O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 387 - Escrito em: 1999-01-21 - Publicado em: 1999-01-25


A urucubaca da princesa



Nobre egípcia defunta causa o maior quiproquó

Moda às vezes é uma coisa chata. Uma canção, por exemplo, cai na boca do povo e começa a ser tocada em toda rádio dezenas de vezes por dia. O mesmo se dá com filmes, personagens, celebridades e coisas do gênero. Chega-se a um ponto em que a simples menção de um desses itens super-expostos nos causa arrepios de asco.

O relato que se segue, andei guardando-o por meses a fio, até que saísse de moda e a leitora não se zangasse ao ver o assunto novamente em pauta. Ele serve bem para ilustrar os tesouros que se pode encontrar na grande Rede, desde que se tenha paciência para ler um monte de porcaria antes de se deparar com algo que preste. Encontrei este raconto num dos artigos postados nos newsgroups sobre Egiptologia e História Antiga na Usenet, pelo colega Steve Abatangle <[email protected]>. De todas as histórias sobrenaturais, esta é talvez uma das mais bem documentadas, perturbadoras e difíceis de explicar. Pode ser também encontrada em <www.geocities.com/Hollywood/Bungalow/9619/tales.html>.

Voltando bastante no tempo, a saga se inicia com a princesa de Amen-Ra, que viveu cerca de 1.500 anos antes de Cristo. Quando faleceu a nobre donzela, seu belo corpo foi depositado num lindamente ornamentado caixão de madeira e enterrado profundamente numa câmara em Luxor, ou melhor, do outro lado do Nilo, no Vale dos Reis.

No final da década de 1890, quatro ingleses abastados, visitando as escavações na região, foram contactados por um indivíduo que lhes ofereceu um misterioso sarcófago contendo os restos mortais da princesa de Amen-Ra. Eles iniciaram uma disputa monetária pela peça e ofereceram lances cada vez mais altos, tal como num leilão. O vencedor acabou pagando vários milhares de libras esterlinas pelo raríssimo artefato e mandou que o entregassem em seu hotel. Horas mais tarde, o tal cavalheiro foi visto caminhando sozinho deserto adentro. Nunca mais foi encontrado.

No dia seguinte, um dos três mancebos remanescentes da disputa levou um tiro acidental de um serviçal egípcio que limpava uma arma no salão em que estava. Seu braço foi tão gravemente ferido que teve que ser amputado.

O terceiro homem do quarteto de janotas britânicos, ao retornar para a Inglaterra, teve a infeliz notícia de que o banco em que guardava toda sua poupança de vida acabara de falir. O quarto cidadão do grupo, pobre homem, foi acometido de grave enfermidade. Perdeu seu emprego e reduziu-se a um vendedor de fósforos nas ruas da cidade.

Sabe-se lá como, mas o sarcófago acabou chegando à Inglaterra, obviamente causando uma série de desgraças durante o caminho. Em pouco tempo foi adquirido por um negociante residindo em Londres. Depois de ter três de seus familiares feridos em um acidente de estrada e de ter sua casa destruída por um incêndio, o tal sujeito rapidamente resolveu doar a peça ao Museu Britânico. Ao descarregar o esquife do caminhão, no pátio do museu, o motor do veículo subitamente engrenou a ré e esmagou um transeunte. Ao levar a urna escada acima, um dos dois carregadores tropeçou e quebrou uma perna. O outro, aparentemente em perfeito estado de saúde, morreu estupidamente dois dias depois.

Uma vez instalado o sarcófago da princesa na Sala Egípcia, aí sim é que a encrenca realmente começou. Os vigias noturnos ouviam soluços e batidas provenientes do interior do caixão. Um dos vigias faleceu em serviço, fazendo com que os outros decidissem abandonar o emprego. Até o pessoal da limpeza passou a se recusar a trabalhar perto da princesa.

Um visitante zombeteiramente esfregou um pano de limpeza no rosto pintado sobre o sarcófago. Seu filho morreu de sarampo dias depois. Por fim, as autoridades acharam melhor transferir a problemática múmia para uma sala isolada no porão, imaginando que lá embaixo ela não poderia causar maiores complicações. Após uma semana, um dos funcionários caiu seriamente enfermo e o supervisor da tarefa de transferir a peça foi encontrado morto em seu escritório.

A essa altura, a imprensa já estava se ocupando do caso. Um fotógrafo retratou a pintura do esquife e, quando foi revelar a chapa, deparou-se com a horripilante figura de um rosto humano estampada na tampa do caixão. O assustado profissional foi direto para casa, trancou-se no quarto e se matou com um teco no quengo. Pouco tempo depois, a múmia foi vendida para um colecionador particular. Após vários infortúnios e mortes, o novo dono guardou o malfadado sarcófago no sótão.

A venerável iniciada e expert em ocultismo, Madame Helena Petrovna Blavatsky, visitou a morada do colecionador. Logo que adentrou o domicílio foi tomada por um ataque de tremedeira e imediatamente passou a vasculhar a casa inteira em busca de uma "influência maligna de incrível intensidade". Finalmente chegou ao sótão e encontrou a urna funerária da princesa. Perguntada se poderia exorcizar o mau espírito, Madame Blavatsky disse que o mal permanece mau para sempre e que nada podia ser feito. Ela implorou para que o dono se livrasse daquele sarcófago o mais rápido possível.

No entanto, nenhum museu na Inglaterra queria segurar aquela batata quente. Num período de 10 anos, mais de 20 pessoas sofreram alguma desventura grave, desastre ou morte, apenas por chegar perto ou manusear o sarcófago.

Mas como se isso tudo não bastasse, um arqueólogo americano cabeça-dura, que reputava os acontecimentos sinistros aos caprichos do destino, pagou vultosa soma e providenciou a remoção da múmia e sua urna para Nova York. Em abril de 1912, o novo dono do abacaxi embarcou seu tesouro num grande navio e acompanhou-o nessa viagem. Na noite de 14 de abril, com cenas de horror sem precedentes, a princesa de Amen-Ra acompanhou os 1.500 passageiros da embarcação em sua morte, nas profundezas do Oceano Atlântico. O nome do navio era Titanic.

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