mail pendente. Com isso, acabei assistindo a uma deliciosa palestra do Dr. Patrick Michaud <[email protected]>, ilustrando uma curiosa aplicação da Web que vou contar para vocês.

Como se sabe, essa é uma terra cheia de petróleo. Até no campus da Universidade de Austin já perfuraram poços. Antigas pelejas entre o estado do Texas e os proprietários de terras arrastam-se há décadas, tudo em função dos royalties sobre o ouro negro. Só como exemplo, existia uma disputa jurídica entre o estado e uma imensa propriedade privada chamada Kenedy Ranch [copydesk: Kenedy com 1 "n" mesmo]. A questão era definir com exatidão a linha da costa, para ver quem ficaria com os royalties. No final das contas, o estado acabou ganhando a briga graças às pesquisas conduzidas aqui na TAMU-CC pela turma do Dr. Michaud. Se quiser acompanhar a pancadaria, vá ao Altavista, faça uma "advanced search" com "kenedy near ranch" como argumento de pesquisa e você poderá ler o desenrolar dos acontecimentos pelas notícias nos jornais. As cifras envolvidas eram da ordem de 4 bilhões de dólares. Nada como uma montanha de grana como essa para motivar um patrocínio pesado às pesquisas da universidade. Como aplicações do setor de informática, as áreas de GIS (Geographic Information Systems) e de Meio-Ambiente são bastante fortes aqui na TAMU-CC, especialmente nas políticas de prevenção de derramamento de óleo no mar e outras questões ecológicas.

Se você não sacou bem onde é que universidade entra nessa historia, eu explico. As terras do Kenedy Ranch ficam à beira-mar. Em função das marés e do fato de o terreno na orla ser demasiado plano, a linha da costa varia bastante e fica complicado dizer onde terminam as terras da fazenda e onde começam as terras submersas, que são propriedade do governo de Texas. Graças a mais de 40 estações oceanográficas, foi possível estabelecer um traçado médio da famigerada linha. Os dados dessas estações incluem: nível de maré, velocidade e direção do vento, pressão barométrica, temperatura do ar e da água, salinidade e mais um monte de coisas. O grande barato é que tudo isso está disponível online na Web. Visite <http://tcoon.cbi.tamucc.edu/folders> para saber os códigos numéricos das estações e aponte para <http://tcoon.cbi.tamucc.edu/data> para visualizar gráficos comparativos, informando os números das estações desejadas (no campo "Stations" informe algo do tipo "001,004,006"). A equipe da TAMU-CC tem que manter essas estações funcionando quase sem parar. Nenhuma delas pode ficar parada por mais de 72 horas, pois se isso ocorrer, a série de dados históricos acumulados nos últimos 19 anos tem que ser abandonada. Todas essas informações históricas sobre as estações também estão disponíveis na Web.

Fica como tema para os sonhos da leitora esse anfiteatro super-arretado numa universidade novinha nos EUA. Equipamentos de primeira linha à disposição de todos, alunos e professores. Durante a palestra, o Dr. Michaud ligadão na Web, clicando o mouse feito doido e buscando uma página nova para cada pergunta feita. Segundo ele, antes desse boom, ele entrava numa apresentação dessas carregando um imensa pilha de transparências, pois nunca sabia o que a platéia iria pedir. Hoje, basta ter uma memória mais ou menos afiada, digitar um URL no Netscape e aparece no ato o mapa, tabela ou foto que ele necessita. O formato empregado na Web facilita não só a consulta aos dados históricos, mas também eventuais atualizações. Nenhuma ferramenta bodosa de apresentação foi usada na palestra. Era Netscape purinho da silva. Ah, Mr. Gates, te cuida minino.

Um outro sistema, chamado WindInfo, também está pendurado nessas estações de coleta de dados oceanográficos. Já funciona há 5 anos, informando por telefone as condições de vento na baía de Corpus. Para maiores informações sobre o sistema, visite <http://www.cbi.tamucc.edu/projects/windinfo/windinfo.html>. Dados gerais sobre a tal baía podem ser encontrados em <http://www.sci.tamucc.edu/ccbnep_old/casteel.html>. Mais que os pescadores e cientistas, a grande clientela do WindInfo é a turma do windsurf da região. O pessoal é animadíssimo e, só em 1994, foram feitas 75 mil chamadas. A oferta desse serviço via Web é questão de semanas, pois as homepages estão em fase final de preparação. Imagino os windsurfistas com seus laptops enfiados dentro da sunga, acessando a Web via celular para saber se vai ter vento bom.


Quanto usuário ou empresa acabou de preparar uma linda árvore de páginas Web e não sabe como divulgar esse trabalho. Imagine sua homepage fazendo parte de 416 search engines e você enviando e-mail automático anunciando seu novo URL para 1952 indivíduos interessados. Isso é possível através de um serviço chamado PostMaster. Aponte seu browser para <http://www.NetCreations.com/postmaster/>


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