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GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 368 - Escrito em: 1998-09-09 -
Publicado em: 1998-09-14
A mailing list que virou um BBS
SEM CENSURA NEM
REGRAS FIXAS, UMA LISTA
SE TRANSFORMA NUM BOARD TRADICIONAL
A leitora gosta de se aporrinhar? Eu também não. Se pudesse escolher talvez ainda estivesse usando DOS em modo texto, num micro pequeno, barato e simples. É claro que não poderia dispor das perfumarias que hoje estão ao alcance de qualquer iniciante. No entanto, uma vez que necessito manter-me razoavelmente a par das inovações, vou sempre sendo forçado a fazer upgrades, tanto de hardware como de software. No caso da esmagadora maioria, porém, o impulso-mor é ditado apenas pela moda, e não por uma necessidade real de maior poder de processamento ou de armazenamento. O esquema é bem armado: as novas versões dos softwares saem maiores, precisam de mais CPU, mais disco, e em breve sua máquina está obsoleta. Assim gira a roda do mercado informático. Em paralelo, a resistência a mudanças é o fenômeno mais antigo que se verifica na civilização. No universo dos bits e bytes, muita gente boa já jurou de pé junto que jamais usaria Windows. Outros eram contra as placas de som. Depois veio a onda dos que não admitiam usar Winsock nem a interface gráfica para navegar na Web. Quase todos esses seres sucumbiram à tendência mundial e jogaram a toalha.
Agora é essa mania boba de se posicionar contra gráficos em páginas Web e contra HTML em mensagens e-mail. Podem espernear à vontade, mas se alguma iniciativa conduzir a um consumo maior de recursos de máquina, é quase certo que vai colar universalmente. Já existe até a bem-intencionada campanha da fitinha ascii, em <www.ecst.csuchico.edu/~ghelman/ascii.html>, esbravejando contra o envio de e-mail agate-emielizado. Os argumentos do pessoal são até sensatos: prezam o conteúdo e não a forma. Nos tempos em que se acessava a Internet via Unix, tudo que rolava era em formato texto ascii puro, editando com "emacs" ou "vi", processando e-mail com "elm" e "Pine", postando em newsgroups com "trn", navegando no Gopher, baixando arquivos com "ncftp" e até acessando a Web em seus primórdios, através do anciente browser "Lynx". E dávamos ótimas gargalhadas, virávamos noite e aprendíamos horrores nessa modalidade simples de troca de informações. Podem ir reclamando que o fim da história será o mesmo, vão ficar todos caladinhos, baixando a cabeça ao magnânimo poder do mercado, com suas telas cheias de gráficos, HTMLs dinâmicos, Java, Flash, som e video, e um monte de outras frescuras nas suas páginas Web. E cá entre nós, mensagens em texto puro, a rigor, já não existem há um bom tempo. É tudo MIME, base64, quoted-printable, uuencoded, bem codificadinho e transparente para o usuário final. Particularmente também acho um porre esperar horas para carregar uma página coalhada de gráficos chatos, ou abrir uma mensagem cheia de código HTML, mas dou muito valor à minha paz de espirito e não vou ficar me irritando com bobagem. Pense nisso, leitora.
Um interessante fenômeno se deu com a nossa mailing list do Caderninho. Apenas para refrescar sua memória, para participar, envie mensagem em branco para <[email protected]>. A lista está com 53 assinantes, num total de mais de 3400 mensagens. Por dia, são cerca de 60 mensagens, num fenômeno que eu poderia chamar de "BBSficação da lista". Propositalmente deixou-se a lista sem um poder moderador que impusesse ritmos, assuntos, regras nem censuras. O pau quebrou solto, animosidades pessoais surgiram, muita gente entrou e muita gente saiu braba da relação de assinantes. Curioso ver como a coisa se estabilizou em poucos meses. O que temos agora na lista é algo como uma família, ou melhor, um clube, com personagens bem definidos, posições e estilos típicos, e um processo natural de auto-censura. Simplesmente fascinante, devo dizer. São acolhedores com novos participantes, alguns paternalistas, outros instigantes, alguns brincalhões. No fim das contas, nem tanto se falou de informática, mas sim sobre filmes, conflitos, curiosidades, tópicos do noticiário diário, basquete, lutas, spam e, com grande freqüência, sobre conflitos internos entre os próprios membros da lista. É como se fosse um monte de gente sentada num bar, bebendo chopp e conversando sobre o que der na telha. O campeão de verborréia é, como não poderia deixar de ser, o folclórico, bem-humorado e inteligente veterano Divino Leitão, já famoso desde os tempos do CCHLL-BBS, com mais de 500 mensagens postadas na lista, seguido da Roberta Trindade, com 390.
Houve até spamming pesado direcionado à lista, mas por sorte o servidor <www.makelist.com> é bem poderoso e filtra a maior parte desses ataques. Na verdade, eles estão melhorando o sistema de gerenciamento a cada dia, num esforço louvável de desenvolvimento, contando naturalmente com o valioso feedback dos usuários. O centro de controle do MakeList está aos poucos se mudando para outro site: <www.egroups.com>. Vale a pena visitá-lo, pois as novas opções são assaz interessantes. De acordo com esta nova abordagem, são inseridas aleatoriamente pequenos anúncios em modo texto, ao final de uma ou outra mensagem. Nada que lhe vá fazer cair pedaço.
Uma das mais hilárias contribuições da lista foi a notícia de um magistral trote telefônico, disponível num endereço que não vou divulgar aqui porque não sou maluco. Inscreva-se na lista e pergunte ao pessoal. Apenas como subsídio, se você não sabe o que é MPEG3, visite <www.mp3bench.com> e faça o download dos players WinAmp ou K-Jöfol. Com estes programas você poderá ouvir a gravação e dar muita risada.
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