O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
300
- Escrito em:
1997-05-20
-
Publicado em:
1997-05-26
A invasão dos balões
Essa é a tricentésima remessa de artigo que faço aqui pro Caderninho. Estamos juntos desde 04/03/1991, com exceção do período da minha peregrinação espiritual além-mar. Agradeço o apoio da leitora... e do leitor também. Para comemorar: balões.
A Internet anda meio travada e não é para menos. Precisa urgentemente de novos meios de acesso de alta-velocidade para crescer o tanto exigido pela demanda. No entanto, as tecnologias terrestres ISDN, xDSL, fibra-ótica e cable modems são demasiado caras para se tornarem opções universais. Segundo os especialistas, a melhor saída seria escapar do chão buscando os ares e mais além, o espaço.
Pensou-se logo então nos satélites artificiais como solução imediata para esse gargalo, tornando a Web acessível ao mundo inteiro. De fato, se pensarmos nos custos, nós do Terceiro Mundo jamais poderemos esticar fios ou fibra-ótica para conectar cada lar ao grande sistema. Já com a opção do satélite, seria muito mais fácil posicionar um pratinho no telhado e pronto: cá estão bilhões de novos consumidores em potencial.
Todavia, essa fatia de mercado dos satélites é reservada aos gigantes do ramo, portanto alguma outra opção mais barata haveria de ser encontrada. E foi. Recentemente nos EUA, a FCC (Federal Communications Commission) aprovou o uso da faixa de freqüência de 47 GHz pela empresa Sky Station International (SSI), que tem um plano ambicioso de prover serviço T1 de transmissão de dados (1,5 Mbps) através de gigantescos balões de gás. Esta decisão da FCC foi a primeira aprovação do governo americano para serviços de telecomunicação estratosférica.
O objetivo da SSI é implantar um novo sistema utilizando plataformas geo-estacionárias localizadas na estratosfera, cada qual mantendo-se em sua posição por até dez anos, senão mais. Estas plataformas comporão o backbone de um sistema global visando atender à Internet, oferecendo taxas nominais de 1.5 Mbps para terminais portáteis e de até 155 Mbps para terminais fixos.
Fundada pelo General Alexander M. Haig, ex-Secretário de Estado dos EUA, juntamente com uns poucos monstros da indústria de alta-tecnologia, a SSI já tem joint-ventures na Argentina, Austrália, Canadá, Filipinas, França, India e Itália. Não encontrei informações sobre qualquer acordo com Alemanha ou Japão, coisa que dá o que pensar.
O principal produto dessa empresa será o Stratospheric Telecommunications Service, que estará interconectado ao sistema telefônico PSTN (Public Switched Telephone System) através de gateways espalhados pelo mundo inteiro. Os usuários poderão se comunicar diretamente com uma das Sky Stations ou através da rede PSTN. Esse conjunto será então o único sistema Internet broadband (faixa-larga) de baixo-custo globalmente disponível. Os serviços das Sky Stations serão usados não só para acesso à Internet, mas também para serviço de telefone, videofone, WebTV e transmissão de dados em alta-velocidade.
Planeja-se criar um mínimo de 250 estações estratosféricas em balões que ficarão pairando a altitudes entre 20 e 30 km, localizados justamente sobre áreas mais densamente povoadas e de maior potencial de mercado. À medida do necessário, novas estações seriam criadas. Com os balões posicionados a essa altitude, podem ser projetadas na terra 2.000 regiões de alcance (footprints = pegadas, como as de um pé na areia). No solo, cada footprint necessitará de uma estação repetidora.
Em 1999 a SSI começará aos poucos a oferecer o serviço, lançando plataformas semanalmente até que toda a malha planejada esteja concluída. Cada balão será capaz de cobrir uma área terrestre de cerca de 750 mil quilômetros quadrados. As Sky Stations serão implantadas de acordo com a demanda local, segundo uma lista de prioridades fornecida por organizações responsáveis em cada país.
Estima-se que um canal estratosférico Internet de 64 kbps venha a custar menos que o mais barato serviço de celular nos EUA, ou seja, alguns centavos por minuto. Um terminal de usuário usando o Sky Station custará aproximadamente US$ 1.000 e um cartão PCMCIA Stratus poderá ser usado para transformar um laptop comum em um terminal Internet de alta velocidade.
O tamanho de cada plataforma dependerá da demanda da região coberta. Um balão Sky Station típico medirá cerca de 50 x 50 x 140 metros e pesará em torno de 10 toneladas. Deve ser impressão minha, mas isso me cheira a desastre. Cada estação gerará 157 kW de potência elétrica, graças a painéis solares. Depois de subtrair toda a energia usada para manutenção do sistema, sobram 15 kW de potência RF (rádio-freqüência) para as telecomunicações. Será possível então suportar 400 mil transmissões simultâneas a 64 kbps e 1.000 transmissões multi-megabit. A propulsão do balão será feita por um equipamento chamado "Corona Ion Engine", fabulosa elucubração científica que já funciona muito bem em laboratórios e campos de prova. Essa máquina miraculosa provê empuxo 200 vezes maior do que os engenhos iônicos anteriores. A Corona Ion Engine não gera poluição, não tem partes móveis e utiliza íons ambientais da estratosfera como combustível, podendo manter uma plataforma de várias toneladas com alto grau de estabilidade em azimute e altitude. Essa tecnologia pode parecer coisa de ficção científica, mas já em 1982 foi validada em estudos de viabilidade conduzidos pela Lockheed. Plataformas desse tipo já funcionam movidas a hélice e máquina diesel. O único borogodó desse novo balão é a tal revolucionária propulsão iônica.
A SSI diz ter grande preocupação com segurança, tendo investido pesadamente na arquitetura e no planejamento dos artefatos, projetados com balonetes estruturais e balonetes internos, formando um envelope duplo. O gás utilizado é o Hélio e diversos sistemas online de monitoramento estarão instalados em cada plataforma, mantendo contato ininterrupto com as bases no solo. Macacos me mordam se uma ou duas engenhocas dessas não vão cair no quengo de algum infeliz cá embaixo, mas é claro que, por enquanto, os caras vão dizer que tudo é plenamente seguro. É a velha história das novas tecnologias.
Os serviços da SSI serão oferecidos pelas principais companhias de telecomunicações em cada país. O hardware para conexão será fornecido pelas grandes produtoras de cable modems e de equipamentos para networking. Chipsets especializados estarão em desenvolvimento para serem empregados nos dispositivos de acesso às estações. A concorrência internacional que decidirá quais serão os fornecedores deverá estar terminada ainda este ano.
Se a leitora é multi-milionária e tem mucha grana para investir nessa grande empreitada, entre em contato com Therese Fergo <[email protected]>, diretora de desenvolvimento internacional da Sky Station International Inc. Telefone 001 (202) 518-0900, fax: 001 (202) 518-0802. Maiores informações na web page deles: http://www.skystation.com
Para ver algumas fotos das Sky Stations, consulte http://www.skystation.com/demo/index.htm
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