O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 305 - Escrito em: 1997-06-24 - Publicado em: 1997-06-30


O bug original


Há quem assista ao seriado "Arquivo X" (X-Files) e torça o nariz para alguns fenômenos meio chutados que aparecem com freqüência. Para quem quiser saber do lado científico da coisa, recomenda-se a visita ao site <http://www.geocities.com/CapeCanaveral/9815/> em que diversos episódios são analisados em detalhe. Ainda estão longe de cobrir a série inteira, mas o WebMaster promete que um dia chega lá. Ainda para os aficcionados do seriado, vale a visita ao X-Files International Web Ring, em <http://tempest.ucsd.edu/~jlinvill/xfiles/xring.html> . Eles estão começando a montar uma cadeia de páginas web que tratam de assuntos abordados na série.


Um camarada chamado Robert Salesas, da Eschalon Development Inc. <http://www.eschalon.com>, escreveu no ano passado um programeto muito interessante capaz de vasculhar um executável em busca de todos os arquivos que ele aloca. Existem outros vasculhadores similares, mas esse vale a pena, por ser pequeno e grátis. O nome do programa é ExeScan ou "Exe Dependency Scanner". Quase 19 mil almas já fizeram o download e pelo jeito estão adorando o bichinho, que zipado ocupa cerca de 150 kb.

O ExeScan é um freeware para Windows 95 detecta e lista arquivos suplementares requisitados por aplicações e programas específicos em seu sistema. Se uso é simples: basta acionar o utilitário e rodar o programa que você deseja verificar. Navegue por todos os meandros da aplicação sob investigação, de forma que o ExeScan possa capturar todas as dependências de arquivos que porventura existam. É uma ótima ferramenta para quando você estiver querendo resolver conflitos, "debugar" um programa, ou apenas interessado em quais recursos uma certa aplicação está utilizando.

ExeScan está disponivel em <http://www6.zdnet.com/cgi-bin/texis/swlib/hotfiles/info.html?fcode=000AI3>


Você já deve saber disso mas, falando em "debugar", cumpre esclarecer que o termo vem da expressão "bug" (em português: bicho, inseto, besouro), peça tradicional do jargão informatiquês, que denota uma propriedade indesejável ou não intencional de um programa ou de uma peça de hardware, geralmente acarretando no mau funcionamento do referido componente.

Uma certa senhora de nome Grace Hopper, pioneira da computação, famosa por ter sido uma das inventoras da linguagem Cobol, conta um causo antigo em que um técnico resolveu um problema no vetusto computador Harvard Mark II apenas removendo um besourinho que estava preso entre dois contatos de um relé. Este notável acontecimento se deu em 9 de setembro de 1947 e marcou o início do uso do termo "bug" nesse sentido informático. Durante muitos anos o livro de registros contendo a descrição do incidente, juntamente com o próprio inseto, estiveram expostos numa vitrine do NSWC (Naval Surface Warfare Center). A história toda, com fotos do livro e do inseto grudado com durex numa de suas páginas, pode ser encontrada em "Annals of the History of Computing", Volume. 3, Número 3 (Julho de 1981), páginas 285 e 286.

Mas não pense a leitora que "bug" é invenção tão recente assim. O termo já era largamente aplicado a problemas eletrônicos em radares durante a II Guerra Mundial. E para provar de uma vez por todas que nessa ciência dos elétrons pouco se cria e muito se copia, encontra-se "bug" significando defeito industrial desde os tempos de Thomas Edison. Num manual de eletricidade de 1896, o "Hawkin's New Catechism of Electricity", editado pela Theo. Audel & Co., é dito que: "O termo 'bug' é usado, com restrições, para designar qualquer falha ou problema em conexões ou no funcionamento de um aparelho elétrico". Mais adiante lê-se nesta mesma obra que essa acepção de "bug" remonta aos tempos da telegrafia quadruplex e acabou se espalhando pelo mundo dos implementos elétricos.

Alguns pesquisadores mais exagerados forçam a barra e querem encontrar origens para o "bug" até nos escritos de Shakespeare, cavucando referências na primeira edição do "Samuel Johnson's Dictionary", de mil oitocentos e bolinha.

Quanto ao "bug" original, diz-se que em meados de 1991, o livro e o inseto foram transferidos para o Smithsonian Institute, mas em virtude de limitações de espaço e de verbas, o precioso item ainda não está em exibição. Mas quanto a isso, nada podemos assegurar. Para maiores detalhes sobre esse assunto de suma importância histórica, consulte o FOLDOC em <http://wombat.doc.ic.ac.uk/foldoc/foldoc.cgi?query=bug&action=Search>


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