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GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 370 - Escrito em: 1998-09-23 -
Publicado em: 1998-09-28
Os seis graus de separação
REDE DE RELACIONAMENTOS SE EXPANDE NO MUNDO INTEIRO
Um interessante fenômeno está tomando conta da Internet num ritmo realmente impressionante. Trata-se do SixDegrees <www.sixdegrees.com>. Em junho passado, minha amiga Rosane Serro <[email protected]> me apareceu com essa bossa e acabei me cadastrando no sistema. Na semana passada, o Marcelo Pinheiro, aquele do Canadá, voltou a me dar o toque, sendo que agora o sistema está totalmente reestruturado, cheio de recursos e sacações geniais. A coisa funciona baseada na teoria dos seis graus de separação, bolada por Guglielmo Marconi, o inventor do telégrafo. Ele pontificou que, quando o planeta estivesse interligado pelo telégrafo-sem-fio, qualquer indivíduo poderia encontrar outro conectando-se através de 5,83 pessoas. Essa teoria tornou-se popular graças a uma peça teatral de John Guare que tratava do assunto. É claro que ficou mais fácil arredondar esse número mágico para seis. Particularmente acho bem difícil que eu venha a conhecer o plantador de arroz Sr. Huan-Chi Yu da província de Xing Lao no interior da China através de apenas seis contatos humanos, mas deixa isso pra lá.
O interessante nisso tudo é o fabuloso banco de dados que o pessoal do SixDegrees está montando. O cadastramento é inteiramente gratuito e a leitora é encorajada a informar o maior número possível de relacionamentos com gente que possua e-mail, podendo ser amigo, irmão, chefe, marido, etc. Depois que a gente pega o rebolado da coisa, é bem divertido descobrir dentro do seu círculo de amizades internéticas qual pessoa conhece quem. Prepare-se para altas surpresas. Eles estão oferecendo agora um método via e-mail puro para cadastrar seus contatos de primeiro grau (first degree). Juram de pés juntos que não divulgarão seus dados para ninguém. A gente finge que acredita e manda ver, pois afinal de contas, qual de nós tem algo a esconder sobre nós mesmos?
A gente que é afeita à informática, à Internet e a este mundão de tecnologia, nem imagina o nível de ignorância técnica de certas criaturas. É claro que ninguém é obrigado a ser inteligente nem esperto, mas ouve-se cada caso que é duro de acreditar. No newsgroup alt.folklore.computers da Usenet, volta e meia aparecem estórias de terror sobre esses indivíduos pouco técnicos. A maioria dos relatos vem dos EUA e, além de gente que pisa no mouse achando que é pedal e de pessoas que usam a bandeja aberta do drive de CD-ROM para apoiar canecas de café, temos alguns casos de retardados tecnológicos que se enrolam fragorosamente até com dispositivos não computacionais. Por exemplo, a leitora que lida com micros conhece bem aquelas "réguas" onde se costuma ligar a alimentação elétrica do computador e de diversos equipamentos periféricos. Pois bem, um desses seres néscios, ao invés de ligar a régua à tomada na parede, plugou-a numa das tomadas vazias da própria régua e não conseguia entender depois porque não conseguia ligar o computador.
Outro relato nos fala dum colóquio que se deu num escritório. Chega um e diz: "Você sabe alguma coisa sobre essa máquina de fax?". A outra responde: "Conheço um pouco sim. Que foi que houve?" E o primeiro explica: "É que eu mandei um fax e o cara ligou de lá dizendo que só havia recebido uma folha-de-rosto e uma página em branco. Tentei várias vezes novamente e deu no mesmo." A outra estranha e indaga: "Mas você carregou a folha no fax?", ao que responde o sagaz elemento: "Claro que carreguei! Mas é um memorando confidencial e eu não queria que ninguém saisse lendo por acidente, então eu dobrei a folha e a inseri no fax, de forma que o destinatário só precisaria desdobrar e ler."
Num outro caso, um internauta recorda-se de um funcionário não muito iluminado na empresa em que trabalhava. Certa feita estava o papalvo à máquina de escrever e percebeu que quase já não tinha mais papel em branco para continuar o trabalho. Perguntou então à secretária onde poderia obter folhas novas e ela respondeu que bastaria usar papel da copiadora. Satisfeito com a dica, o funcionário pegou sua última folha vazia, colocou-a na copiadora no lugar onde se põe os originais e acionou a máquina, programando-a para fazer 10 cópias em branco.
(Falando em asneiras, e enganchando no papo do SixDegrees acima, um estudante abobado de inglês perguntou-se: "Se 'grau' em inglês é 'degree', então será que 'degrau' em inglês é 'dedegree'?")
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