O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 342 - Escrito em: 1998-03-10 - Publicado em: 1998-03-16


A Moda do Roubo dos Rins


Você sai para a gandaia numa bela noite de sábado e tem a sorte de encontrar num bar uma gata supersimpática e charmosa. Ela puxa papo, cheirosa, envolvente, cheia de amor pra dar e aceita sentar-se com você. Começam a beber e, no meio do embalo, ela o convida para ir a uma festa perto dali. Você não hesita um segundo sequer e segue a beldade. Chegando lá no apartamento, o clima é propício, o pessoal é agradável, a música é boa e você bebe mais. De repente, escuridão, tudo apaga.

A próxima coisa de que você se lembra é que está completamente peladão, morrendo de frio, deitado numa banheira com gelo até o pescoço. Ainda está meio zonzo, certamente por efeito das drogas que puseram na sua birita e que o fizeram dormir pesado. Por quanto tempo? Que lugar é aquele? Não sabe. Diante de você um pequeno cartaz dizendo: "Chame o hospital AGORA senão você morre!", escrito com batom. Olha para o lado e vê um telefone numa banqueta, com o número do hospital pintado no aparelho. Você liga para lá nervoso e diz à atendente que não sabe onde está, nem o que lhe aconteceu. Ela pede para você se levantar lentamente e se olhar no espelho. Você se olha e está tudo bem. Mas quando examina suas costas, vê duas cicatrizes perto dos quadris. A atendente diz para você voltar imediatamente para a banheira, com todo cuidado possível, e envia uma ambulância com a maior urgência. No hospital, a terrível constatação: seus rins foram roubados.

Só então você saca tudo: a festa era um engodo, a moça era uma vigarista e o esquema estava todo armado - você foi vítima do mais novo golpe da praça. Um par de rins está valendo mais de US$ 10 mil no mercado negro. E agora você vai ter que entrar na fila dos que esperam doadores. Que situação braba, em que encrenca você se meteu.

Nosso caríssimo ex-colunista de Mac, Marco Fadiga <[email protected]>, enviou essa história há dias para um monte de amigos. Não chegou a dizer se achava que fosse verdade, mas o texto em inglês era bastante convincente. Àquela altura eu já havia recebido o mesmo material de uns quatro ou cinco outros conhecidos. Sem dúvida, é coisa de moda. Ouvi o mesmo causo contado numa rodinha de camaradas no baixo Cobal do Humaitá. Ao que parece, nos Estados Unidos, onde dizem ter ocorrido o fato, o golpe já seria comum e muita gente estaria em pânico, evitando até sair à noite com medo de ter os rins arrancados com precisão cirúrgica.

Depois de alguma pesquisa no AltaVista, acabei caindo novamente na divertidíssima página de coletânea de Lendas Urbanas, e encontrei uma vasta coleção de casos parecidos, tudo em inglês, é claro. Para cada lenda, é conferido um status de veracidade. E no caso do roubo dos rins, adivinhe, ele é FALSO! Visite <http://snopes.simplenet.com/horrors/robbery/kidney2.htm>, mas não o faça com pressa, pois o site merece que nele se gaste um bom tempo. Passeando pelas histórias lá contadas, a gente se lembra de um monte de lorotas de que já ouvimos falar, tanto ao vivo, quanto via Internet.

Conversando com muita gente que considero(ou considerava) intelectual, já ouvi intermináveis blablablás, aparentemente muito bem fundamentados, defendendo posições sobre um ou outro assunto. Como ando muito com gente que navega na Web, já posso identificar direitinho o tipo de site que a criatura freqüenta. Os enredos, as piadas, as curiosidades e as conspirações relatadas saem quase todas das mesmas fontes, nem todas necessariamente fidedignas. No caso das conspirações, a coisa toma vulto ainda maior. A quantidade de desinformações e contra-informações que são deliberadamente plantadas sobre esse assunto na Internet, em particular nos newsgroups, chega a dar arrepios.

Pelo visto, o objetivo desse excesso de informações é justamente confundir quem surfa na rede, fazendo com que se dê pouco valor a uma rara teoria verdadeira que, por sorte, venhamos a encontrar num desses sites da vida.

Muita gente acredita que, apenas pelo fato de algo ter sido lido nos jornais, visto na televisão ou pescado na Internet, transforma-se automaticamente em verdade inquestionável. Nada disso, pessoal. Vamos duvidar salutarmente de tudo. Cada vez que você receber por aí um e-mail contando um caso doido desses e alertando a galera, vale a pena dar uma passada no site acima e acionar o "Search" (busca) por palavra-chave, antes de assustar os seus amigos mais chegados.

É bem verdade, temos que reconhecer, que às vezes dá uma vontade danada de testar a credulidade do pessoal. Aliás, será que você se lembra do caso de uma mulher lá nos Estados Unidos que deu ao filhinho recém-nascido o nome de um rei? Ela chamou a criança de Nosmo King. Perguntaram o porquê e ela disse que havia se inspirado num cartaz que estava pregado na sala de parto: NO SMOKING.


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