O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 296 - Escrito em: 1997-04-24 - Publicado em: 1997-04-28


Ferramentas do passado


Quem entrou há pouco tempo na onda da Internet já foi logo chegando na moleza que é a Web. Não penou com as ferramentas antigas, desonestas e "user-enemy" do passado. Porém mesmo nessa mixórdia de artefatos vetustos de software, havia verdadeiros tesouros que o navegante de hoje simplesmente desconhece. Tratava-se geralmente de programas que rodavam em Unix ou VM, capazes de fornecer informações utilíssimas sobre um determinado site que se quisesse investigar.

Uma dessas ferramentas era o finger. Antes de despontar a Internet comercial, cada site podia ser "dedado" pelo programa finger, com o qual era possível saber quem estava logado em um determinado host num dado instante. Podia-se também via finger obter dados mais detalhados sobre certa pessoa, incluindo arquivos texto que o próprio usuário-alvo disponibilizava para quem o fingerzasse. Pintou a Internet comercial e o finger passou a ser a primeira porta em que um hacker batia para conseguir dados nevrálgicos do sistema. Por esse motivo, muitos administradores fecharam essa brecha em seus sistemas. Mas em grande parte dos sites não comerciais, ainda é permitido usar finger.

Outro belíssimo implemento era o programa nslookup, juntamente com seu parceiro do VM chamado DIG. Sabendo manejar com proficiência seus delicados parâmetros é possível ainda hoje conhecer detalhes sobre grande parte dos sites da rede, incluindo copiosas listas de hosts pendurados em domínios.

E quando se desconfiava que certo site estava fora do ar, o que se fazia? Tascávamos um ping nele. Se voltasse resposta dentro de um tempo razoável, era sinal que o bicho estava respirando.

Alguns clientes Winsock modernos cumprem essas funções e em futuras oportunidades trataremos deles. Mas se estiver com os dedos coçando, você poderá encontrar agora mesmo essas valiosas ferramentas lá no Canada, no site http://www.tryc.on.ca/util.phtml . Divirta-se com finger, nslookup, traceroute, ping, whois, dig, host e dnsquery.

Há porém alguns probleminhas nessa implementação. Em primeiro lugar, o ponto de referência quando essas ferramentas são executadas não é a sua máquina, mas sim a do site canadense. Portanto, um traceroute, que informaria todos os hops (pulinhos) dos pacotes entre seu site e um site remoto qualquer, irá informar os hops entre o site canadense e o site remoto. Outro detalhe que falta é a documentação minuciosa das funções e seus parâmetros. Como usar o nslookup e o ping? Mas não esquente muito a cuca não. Uma busca bem feita no HotBot <http://www.hotbot.com> pode encontrar a maioria dos manuais desses programas. Vá brincando com as palavras-chave: network, unix, tools, man, manual e os nomes das ferramentas desejadas. Certamente vai esbarrar num site ensinando o caminho das pedras.

É uma pena não poder distribuir para todos vocês um zip de arquivos-texto miúdos, contendo os manuais de todas essas belezocas. Ideal mesmo seria termos um site ftp ou mesmo uma mailing list com comandos para download. Mas enquanto esse esquema não fica pronto, resta-nos uma possibilidade no ar: que tal se alguém que nos lê tivesse algum razoável espaço online em disco disponível para oferecer sob a forma de ftp? Assim a galera acessaria esse endereço e poderia baixar essa muamba toda sem grandes dificuldades. Não seria uma boa? Se você tiver algo assim para oferecer, basta mandar e-mail para [email protected] e vamos papear sobre o assunto.

Por ora, vale esclarecer que cada utilitário desses pede um certo tipo de parâmetro. O finger requer o nome dum host precedido de "@" (arroba), por exemplo "@venus.leleu.com.br" sem as aspas. Observe que informar apenas "@leleu.com.br" vai resultar na mensagem de erro "Host not found", pois falta o nome da máquina (o host name) antes de "leleu". O finger também aceita uma identificação completa de usuário, incluindo o nome do host, como em "[email protected]". Para os outros programas: nslookup, traceroute, ping, whois, dig, host e dnsquery, basta informar o nome completo de um host e pronto.


Existe um newsgroup na Usenet chamado alt.folklore.computers que trata de, ora, preciso dizer? Muito causo aparece por lá. Um recente foi reportado pelo mancebo Nick Brown <[email protected]>, residente em Strassbourg, França. Há cerca de seis anos a empresa dele foi a primeira no quarteirão a ter um segmento de rede Ethernet implementado por um par de lasers infravermelhos de 20 mW (miliwatts). Haviam recebido promessas de que seria um link altamente confiável, bastando que houvesse uma linha ininterrupta de visão entre os pontos. Se eles pudessem enxergar o outro edifício, o laser também poderia.

E assim mandaram brasa. Apesar de estarem armando esse esquema numa das mais enevoadas cidades da França, acabaram conseguindo 98% de permanência no ar nos primeiros meses, durante o inverno. Apenas nos dias de nevoeiro mais espesso é que o link caia.

Chegou a primavera e passaram a ocorrer quedas bastante freqüentes na conexão, e pior, em horários aparentemente aleatórios. Mais tarde vieram a notar que as quedas se davam cerca meia hora depois do alvorecer e meia hora depois do crepúsculo. Começaram a bolar explicações astronômicas e até astrofísicas. Quem sabe o alinhamento do Sol com os feixes laser... Não, ainda não era isso. E trocaram todos os componentes do link, pensando nalguma falha física. E neca.

Até que certo dia o Nick notou uma teia de aranha construída entre a caixa do laser e a parede adjacente. Não deu importância ao fato, mas algum processo de retaguarda foi acionado no cérebro dele, pois três dias depois teve um estalo. Subiu no telhado à hora apropriada e observou atentamente o laser. E foi batata: uma aranha apareceu, caminhou pela teia, subiu na lente do laser e começou a devorar seu jantar, uma mosquinha. Obviamente, naquele momento, o link caiu.

A solução foi imediata. Arranjaram um pedaço de pano, uma caixa de cotonetes, um spray de inseticida e colocaram tudo numa caixinha etiquetada: "Kit de Manutenção do Hardware da Rede". Estipularam uma rotina semanal de limpeza da lente do laser e nunca mais tiveram problemas no link Ethernet.


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