O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 337 - Escrito em: 1998-02-02 - Publicado em: 1998-02-09


Bubba e seu chefe


Se você for uma pessoa comunicativa e souber como se portar na Internet, pode acabar conhecendo gente de todos os lugares do mundo, muita gente mesmo. Nosso amigo em Los Angeles, Jorge Vismara, contou-nos a história de um interneteiro americano chamado Bubba, que, depois de anos de navegação intensa na Web, milhões de e-mails trocados e muitas viagens a passeio e a negócios, chegou à conclusão de que conhecia TODAS AS PESSOAS no mundo inteiro.

Bubba foi admitido numa empresa de software e, numa tarde dessas, adentrou o escritório de seu novo chefe, anunciando animado: “Chefe, eu conheço todas as pessoas no mundo inteiro!” O chefe obviamente não acreditou em Bubba, tratando logo de questionar sua afirmação: “Não, você não conhece todas as pessoas do mundo.” Mas Bubba, insistente, replicou: “Sim, senhor, conheço sim. Escolha alguém, qualquer pessoa, e poderei provar o que digo.”

O chefe de Bubba ficou em silêncio, matutando e olhando para a cara de seu funcionário siderado. “A Madonna, Bubba, aposto que você não conhece a Madonna!” Bubba rebateu de imediato, risonho: “Claro que conheço, chefe. Troquei muito e-mail com ela e mais tarde nos encontramos para um jantar. Depois disso ficamos amigos.” O chefe, decidido a desmascarar logo a farsa, mandou comprar passagens para Hollywood e lá se foram os dois visitar a mansão da Madonna.

Bateram à porta e a estrela em pessoa atendeu, arregalou os olhos e abriu os braços dizendo: “Bubba, que surpresa! Entrem, Bubba, você e seu amigo.” Abraçaram-se, passaram uma tarde agradável e, à noitinha, despediram-se. Estavam emocionados.

O chefe do Bubba ficou abestalhado, mas não se convencia, achava que aquilo poderia ter sido apenas coincidência. Afinal era só uma pessoa. Inquieto, ainda no vôo de volta, desafiou Bubba novamente: “Foi um golpe de sorte, Bubba. Que tal o presidente americano? Bill Clinton, Bubba, você conhece o Bill Clinton?” Bubba nem pestanejou: “Mas certamente que conheço. Fomos escoteiros juntos e mantemos contato freqüente via e-mail.” O chefe dessa vez quase perdeu a linha: “Essa não, Bubba, essa eu quero ver.”

Mal aterrizaram e se meteram direto num avião para Washington D.C. Lá chegando, deram um jeito de assistir a uma conferência de imprensa em que Clinton discursaria. Na saída tiveram grande dificuldade para se enfiar no meio da multidão, até que Bubba conseguiu chegar perto de Clinton e, num momento em que o presidente olhou em sua direção, Bubba gritou: “Bill! Bill!” O presidente dos EUA mostrou-se surpreso e, num sorriso, gritou de volta: “Bubba, rapaz! Venha cá, vamos conversar!” Abraçaram-se e ficaram papeando por mais de meia hora. O chefe do Bubba, lívido, ficou até meio tonto, mas ainda não conseguia acreditar na popularidade do Bubba.

Sua mente não parava de trabalhar. Aquilo não era possível. Era simplesmente inadmissível. As chances de uma coincidência assim eram de uma em um bilhão, por baixo. Mas as chances de ele de fato conhecer o mundo inteiro eram ainda menores. Decidiu então tentar mais uma vez, porém dessa feita escolheria alguém muito importante, mas que vivesse do outro lado do oceano: “O Papa, Bubba! Aposto que você não conhece o Papa.” Bubba sorriu: “Conheço sim, chefe, e há muito tempo. Eu fui batizado pelo Papa!” O chefe desatou a rir, incrédulo, e disse: “Ah não, essa não, Bubba.”

A leitora já imagina o que se sucedeu. Os dois se pirulitaram para o Vaticano, onde o Papa na célebre varandinha voltada para a grande praça, celebrando missa diante de dezenas de milhares de fiéis. Bubba e o chefe tentaram aproximar-se do Sumo Pontífice, sem sucesso. Bubba disse então:

“Olha chefinho, nunca conseguiremos chegar perto do Papa atravessando essa turba. Vou dar um jeito de subir até lá e o senhor verá que eu de fato conheço o homem.”

O chefe aguardou com calma e já começava a perder a paciência, ia desistir de esperar. Subitamente o Papa interrompeu a missa e virou-se para o lado. Pôde ver os lábios do Pontífice articulando o nome “Bubba” através de um simpático sorriso. O Papa abriu os braços e chamou o Bubba, que já estava lá na varanda, para que ficasse a seu lado durante a celebração, diante do povaréu.

Lá do alto, Bubba teve dificuldade em localizar seu chefe no meio da multidão da praça e, quando logrou fazê-lo, presenciou o exato momento em que ele desmaiava, sendo logo acudido pelos fiéis que estavam mais próximos, gente desconhecida mas de espírito humanitário. Bubba desculpou-se com Sua Santidade e beijou-lhe o anel. O Papa o abençoou e se despediu com tapinhas nas costas de Bubba, que desceu esbaforido para a praça, chegando a tempo de ver seu chefe recobrando os sentidos. Assim que acordou, Bubba perguntou preocupado:

“Chefe, mas o que foi que aconteceu?”

O chefe, suando frio e ainda meio zonzo, olhou para Bubba e disse: “Tudo bem, Bubba. Eu aceitei a Madonna. Eu aceitei o Clinton. Aceitei até o Papa. Mas não pude resistir quando aqui, no meio da multidão, um cara desconhecido do meu lado virou-se para mim e perguntou: 'Meu senhor, por favor, quem é aquele sujeito de branco lá na varanda, ao lado do Bubba?' ”


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