O GLOBO -
Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 413 - Escrito em: 1999-07-22 -
Publicado em: 1999-07-26
O site da fome está explodindo
Participação brasileira nos donativos já é a segunda no mundo
Há duas semanas, na coluna Internetc logo aqui em cima, Marina Lemle e Suzana Liskauskas deram um vigoroso empurrão num grande movimento humanitário que começou despretensioso na Web, o Hunger Site, ou site da fome. O artigo original delas pode ser encontrado em <www.oglobo.com.br/info/internetc/1999/julho11.htm>. Somando-se à ótima repercussão que teve a nota, impressionou-se com o site a simpática jornalista e apresentadora de TV, Rosana Hermann <http://sites.uol.com.br/ruiva/>. No mesmo dia, ela disparou para sua lista particular de contatos, uma senhora lista por sinal, efusiva mensagem recomendando o site e exortando o pessoal a visitá-lo. Equivocadamente declarava no texto ter visto a nota nesta coluna C@T, ao que logo respondi esclarecendo. E foi então que começou uma bola de neve que ainda não parou de crescer. Os contatos da Rosana, por sua vez, repassaram o e-mail dela feito loucos. No dia seguinte, eu mesmo já havia recebido mais de 30 reproduções daquela mensagem oriundas das mais diversas fontes, tanto daqui quanto lá de fora. Teve gente enviando o aviso para o Japão, EUA, França e Moçambique. O pessoal da mídia, rádios, TVs, jornais, revistas e produções foi passando a mensagem adiante. Com isso, o número de doações vindas do Brasil foi aumentando em progressão geométrica.
Ao mesmo tempo, já ressabiados com as sucessivas ondas de hoaxes, alarmes-falsos, correntes e pirâmides na Rede, muitos profissionais da Internet começaram a divulgar atabalhoadamente a notícia de que tudo não passava de um embuste. Muitos dos que apostaram nessa versão eram gente até capacitada e bem preparada, mas que não mergulhou fundo na questão. Iniciou-se então uma sangrenta "flame war" (guerra de chamas), fenômeno odioso em que mensagens públicas, ou com dezenas de "carbon copies", começam a circular, configurando verdadeira guerra verbal via e-mail. No caso em pauta, os ataques começaram a ficar sérios, tendendo às afrontas pessoais, com uns jurando de pés juntos que o site da fome era sério e outros provando por A+B que era tudo engodo para enganar trouxa. No meio desse singular furdunço, foi a própria Rosana Hermann que se jogou de cabeça nos fatos e saiu contatando Deus e o mundo, fosse via e-mail ou mesmo por telefone, visando re-apurar se o negócio era quente ou não.
Em paralelo, no dia 19, a BBC de Londres entrevistou o criador do site, John Breen. A transcrição está em <http://www.bbc.co.uk/radio1/newsroom/990719_charity.html>, juntamente com a gravação em RealAudio. Neste mesmo dia, Rosana fez um contato com o Council of Better Business Bureaus e foi encaminhada para o Philanthropic Advisory Service (Serviço Consultivo Filantrópico) da instituição.
Até então, visitando-se o site da fome, podia-se ver que apenas duas companhias estavam bancando as doações: Otis Clapp & Sons / Buffington, e a Dover Pharmaceutical Inc. No dia 20, foi feito um contato com a Otis Clapp & Sons e pode-se obter algumas confirmações sobre a legitimidade da iniciativa do site. Para arrematar, a revista Newsweek deu uma baita matéria sobre o caso <www.newsweek.com/nw-srv/tnw/today/cs/cs01tu_1.htm>, bem como diversos jornais nos EUA.
No mesmo dia, a Rosana falou com o próprio John Breen, que estava partindo naquele instante para Chicago, para uma reunião com o World Food Program das Nações Unidas. John agradeceu de coração a força que nós brasileiros estamos dando ao projeto pois, a julgar pelo brutal aumento no número de doações provenientes dessa nossa terrinha, ele se sentiu tocado pela generosidade de nossa gente. Também mostrou-se grato pelo fato de não se ter dado muita bola às más interpretações dadas por uns e outros à iniciativa.
John Breen tem 42 anos e teve essa brilhante idéia do site sem, no entanto, contar com patrocinadores que bancassem o projeto. Apelou para o pai, que há 30 anos tem sido dono da Otis Clapp-Buffington, empresa farmacêutica homeopática no mecado há 150 anos. O velho topou ser o primeiro patrocinador e tocaram bola prá frente. Fora isso, nenhuma relação há entre a firma e o Hunger Site, que é inteiramente independente e agora está correndo urgentemente atrás de novos e grandes patrocinadores, pois com o aumento estupendo no número de doações, a farmácia corre o risco de entrar em apuros. Será que alguma grande empresa brasileira se habilita? Vamos lá CEO's!! É uma chance ímpar de obter visibilidade mundial para sua companhia, a um baixo custo e contribuindo para uma causa nobre. Peguem esta onda agora, que ela está apenas começando a crescer.
O Hunger Site tem apenas oito semanas de vida, tendo iniciado operações em primeiro de junho passado. John Breen tem trabalhado em tempo integral no site já há seis meses sem receber um centavo por isso. Por sorte, a esposa dele está empregada e segura a peteca por enquanto. O que move o John é um legítimo espírito humanitário e não a vontade de necessariamente enriquecer com a idéia.
Portanto, conclamo a leitora à ação real. Adotemos o saudável hábito de, logo ao nos conectarmos à Rede, abrirmos nosso browser em The Hunger Site <www.thehungersite.com> e darmos nosso cliquezinho diário no botão do donativo. Até a semana passada, na lista dos países que mais clicaram fazendo doações, figuravam em primeiro lugar os EUA (513.796 doações). Logo depois o Brasil (58.638), Alemanha (27.300), Canadá (16.237) e Grã-Bretanha (15.080). Gostaria de dizer que não me agrada nem um pouco esse segundo lugar, e acho que nem a você. Vamos arrebentar?
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