O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 411 - Escrito em: 1999-07-05 - Publicado em: 1999-07-12


Uma noite ardente


Nem o trabalho impediu o internauta de estar com sua musa

Um jovem programador desempregado e hábil navegante na rede, ainda morando com os pais, meteu-se na Web à busca de um novo emprego. Bem qualificado que era, após visitar muitos sites e enviar seu currículo para alguns deles, foi brindado pela sorte. Certa empresa convocou-o para uma primeira entrevista, que foi marcada para a segunda-feira seguinte pela manhã. No fim de semana anterior ao grande dia, à guisa de comemoração, nosso mancebo, bem menos tenso, resolveu sair para gandaiar à noite. Sem namorada fixa, aproveitou a noitada para ir à caça e, no sábado mesmo, encontrou na boate uma jovem assaz interessante e animada, que dançava tecno como poucas. De imediato houve simpatia mútua e, depois de muitas evoluções na pista, a coisa começou a esquentar, sem no entanto chegar aos finalmentes naquela oportunidade. Despediram-se e trocaram e-mails.

No dia seguinte, domingo, o cidadão dormiu até tarde, pegou uma praia e matou o tempo, plácido. Mas quem o conhecesse bem notaria que estava um bocadinho ansioso. Ao voltar para casa, mandou e-mail para a moça da boate e logo recebeu resposta. Combinaram ir a uma sala reservada de chat e, glória, aconteceu. Ela morava sozinha e convidou-o para conhecer seu computador novo. Imediatamente, o garotão começou a se empetecar para sair. Sua mãe, pressentindo-lhe as intenções, admoestou-o a que não chegasse tarde, pois a entrevista na manhã de segunda na empresa de software exigiria que estivesse bem descansado e alerta. Ele a tranqüilizou com palavras mansas, prometendo que chegaria cedo.

O apê da menina era jeitoso e bem decorado. Logo à entrada, bem na sala, estava o micro. Trocaram umas idéias, navegaram um pouco na Web e ela foi fazendo o camarada ficar bem à vontade e ele logo relaxou. Depois bateram mais um papinho, ligaram o som, beberam algo e as coisas foram acontecendo. Ao sabor da mãe-natureza, hormônios borbulharam e pouco depois, lá mesmo diante do micro conectado, a luta dos corpos os foi despojando de suas roupas e a bela jovem lentamente revelou uma sensual lingerie vermelha, coisa que atiçou ainda mais os ânimos do carinha. Primeiro na sala, e depois no quarto da jovem, os dois se entregaram ao enlevo do momento e acabaram passando horas muito agradáveis juntos.

Às três da matina, o sujeito se tocou da hora e disse que teria que sartar fora, explicando-lhe sobre a tal entrevista. A adorável jovem fez beicinho mas, compreensiva que era, levou-o carinhosamente até a porta. Lá chegando, pegou do chão a insinuante peça íntima vermelha e deu-a ao parceiro, para que ele se lembrasse dos momentos "turbilhonantes" que viveram. Ele pegou o minúsculo presente e meteu-o no bolso com um sorriso maroto de quem não precisaria daquilo para recordar-se dela. Despediu-se prometendo ligar e se mandou, ávido por algumas horas de sono.

Tão exausto que estava, ele nem tirou a roupa e largou-se a dormir mesmo sobre as cobertas. Acordou às sete, encontrando com a mão o único volume que então ocupava a mesinha de cabeceira, o despertador. Apesar de totalmente moído pelo cansaço, surpreendeu-se ao perceber que certo fenômeno matinal se fazia presente. Tal fato fez com que, mesmo trêbado de sono, memórias da noite ardente viessem à tona. Que deusa era aquela mulher! Cada vez mais inflamado, lembrou-se do mimo recebido das mãos cheirosas da gata e pegou-o no bolso da calça amarrotada. Para intensificar o clima, ligou o walkman que, por sorte, já estava com uma fita romântica em ponto de bala, e botou os fones no quengo. Deitado de bucho para cima, o rapaz quase chegou à loucura quando cobriu os olhos com o presente que lhe dera sua amada. Ah, que maravilhoso perfume que emanava, ó agradável lembrança. Sozinho no recinto, com a música adequada e de olhos bem fechados, o rapaz deu asas à imaginação. Daí por diante, a leitora, que não é boba, pode imaginar o desenrolar dos acontecimentos.

Minutos depois, após o breve descanso que se seguiu, o aliviado indivíduo retirou os fones e abriu os olhos. Olhou para o lado e, repentinamente, empalideceu. Sobre o criado mudo havia agora uma xícara fumegante e duas fatias de torrada com geléia num prato. Preocupada com um possível atraso dele para a entrevista, a mãe havia entrado no quarto em silêncio e deixado um pequeno café da manhã para o seu filhinho querido.


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