O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 367 - Escrito em: 1998-09-02 - Publicado em: 1998-09-07


Coleção de cuecas velhas

ONDAS DE NOSTALGIA PERCORRERÃO SEU CORPO AO VISITAR ESTE SITE HISTÓRICO


A leitora que está chegando agora ao mundo informático não pode sequer imaginar como são maravilhosos os tempos digitais em que ora vivemos. Quando encostei num micro pela primeira vez, foi lá na Cobra Computadores, em 1987: um poderoso clone de IBM PC-XT, com 4,77 MHz de clock, 640 kb de memória RAM e hard disk de 10 Mb. O backup a gente fazia num tipo de disquete que hoje em dia quase não se usa mais, disquinhos flexíveis de 5 e 1/4 polegadas. Depois pintaram os disquetes de 3,5 polegadas, com 1,44 Mb e hoje só se guarda miudeza em zip-disks de 100 Mb ou em meios de armazenamento ainda mais poderosos e mais rápidos.

Os discos de 5 e 1/4 chegaram ao mercado como um verdadeiro furacão, desbancando em poucos anos os vetustos disquetes gigantes de 8 polegadas. Eram conhecidos como "floppy disks", discos molengas feitos de plástico magnetizado, protegidos por uma capa manipulável que continha aberturas através das quais os cabeçotes do drive podiam encostar nas superfícies gravadas. Uma vez que essas aberturas não dispunham de nenhum mecanismo de fechamento, havia necessidade de um envelopinho chamado "sleeve", vulgarmente conhecido aqui como cueca, algo que protegesse o disquete contra toques e outros contatos espúrios.

Acontece que um cabra completamente pancada da cabeça, conhecido como Bat <[email protected]>, músico do underground e genuíno "geek" em computação, resolveu lançar-se numa cruzada indômita -- procurar pelo mundo todas as sleeves que ainda existissem e catalogá-las. Sem dúvida alguma, trata-se de uma das mais inúteis atividades já abraçadas por um humanóide em todos os tempos. Mas quando a notícia de seus insanos esforços se espalhou pela Internet, a comunidade entrou em polvorosa. Hordas de desocupados começaram a contribuir mandando suas sleeves de estimação para o casa do Bat, ou scanneando as cuequinhas e enviando para ele via e-mail.

Se você não vivenciou essa época de ouro, não saberá da emoção que se sente ao deparar na tela do seu browser com verdadeiras relíquias, imagens quase esquecidas em algum canto de sua memória micreira. Repentinamente é-se acometido da misteriosa compulsão de sair clicando em cada capa para ver se você algum dia já teve uma sleeve daquelas na sua gaveta. Só mesmo visitando o site do Bat em <www.cyberden.com/sleeves/> para experimentar essa estranha sensação. Já são mais de 400 cuecas devidamente catalogadas num primor de organização, fruto das abnegadas contribuições de cerca de 44 colecionadores dispersos por todo esse vasto planeta. A descoberta desse site histórico devemos ao incansável pesquisador, o Sr. Marco Paganini <[email protected]>, que contribui para nossos alfarrábios desde os primórdios do Caderninho, como se pode constatar em <www.oglobo.com.br/arquivo/info/cat/015.htm>.

O tresloucado Bat, insatisfeito com sua singular façanha, deu-se também ao trabalho de reunir os ícones que constavam no verso das cuecas, aqueles em que duas mãozinhas dobram um disquete molenga, ou entornam café num pobre disco, tudo acompanhado do tradicional aviso "Forbidden" (proibido). Esta seção chama-se The Backsides, e é ilustrada por uma sedutora mulher de costas em postura prá lá de lasciva.

O Bat já empatou mais de US$ 70 mil nesse site estrambótico, e declara ter iniciado a esperada coleção de sleeves gigantes de 8 polegadas, também aceitando contribuições. Abra suas gavetas velhas, pegue os disquetes antigos e mofados, se você ainda os tiver, separe as cuecas mais raras que encontrar e visite o site com a calma que ele merece. Caso encontre alguma raridade, primeiramente pesquise no acervo do Bat e, se for algo realmente notável, envie para ele suas peças nostálgicas. Se optar por mandar pelo correio, o endereço é: The CyberDen; 5.25" Disk Sleeve Archives; P.O. Box 150465; San Rafael, CA 94915, USA. Mas seria muito melhor se você dispusesse de um scanner colorido. Neste caso, scanneie a cueca com 72 dpi, "full size", usando milhões de cores e salvando em formato JPG bem comprimido (cada sleeve deve ocupar no máximo uns 50 kb em .jpg). Se quiser pode comprimir usando zip, arj, lzh ou algum daqueles formatos herméticos de Mac -- o Bat encara qualquer parada. Mas cá entre nós, sabemos que muito pouco se pode comprimir num JPG. Depois, é só "atachar" à mensagem, informar o seu nome e enviar tudo para o museólogo via e-mail, ele vai adorar e colocará seu nome no hall da fama da homepage. Só uma coisinha, caso envie as sleeves pelo correio, o Bat não as devolverá, pois acredita que elas ficarão melhor mantendo-se juntinhas para sempre, no depósito onde ele guarda seu inestimável acervo. [Zumbaia especial ao amigo B. Piropo, que também freqüenta a Galera do Inside <www.iis.com.br>, e botou a mão nesse tesouro junto com o catzinho aqui, mas deixou rolar, cavalheirescamente, como lhe é apanágio.]


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