O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 288 - Escrito em: 1997-02-22 - Publicado em: 1997-03-03


Pensando no futuro


Mamãe, pode parar de ler que esse é daqueles. Aham, bem, vocês ficam aí se divertindo com a Internet, navegando prá lá e prá cá feito doidos e talvez nem se toquem com a complexidade da estrutura que está por trás desse brinquedinho fascinante. O sistema já dá mostras de falência e tem gente muito preocupada com o futuro, bolando novas formas de viabilizar a sobrevivência da coisa toda.

Uma das iniciativas é a definição de um novo protocolo, o IPv6, ou Internet Protocol version 6. Essa tecnologia emergente é conhecida também como IPng (pronuncia-se "ái-ping"), ou Internet Protocol next generation. Aliás, depois que deram esse nome à segunda série do Star Trek, com Pickard et al, não pararam de copiar o tal do "next generation". Saco!

O IPv6 é um sistema novo, ainda em desenvolvimento, que será usado para atribuir endereços IP no futuro, em substituição ao atual IPv4. Para não deixar furo com a leitora, tão paciente, vale lembrar que um endereço IP (Internet Protocol) é um número mágico e único, que identifica um computador ligado à Internet. O pessoal da IETF (Internet Engineering Task Force) já determinou que o IPv6 será o novo sistema de endereçamento e aí não tem choro nem vela, pois os caras mandam mesmo.

Atualmente, um endereço IP consiste de quatro números separados por pontos. Cada número é um valor de 8 bits representado por um valor entre 0 e 255, num esquema conhecido como "endereçamento 32-bit". Exemplo: "168.23.0.51". No esquema presente, existem mais de 4 bilhões de endereços possíveis. Entretanto, a alocação desses endereços segue uma arquitetura em dois níveis, que atribui números IP a uma rede e depois aos "hosts" dessa rede. Essa arquitetura provou ser um tanto fajuta, tanto que os chefões estão meio amedrontados de que em breve não haja mais endereços a dar para os novos hosts, que pipocam a toda hora no sistema. O IPv6 vai usar endereços IP de 128 bits, com oito números de 16 bits separados pelo caractere "dois pontos". Um exemplo seria 1020:0:2:0:720:487A:220C

As principais vantagens do IPv6 são o imenso espaço numérico de endereços possíveis e a sua arquitetura flexível. A coisa toda está sendo elaborada tendo em mente progressos assombrosos na tecnologia de redes e a expansão cavalar da Internet. Logo que entrar em funcionamento, o IPv6 já irá alocar d cara cerca de 15% do espaço numérico de endereços. Os 85% restantes estarão reservados para uso futuro e já existem equipes de primeira linha matutando sobre essa questão no InterNIC (Internet Network Information Center), no APNIC (Asian-Pacific Network Information Center) e no RIPE (Réseaux IP Européens).

Um dos pontos fortes do IPv6 é sua inteira compatibilidade com o atual sistema de endereçamento. Espera-se que decorram muitos anos até que se implante totalmente o novo sistema, mas a transição vai ser redonda e suave. Os testes estão de vento em popa e já existe uma rede IPv6 ligando América do Norte, Europa e Ásia, chamada "6Bone" (diz-se "sícs-bôun").

Se você for otimista, pode esperar a adoção do IPv6 pelos provedores Internet para dentro de três anos. Se for pessimista, pense que isso só ocorrerá no final do século.


Tava demorando, até que enfim alguém teve peito para dizer isso. O jornal Al-Jumhuriya de Bagdá, órgão oficial de imprensa do governo do Iraque, declarou que a Internet "representa o fim das civilizações, culturas, interesses e ética" e que a grande rede "é um dos meios americanos para adentrar em todas as residências do mundo, tornando-se a única fonte para controlar os seres humanos na nova aldeia eletrônica". Em tempo, a Internet não é acessível no Iraque. Bem, exceto para um colega iraquiano com quem troco e-mail e que possui uma linda parafernália de satélite em casa. Mas se me perguntarem quem é, eu nego tudo.


[ Voltar ]