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GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 336 - Escrito em: 1998-01-29 -
Publicado em: 1998-02-02
Inconveniência em latim
Um mancebo chamado Stephen Speicher <www.compbio.caltech.edu/~sjs/stephen.html>, provavelmente estudioso da obra de Mozart, prestou atenção a uma propaganda da Microsoft veiculada na TV americana no ano passado, anunciando o Internet Explorer. Ele começou fazendo uma gozação em cima do chefe do departamento de publicidade da empresa, chamando-o de gênio. Na famigerada propaganda, a imponente música de fundo era um majestoso coral, nada menos que o Confutatis Maledictis, do Réquiem de Mozart, uma missa para os mortos. Ao final do anúncio, justamente no instante em que o narrador solta o antológico "Where do you want to go today?" (Onde você quer ir hoje?), o coral ao fundo canta em escorreito latim: "Confutatis maledictis, flammis acribus addictis..." Isso significa: "Os danados e acusados são condenados às chamas do inferno..." Ou o criador teve uma baita falta de sorte ao escolher o trecho do Réquiem, ou algum consultor pregou uma bela peça na Pequena-Mole.
Se você já se aporrinhava com dezenas de mensagens indesejáveis de junk-mail chegando aos borbotões na sua mailbox, prepare-se para uma nova leva, pois os responsáveis por essa praga estão de arma nova. Para quem não sabe o que é junk-mail, trata-se de um recurso sórdido empregado por comerciantes na Internet, que consiste em obter endereços e-mail de um monte de gente e enviar propaganda comercial indiscriminadamente para esses endereços. Os papas do junk-mail possuem bancos de dados contendo dezenas de milhões de endereços e costumam comercializar estes arquivos.
Todavia, um usuário Internet pode ser muito volátil. Uma hora está cadastrado num certo provedor, noutra pode ter mudado e se recadastrado num outro provedor, mudando de identificação. Assim, nesses fenomenais bancos de dados contendo vítimas de junk-mail, muitos endereços já estão caducos. O grande desafio dos "spammers", como são conhecidos os que disparam "spam" ou junk-mail, é depurar suas infindáveis listas de e-mails.
É aí que entra a nova arma: os "mail probes", ou traduzindo, sondas de correio. São mensagens que os spammers enviam para cada usuário que se quer descobrir estar ativo ou não. A vítima nem precisa dar reply, pois a mensagem-sonda traz no cabeçalho um identificador unívoco que é detectado pelo remetente, caso a mensagem seja devolvida por algum erro qualquer ou mesmo por não ter sido encontrado o usuário. Uma das formas mais comuns de se inserir esse identificador é no header "X-UIDL" do cabeçalho padrão da mensagem Internet. O valor do X-UIDL geralmente é uma longa tripa indecifrável de dígitos hexadecimais, mas que na verdade é um código único que identifica cada vítima em potencial.
Se a máquina do spammer recebe uma mensagem de erro sinalizando a não-existência de um endereço e-mail, um programeto simples vasculha os headers deste reply e separa o header X-UIDL, obtendo o código hexadecimal correspondente e eliminando o tal usuário da lista de vítimas, caso esteja ele de fato detonado de seu endereço antigo.
A técnica de enviar mail probes é oriunda dos gerenciadores de mailing lists, os listservers. Continua sendo um esquema que poupa tempo e esforço no sentido de manter listas atualizadas. Infelizmente os spammers aproveitaram a idéia e estão lavando a égua com este macete.
Se a leitora é chegada aos avanços tecnológicos, recomenda-se a newsletter Breakthrough. Mesmo confiando nas sofisticadas search engines hoje disponíveis na rede, logo e facilmente nos afogamos num excesso de informações, para qualquer tópico que pesquisemos. Para não ficar louca lendo as hierarquias comp/sci/alt da Usenet, diversas mailing lists e dezenas de revistas, a opção é ler a Breakthrough. Serve como excelente ponto de partida, onde pode-se ter uma noção de onde canta o galo. Daí para a frente, é possível cair de cabeça nas search engines já mirando nas palavras-chave certas. Uma vez que a publicação só divulga acontecimentos tecnológicos realmente marcantes, sua periodicidade é variável. Para assinar a newsletter, envie o comando "subscribe breakthrough" no corpo de uma mensagem para <[email protected]>. Edições anteriores podem ser encontradas em <www.lucifer.com/~sean/BT/>. A Breakthrough é compilada por Sean Morgan <[email protected]>. Você ainda vai ouvir falar mais desse cidadão aqui no caderninho. (Vide edição de 1998-03-02, artigo sobre bolsa de apostas científicas)
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