O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
309
- Escrito em:
1997-07-22
-
Publicado em:
1997-07-28
Coisas de pirata
As empresas de software estão investindo ativa e agressivamente no sentido de salvaguardar sua propriedade intelectual, combatendo o roubo de software. Segundo essas companhias, seria responsabilidade de todo usuário de software assegurar que apenas programas originais sejam utilizados por eles ou por qualquer outra pessoa em seus ambientes de trabalho ou em casa. A cópia não autorizada é considerada crime em muitos países e, no caso dos EUA, há o risco de o país perder seu status de líder tecnológico, caso não consiga proteger seu domínio no mercado mundial de software. Segundo as mais recentes estatísticas, os países em que a pirataria é mais pesada são, em ordem decrescente: Estados Unidos, Brasil, China, França, Itália, México, Cingapura, Espanha, Coréia do Sul e Taiwan.
Nessa história de roubo de programas, a Internet acabou se tornando o principal vetor de intercâmbio de software comercial pirateado. Sites inteiros armazenam Gigas de produtos ilegalmente copiados, muitas vezes até já acompanhados de seus respectivos "cracks", ou seja, pequenos programas responsáveis por quebrar códigos de proteção anti-roubo. Mas é justamente na própria Internet que atuam diversas entidades anti-pirataria, sempre alertas para receberem denúncias. As mais poderosas nos EUA são a BSA (Business Software Alliance) <http://www.bsa.org/> e SPA (Software Publishers Association) <http://www.spa.org/>. Milhões de dólares mudam de mãos a cada ano em função de sentenças judiciais em que os réus são empresas ou indivíduos que acharam mais fácil e barato apelar para a pirataria.
Aqui no Brasil, basta abrir quase qualquer classificado de informática dos grandes jornais e você poderá ver dezenas de ofertas de "profissionais" vendendo CD-ROM's prensados sob encomenda, trazendo os mais recentes títulos do mercado, devidamente pirateados e a preço de banana. Para o usuário pobre ou remediado essa oferta maciça é um verdadeiro chuá, mas para o produtor de software esse mercado paralelo representa um prejuízo terrível. Se a leitora é adepta da cópia ilegal de software, é bom ir tratando de mudar seus hábitos. Muitas empresas já foram processadas por uso indevido de programas e agora é a vez dos pequenos usuários. Acabar com a pirataria é certamente uma tarefa impossível, mas o cerco está começando a fechar e os piratas que já foram pegos pelo longo braço da lei contam histórias bem tristes. O caso que se segue não tem nada a ver com software, mas ilustra bem os percalços por que pode passar um pirata.
Numa noite nevoenta, um velho pirata se aproximou mancando de uma obscura taverna próxima às docas. Ele tinha uma perna de pau, um gancho no lugar da mão e um sebento tapa-olho. Sentou-se diante do balcão do bar, logo ao lado de um rapaz, e mandou vir uma cerveja. Pouco depois, o jovem e curioso mancebo interpelou o lobo do mar quanto aos motivos de ele ostentar aquela perna de pau.
O pirata fungou, pigarreou e respondeu: "Bem, um dia eu estava de pé no convés de meu navio durante uma terrível tempestade e uma onda gigantesca me arrastou para o mar. Antes que me desse conta, um maldito tubarão surgiu dentre as vagas e arrancou a minha perna."
Impressionado mas não satisfeito, o enxerido jovem perguntou logo em seguida como foi que o pirata havia perdido a mão. Pacientemente, o flibusteiro explicou com voz cavernosa: "Há muitos anos, estava eu lutando com meu sabre contra quatro britânicos asquerosos e um dos cretinos cortou-me a mão direita com um golpe de espada. Por sorte escapei com vida. Mais tarde, como não puderam me encontrar uma outra mão, puseram-me este pontiagudo gancho no lugar."
Meio pasmo, o intrometido rapazote, em sua incontrolável bisbilhotice, indagou sobre como o pirata havia perdido o olho direito. O pirata baixou a cabeça e respondeu grave: "Estava de pé no convés e o mar estava calmo. Por algum motivo olhei para o alto e uma gaivota fez cocô no meu olho." O gargajola, confuso com a resposta do pirata, rebateu: "Mas ora, só isso? Nenhuma estória fantástica? Simplesmente um cocozinho de pássaro lhe cai no olho e o senhor perde a vista? Como é que pode?" E o pirata, com voz baixa, complementou: "Era o meu primeiro dia usando o gancho."
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