O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 366 - Escrito em: 1998-08-26 - Publicado em: 1998-08-31


O Canadá é logo ai...

VETERANOS CHUTAM O PAU DA BARRACA E SE MANDAM PARA LÁ


Há os que preferem lutar por um Brasil melhor, continuando a morar aqui mesmo. Mas tem muita gente que está insatisfeita com nosso país e sonha em sair fora, em busca de realidades mais estáveis. A maioria pensa em se mandar para os Estados Unidos, contudo alguns esticam o olho para a Austrália e para o Canadá. Com relação a este último, tenho na palma da mão três exemplos de histórias de sucesso, veteranos do nosso meio, ainda dos tempos dos BBS, que optaram pelo Canadá e hoje estão felizes com sua escolha. Nós que aqui ficamos estamos sempre acompanhando a vida desses nossos amigos graças a mailing lists em que trocamos experiências, fofocas, idéias e dicas.

O primeiro desses camaradas foi o Ismael Cordeiro <[email protected]>, técnico de som direto em cinema. Enfrentou uma fase dura em Montreal, mas hoje nem pensa em voltar a morar aqui. Já está inserido na panelinha cinematográfica de lá e volta e meia é chamado para filmar na Europa, nos EUA e até aqui na terrinha. Heróico adepto dos computadores da linha Commodore, o Ismael faz de tudo com sua velha maquineta que roda CP/M, um sistema operacional das antigas. Bem enturmado e de verbo fácil em francês e inglês, Ismael já virou até guru da Commodore em diversas listas especializadas. Sua página é <www.cam.org/~ismael/> e ele nem sente falta de goiabada com catupiry, que compra numa lojinha em sua cidade.

Depois foi a vez do Roberto Nhuch <[email protected]>, que largou um bom emprego aqui no Rio e também se pirulitou. Foi parar em Vancouver, numa atribulada história de amor que um dia conto aqui. Trabalha com software e abraçou fervorosamente a doutrina Microsoft. Estuda pesado e mastiga toneladas de manuais, sempre galgando novos títulos na hierarquia dos "solution providers". Já levou muita paulada, encarou desemprego e amarguras, mas perseverou e hoje está firme e forte, curtindo os frutos de seus sonhos e de sua ousadia.

Em seguida, foi a vez do Marcelo Pinheiro <[email protected]>, analista de sistemas e professor de informática. Há cerca de quatro anos ele ficou de saco cheio do caos nacional e dos políticos brasileiros e, sabendo da epopéia do Ismael, começou a estudar opções para melhorar sua qualidade de vida. Junto com a Marise, sua esposa, chegou à conclusão de que o Canadá seria seu destino e começou a navegar pela Internet à cata de informações sobre as diversas cidades naquele país e de oportunidades de fazer dinheiro nelas. Marcelo pesquisou empregos canadenses através da rede, enviou mensagens para várias empresas, até que uma delas o contratou.

Em paralelo, pelas páginas da Web, encontrou um casal que morava em Calgary e começaram se e-mailar. Depois de algum tempo e muita troca de figurinhas, o casal se ofereceu para hospedar Marcelo e Marise quando lá chegassem. Quando pintaram em Calgary, o casal lhes entregou a chave de casa, onde ficaram por 15 dias, até encontrarem um apartamento para alugar. O Marcelo é chapa antigo meu e sempre desejei contar a história dele. Cabra tímido, sempre resistiu a me autorizar a escrever, mas decidiu dizer o sim depois que andou lendo uns artigos do C@T falando mal da rede e apontando apenas seu lado negativo. Depois de discordar veementemente de que a rede seja intrinsecamente nefasta, Marcelo assegura que a Internet tem funcionado para ele e para muitos outros como uma força de aglutinação de conhecimentos e amizades. Ele e Marise têm aberto portas importantes em suas vidas pelo simples fato de usarem a rede com sabedoria, bom-senso e inteligência. Através dessa interação mágica entre pessoas, é possível contatar zilhões de almas, reduzindo distâncias e aproveitando o fato de que tudo está cada vez mais ao alcance de todos.

Atualmente, bem instalado e desfrutando de sucesso em Calgary, Marcelo ainda usa pesadamente a Internet, entre outras coisas, para matar a saudade de parentes, amigos e ex-alunos seus. Usa ICQ, e-mail e até fala por voz, via Netmeeting, com a galera do Brasil e com o próprio Ismael. Marcelo nos humilha, quando declara acessar a rede através de cable modem, mas lembra com saudade do velho modem de 1.200bps que usava para acessar seu primeiro BBS, o tradicional Master Link, do sysop Gerson Silva <[email protected]>, que era sediado lá na Ilha do Governador.

Marcelo Pinheiro concorda que existe o lado ruim da Internet. Muitas pessoas se enfiam num isolamento doentio e se esquecem do mundo, mas isso ocorre até com quem lê muito, ou com quem vê televisão demais. Ele me mandou um JPG do lugar onde mora, uma beleza. Já recebi convite para passar uns dias lá. Se quiserem contribuir com uma grana para eu comprar a passagem, basta mandar um e-mail que eu informo meus dados bancários. A foto que ele me enviou mostrava as lindas montanhas que cercam o Moraine Lake. Procure fotos de lá com a sua search engine predileta. Ou então, prezada leitora, bata um e-mail para o Marcelo, que ele manda a imagem pra você no ato.


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