O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
273
- Escrito em:
1996-11-13
-
Publicado em:
1996-11-18
OnStar versus Rescu
Aproveitei essa última viagem a San Francisco e fui visitar meu tio-avô bilionário. Velhinho simpático, Tio Severino emprestou-me seu Cadillac último tipo e me entregou um número telefônico "toll-free" para o caso de algum problema com o carro. Saí feito doido pelas estradas, mas num McDonald's desses tranquei a porta com a chave dentro. Liguei para o tal número 1-800, informei a placa do carro e em dois segundos a telefonista abriu a porta do carro via satélite. Ah, peraí CAT, assim já é demais!
Olha, leitora, é lorota mesmo, mas nem tudo. Se você quiser pagar mais mil pilas na hora de comprar seu Cadillac 97 zerinho, e mais uma taxa mensal de serviços, você leva esse sistema chamado OnStar, desenvolvido pela Delco, em conjunto com a EDS e com a Hughes Electronics. A coisa funciona lindamente, graças a um sofisticado computador de bordo, sensores eletrônicos instalados no carro e um sistema bidirecional de comunicação baseado em telefonia celular. Basta ligar para um número gratuito e a telefonista, diante de um sistema GPS (Global Positioning System), pode acionar comandos no seu automóvel. Apenas para quem não está por dentro, esse tal GPS é um sistema de posicionamento baseado em satélites que ficam orbitando lá em riba. Um aparelhinho besta aqui na terra envia e recebe sinais desses satélites e, como resultado, sua posição no globo terrestre é determinada com uma precisão de cair o queixo. Imagina o conforto, você falando com aquela operadora de voz melosa, ou acionando comandos por reconhecimento vocal, sem precisar ocupar suas munhecas enquanto estiver dirigindo. E pode carregar no sotaque que o software não se engana.
O OnStar foi introduzido no Cadillac Seville 96 e as inovações não páram por aí não. Suponha que lhe entre um cisco na vista e você venha a beijar um poste à beira da estrada. Seu air-bag infla no ato e você está a salvo -- será? No mesmo instante um sensor no seu carro informa o acontecimento à central OnStar (em Farmington, Michigan) e a gentil telefonista liga de volta para o seu celular para saber se você está bem. Se você não atender logo, a moça despacha imediatamente ambulância e polícia para o local. Isso pode significar a diferença entre vida e morte, no caso de um acidente mais grave.
O ladrão afanou a sua máquina? Tem problema não, basta ligar para o número mágico e o pessoal passa a acompanhar o trajeto do carro via GPS e o larápio, se não for esperto de largar o carro rapidinho, vai logo em cana. Outra cena: a leitora se enrola com o mapa e se perde numa estradinha terciária lá no interior do Alabama. Tudo bem, ligue para a central OnStar e receba instruções detalhadas sobre como se encontrar novamente no mapa. Aperte um botão e grave as instruções ditadas, podendo reproduzí-las mais tarde quando estiver dirigindo. Como se não bastasse, você pode reservar hotéis, restaurantes, vôos e até encomendar entrega de flores através do OnStar. Esqueceu onde parou o carro num daqueles estacionamentos monstruosos? Ligue para a central e eles fazem os faróis piscarem e a buzina tocar até que você abra a porta. E tudo isso sem que o hardware nem o software apareçam no veículo, especialmente as antenas que serviriam como chamariz para capiangos e vândalos. Em versões futuras, o OnStar irá até acompanhar periodicamente o funcionamento do veículo através de diagnósticos remotos e sistemas de controle.
A Ford oferece coisa semelhante, mas sem esse chiquê todo. Seu sistema chama-se RESCU (pronuncia-se "réskiu", som que lembra "rescue" = resgate) e foi introduzido no automóvel Lincoln Continental 1996. A central RESCU fica em Dallas, Texas e acompanha eventos desagradáveis no veículo, tais como falha mecânica, bateria morta e tanque vazio. Basta premir um botão e o socorro é acionado. Apesar de oferecer menos perfumarias que o OnStar, o RESCU custa bem mais: US$ 1.995. Mas leve-se em conta que no preço do RESCU o celular já está incluído e não há taxas mensais de serviço.
Uma das falhas gritantes de ambos os serviços é o fato de você precisar estar dentro da área de atendimento da telefonia celular convencional. Mas com os celulares via satélite, o caso estará encerrado. Outros avanços tecnológicos já estão na fila de espera, como por exemplo sistemas de advertência de colisão por radar, também da Delco, que serão instalados nos automóveis Toyota nos próximos cinco anos.
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