O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 323 - Escrito em: 1997-10-29 - Publicado em: 1997-11-03


Produtividade


Os caras diziam que seria o maior salto de produtividade da História: os computadores transformariam o ambiente de trabalho e reservariam ao funcionário humano apenas as tarefas nobres que exigissem raciocínio abstrato ou intuitivo. Segundo os visionários, o resto do tempo seria dedicado ao lazer, já que os humanos certamente trabalhariam menos horas por dia.

Nem durante o mandato dos mainframes, os computadores de grande porte, a coisa funcionou desse jeito que se previa. Só se via gente virando noite nos centros de processamento de dados, rodando fechamentos de faturamento, debugando código macarrônico e resolvendo "abends" ("ABnormal ENDs" – aborto de programa, em jargão de mainframe). Para piorar a encrenca, o impacto social da informatização foi desastroso em muitos casos, posto que com a adoção dos computadores, a quantidade de gente que foi para a rua não está no gibi.

Depois chegou a década de 80 e inventaram o PC, vieram os clones do PC e difundiram-se feito gripe, pelas casas e escritórios de todo o mundo ocidental. Em seguida pintou a coqueluche do Windows e vieram a reboque seus joguinhos, juntamente com aqueles que rodavam em DOS: Space Invaders, PacMan, Solitaire, Tetris e por aí vai. Naturalmente, as empresas informatizadas não fugiram à regra. Ainda não se sabe quanto se perdeu de produtividade com os empregados brincando de jogar escondidos nos computadores das empresas. Lembro-me que havia alguns games que até ofereciam uma tecla de fácil acesso, tipo F12, chamada "Boss is around" (o chefe está por perto). Bastava pressioná-la e aparecia uma tela com uma planilha tipo Lotus 1-2-3 bem tipicamente enfadonha e empresarial, para que o jogador pudesse fingir por um instante que estava trabalhando nalguma tabela maçante.

Os chefes já estavam até acostumados e se viravam bem com a queda de produtividade advinda dos micros, quando para sua desgraça surgiu a Internet. No início ainda era novidade, pois um micro precisava ter modem próprio para que o usuário pudesse se plugar à Rede, e poucas máquinas dispunham de tal equipamento. Mas acabaram conectando as companhias à Internet através de suas próprias redes corporativas. Assim, qualquer funcionário autorizado poderia clicar num ícone e começar a navegar pela Web. Só isso já bastava, mas então o pessoal descobriu o encanto do e-mail. Passaram a dispender horas e horas lendo e excrevendo mensagens para os amigos, contando caso, trocando textos, programas, imagens e sons. E os chats do IRC? Esses então viraram alta coqueluche, especialmente os canais de sacanagem. Aliás, os temas picantes são disparados os que mais sucesso fazem nas navegações feitas durante o expediente. Muitos são os macetes para burlar a vigilância, indo desde o posicionamento dos monitores de video de modo que o chefe não pegue o voyeur desprevenido, até a maestria em manipular o botãozinho de intensidade de video, fazendo a tela ficar quase preta enquanto as imagens pornô são baixadas da Web.

O fato é que, logo de cara, ficou evidente que a coisa estava se transformando num problema para as firmas e, para salvaguardar os interesses empresariais, começaram a proibir navegações e trocas de mensagens via correio eletrônico durante o horário de trabalho. Algumas empresas chegaram a apagar os browsers e gerenciadores de e-mail, proibindo terminantemente seu uso nas máquinas da empresa. Mas sempre há um espertinho que dá um jeito de malocar um diretório ou recarregar no disco da sua máquina um ou outro programinha que é apagado diariamente ao fim do expediente, para não deixar bandeira.

Nas organizações governamentais dos EUA a coisa engrossou. Sabe-se muito bem da intensa participação política do povo de lá, tanto que os contribuintes estrilaram feio quando veio a público essa mania graciosa de funcionários gastando tempo de labuta para baixar megas e megas de imagens de donzelas em ação, entre outras acrobacias. Deu o maior arranca-rabo e autalmente o funcionnárui público que for pego nessa prática, dança no ato. Belo exemplo a ser seguido aqui na terrinha. Imaginem lá no planalto, o que a nossa turma deve aprontar.


Já que falamos aí em cima nos canais de IRC, trago até vocês uma interessante experiência que tive ao lado de uma amiga adepta dos papos online. A jovem freqüenta com grande desenvoltura os canais do UOL reservados às "primas" e, numa tarde dessas, resolveu me levar a conhecer esse mundo do chat das mulheres gays. Logo de cara foi me ensinando que esses canais são freqüentemente visitados por homens de todas as idades, disfarçados e loucos para ler as peripécias das meninas em ação. Vão puxando assunto com uma conversa mole de dar dó, mas são logo desmascarados por sua falta de sutileza. Assim que aparecia mensagem grosseira de algum sujeito querendo se fazer passar por mulher, a minha amiga me apontava a farsa no ato. Em contrapartida, eu a ví trocando mensagens com gays verdadeiras, como ela, e confesso que fiquei impressionado. A delicadeza e o alto nivel das primas é uma verdadeira aula para essa nossa raça de marmanjos metidos a sabidos e machões. Depois de ver minha cara de pasmo, a moça me revelou a dica para diferenciar um gajo duma donzela, nessas salas de papo. É o seguinte: os caras só querem falar de sexo, ao passo que as moças também falam de afeto.


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