O GLOBO - Informática Etc. -
Carlos Alberto Teixeira
Artigo:
332
- Escrito em:
1997-12-18
-
Publicado em:
1998-01-05
Macêtes não documentados
Mas que bom! Sua festa de entrada de ano foi aquela beleza, você está cheia de esperança e já fez um monte de pedidos e desejos a papai do céu. Eu também, aliás todos nós fizemos, mas... a sua linha da Telerj é boa? É daquelas digitais, discagem por tom, cheias de trique-trique? Ah, minha querida leitora, a senhora é uma mulher de sorte, uma felizarda. Quanto pé-rapado como eu existe por aí, furibundo com a péssima qualidade dos serviços da Telerj, e que gostaria de ter uma linhazinha como a sua. Tem gente que nasce virada para a Lua, é bem verdade.
Aqui no meu caso o problema é o ruído, esse detestável e aterrorizante mal que aflige um sem-número de usuários. Já liguei diversas vezes para a Telerj reclamando do barulho. Com algum equipamento mágico, aparelho misterioso, ou de algum outro jeito que nem imagino qual seja, eles ligam de volta co'a maior cara-de-pau e informam que analisaram minha linha 205, chegando à conclusão de que está tudo bem. Tudo bem? Ora minha senhora, como é que pode? Mande o homem testar de noite minha linha e que veja ele o que é linha bichada, madame. Eu me contenho para não desfiar impropérios diante da moça. Como pode ser uma coisa dessas? Pus-me então a achar que tem algo errado na minha instalação dentro de casa. Já chamei técnico, macumbeiro, guru e até benzedeira: ninguém deu jeito. Ainda bem que não dá barulheira a toda hora, mas quando começa o chiado, é um inferno. Nesses momentos de crise, é totalmente impossível uma conexão Internet. O modem chia feito gato asmático, engasga, cospe, arrota, mas não consegue conectar. É de arrancar os cabelos.
Comecei a tentar inventar algum macete. Tinha que haver um jeito. O primeiro que deu certo foi ligar de uma outra linha para o meu pobre 205. Peço para alguém atender no meu telefone e disco do vizinho para lá. A linha se apresenta quase sempre impraticável à noite. Berro alguns palavrões e repito a chamada. Depois de uns três ou quatro telefonemas recebidos, minha linha parece melhorar um pouco. Infelizmente não dá certo sempre, mas pelo menos melhorei bastante minhas chances de ligar meu computador à rede.
É sabido que a Telerj está numa fase de transição, em que pretende converter todas as centrais pré-históricas para centrais digitais. Sabe-se também que nesse período há que se ter paciência adicional e fé inquebrantável de que nossos tempos de regozijo chegarão um dia. Também sei perfeitamente bem que os engenheiros da Telerj e demais autoridades do ramo que lerem esse atestado de chutometria vão se penalizar com as possíveis asneiras que estarei proferindo nesse artigo. Pouco me importa, pois corajosamente dei o salto no vácuo e quase sou um homem liberto, em virtude da descoberta que fiz por acaso e que descreverei a seguir.
Há menos de um mês, estava eu uma noite conversando ao telefone com uma amiga e, no meio do agradável papo, lá se veio o maldito ruído. Era tão forte que mal se ouvia a voz do outro lado. Foi então que fiz o incrível achado, sem querer. Como estava no escuro, levei a mão ao telefone para desligar e tentar outra discagem, na esperança de uma linha mais limpa. No meio daquele breu, acabei dedando a tecla "zero", o que causou a discagem do referido algarismo, ou seja, dez pulsos. Qual não foi minha surpresa ao constatar que a conexão não caiu e que a linha havia melhorado um bocadinho. Pedí licença à moça e disquei o zero novamente no meio da ligação. Melhorou ainda mais a qualidade da linha. Na terceira discada, quase não havia mais ruído. Depois disso, sempre que os odiosos barulhos de conexão me afligem, disco para o Observatório Nacional, número 130, e enquanto aquela voz estridentemente gravada se esmera em me informar a hora certa pelo relógio atômico, eu lhe tasco três discadas de zero pela fuça e desligo contente com minha linhazinha, senão limpa, pelo menos remediada.
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