O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
299
- Escrito em:
1997-05-13
-
Publicado em:
1997-05-19
Mailbox cheia
Época de vacas magras é sempre assim. Sobra tempo para ler, passear, estudar e relaxar. É claro que deixa de entrar o cacau, mas até que essas fases têm lá o seu encanto. Nos períodos de stress, leitura mesmo só pode ser de tema que não tenha nada a ver com computices, senão ninguém agüenta. Vale Omraam, Rampa e até enciclopédia. Entretanto, com a mente calma, dá até para pegar numas digitalidades sem trauma. E por sorte, calhou de me chegar aqui ontem o "Digerati - Encontros com a Elite Digital", de John Brockman, pela Editora Campus. Já caí de boca no bicho e estou adorando. Envoltos nesse caos digital de Internets e Webs, pouco paramos para pensar em quem está por trás da cena, criando rumos, definindo padrões e ditando tendências. É a elite digital, cujos representantes soltam o verbo nesse livro e contam-nos sobre os bastidores. Dependendo de sua permeabilidade aos assuntos informáticos, é uma obra leve e que poderá merecer sua atenção.
Falar sobre correio eletrônico em tempos de push parece meio retrô. Mas não pense que e-mail está "out", pois ainda é a fatia de maior tráfego na Internet. Dedicar-se a fundo a trocar mensagens e-mail é tarefa só para quem quer se meter em encrenca. Se esse é o seu caso, recomendo que arregimente o máximo de correspondentes que puder, entre e participe de mailing-lists, mande mensagens para donos de páginas Web, freqüente newsgroups da Usenet e em breve verá sua caixa postal explodindo diariamente com centenas de mensagens. Se vai conseguir ler tudo, isso são outros quinhentos. Mas é quase certo que, dentre um monte de forwards (mensagens re-enviadas manualmente), bilhetes e junk-mails, vai aparecer um grupinho reduzido de criaturas que, com o passar do tempo, vão se tornando mais próximas e afins. E eis que surgem as amizades digitais. Existe isso sim, pode acreditar. Tenho provas aqui na mão e mostro para quem quiser. Às vezes são pessoas que você nunca conheceu nem jamais irá encontrar ao vivo. Gente que pode morar do outro lado do planeta. Ou então alguém que você até já conhecia ao vivo, mas que nunca teve chance de lhe mostrar no cara-a-cara toda sua riqueza de alma, só deixando aparecer esse aspecto magnético em cartinhas ascii mal digitadas, porém densas e interessantes. Pode ser também um oponente articulado e bem aparelhado que discorde de tudo que você escreva e comece a querer briga eletrônica por qualquer besteira.
Tudo isso é fascinante e, se a leitora se deixar levar, o maldito correio eletrônico acaba chupando seu tempo feito esponja. Aí você se verá acordando antes do sol nascer, lendo 180 mensagens e replyando 50 outras, tudo isso antes do café da manhã. E se encontrar interlocutores à altura, descobrirá que o maior prazer em ler e escrever e-mail é encontrar quem entenda o que você diz e vibre na mesma tônica. Nessas condições, bastam uns poucos endereços de gente especial e as torneiras se abrem de lado a lado caudalosas.
Portanto, se seu tempo anda curto e você ainda não entrou nessa roda viva, preferindo manter-se ilesa, ouça bem quem já está atolado nisso até o pescoço. Não divulgue seu endereço, fique na sua toca, quietinha e siga só navegando na Web em silêncio absoluto. E-mail pode ser "fuerte", tem gente do outro lado, cabeças que pensam, reagem, que levam paulada e retribuem à altura. O velho espírito dos BBS está mais vivo do que nunca. Quem precisa ficar online horas e horas? Basta descer o pacote de mensagens, desligar o modem e se deliciar agulhando aqui e afagando ali. Nunca pensei que essa revolução digital iria ficar tão divertida.
Uma das piores coisas que podem acontecer para os planos de quem tem que escrever uma tripinha técnica a cada semana é ter assunto demais. A gente planeja o material com o maior esmêro, sai contatando gente, visitando empresas, universidades, garimpando na Web, absorvendo megas de e-mails e acaba por produzir dentro do quengo textos redondos, artigos costurados, estabilizados, repletos de informações úteis (?) e frescas. Aí chega a hora de abrir a tampa desse laptop sebento na segunda ou terça-feira (escrevo sempre para a segunda seguinte), com uma penca de novidades para contar e... aconteceu novamente. Desce um preto-velho, ou sei lá que diabo é isso, e começa a brotar estória que não era para sair. Esse espaço de hoje deveria versar sobre links fabulosos via satélite, matrizes de balões estratosféricos revolucionários e outras milongas do gênero. Mas tudo bem para essa remessa 299. A próxima é comemorativa, número 300, e tem que sair treco sério, senão a Cora e a Cris me arrancam os cabelos (quero ver acharem algum).
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