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GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 340 - Escrito em: 1998-02-23 -
Publicado em: 1998-03-02
Se bobear, vai dançar
Violação de correspondência é crime - mas e de e-mail? Até onde pude averiguar, ainda não há legislação específica sobre o assunto aqui no Brasil, porém, pelo que se vê acontecendo ultimamente, já seria hora de alguém tomar providência sobre essa matéria.
A maior parte de meus conhecidos usa avidamente correio eletrônico via Internet. Tenho acompanhado casos terríveis de gente que teve seu e-mail invadido e quase sempre as conseqüências foram devastadoras. Na maioria das vezes a confusão se dá entre casais, estejam casados ou não. Quando estão todos andando na linha, não tem problema. No entanto, quando um dos dois começa a abrir suas asinhas para outros domínios, a coisa pode ficar feia, caso não haja fairplay de ambos os lados no que tange à inviolabilidade do e-mail de cada um.
Recentemente uma conhecida minha teve sua mailbox particular invadida pelo marido, antes um completo ignorante em questões computacionais. É bem verdade que as coisas já não andavam muito bem entre os dois. A jovem, simpática e atraente, tinha lá seus admiradores virtuais e trocava e-mail com eles de maneira relaxada, crente que jamais alguém poderia bisbilhotar sua troca de mensagens. Num belo dia, o maridão, após consultar um amigo e aprender como é que funcionava o programa de e-mail da esposa e aproveitando a ausência da incauta, passou um fim de semana inteiro lendo as ousadas mensagens que ela trocava com seus correspondentes, chegando à dolorosa constatação de que muitos dos contatos haviam superado a barreira da virtualidade.
Caso semelhante se deu com uma dedicada amiga minha que, ao fuxicar despretensiosamente as mailboxes de seu marido, pretensamente macho do miolo roxo, descobriu que ele era assíduo freqüentador de chats gays, tendo passado há alguns anos a abraçar essa modalidade atlética no mundo real. Na surdina, lá se foi ela fazer o teste de HIV e se descobriu infectada, provavelmente pelo marido.
Fora do âmbito conjugal, é muito comum a invasão de privacidade em ambientes de trabalho. Agora que e-mail é coqueluche nos escritórios, fica muito fácil para quem domina um mínimo da tecnologia fuçar o que não deve. Criaturas especialmente poderosas são os administradores de sistemas, que detêm todos os privilégios de acesso a arquivos. Em sua maioria, esses cidadãos são gente boa e não cometeriam tal crime, mas conheço casos assustadores de administradores que violaram todas as mailboxes em uma certa famosa universidade aqui no Rio e depois ficavam contando fofocas da vida íntima dos usuários.
Quanto mais complexas são as ferramentas que usamos para troca de confidências, mais suscetíveis são elas a invasões dessa natureza. Há diversas formas de proteger sua privacidade, várias ferramentas de criptografia gratuitas ao inteiro dispor de quem tem necessidade de sigilo em suas mensagens. Não me canso de recomendar o uso do software PGP, mesmo que sejam as versões antigas, como por exemplo a 2.6.3i, que uso até hoje.
É claro que manter suas mailboxes impenetráveis dá mais trabalho, mas é o preço que se paga. Aqui no Brasil não conheço, mas lá fora troco e-mail com uns quatro sujeitos que têm o hard disk INTEIRO criptografado. E mais: eles têm sistemas de acesso remoto que, quando acionados via telefone, podem apagar todos os arquivos de seus discos num piscar de olhos, regravando-os todos com zero-zero em hexadecimal.
Voltando ao nosso nível aceitável de paranóia, tem gente que, não satisfeita em trocar e-mail arriscado, se dá ao luxo de arquivar mensagens antigas, tanto as enviadas quando as recebidas, de modo a guardar um histórico dos bons momentos vividos, seja em caso de adultério, flerte ou paixão platônica. Os riscos aumentam sobremaneira e, basta um momento de desatenção, para chegar um gavião digital e rapidamente surrupiar toda sua história escusa.
A leitora sapeca poderia então pensar que bastaria abandonar o hábito de guardar esses pequenos tesouros e sair deletando as mensagens que enviar e receber de seus admiradores ocultos. Longe de mim estar encorajando traições virtuais, mas é preciso ter calma. Se quiser manter seus históricos, que faça-o em arquivos salvos à parte e depois rode um PGP neles.
Trate em seguida de travar conhecimento mais íntimo com seu programa de mail, seja Internet Mail, Netscape Mail, Eudora ou coisa que o valha. Há folders (pastas) para mensagens recebidas (inbox), mensagens enviadas (sent items) e mensagens apagadas (deleted items). Quando você mata uma mensagem, ela não é apagada de imediato, e sim transferida para a "lixeira", ou seja, para a área das mensagens apagadas. Para apagá-la de fato é preciso ir à lixeira e lá eliminar a mensagem. Não pense porém, leitora, que isso é suficiente. Uma mensagem apagada de um folder permanece lá invisível por algum tempo, até que o tal folder seja explicitamente compactado por você, eliminando os buracos que lá existam, referentes às mensagens mortas. Um usuário safo é capaz de ler com facilidade mensagens apagadas dentro desses folders não-compactados. E, você sabe, está cheio de usuário safo por aí.
Outro artigo do CAT publicado no mesmo dia: Apostando, via Web, em idéias científicas inovadoras
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