O GLOBO -
Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 414 - Escrito em: 1999-07-27 -
Publicado em: 1999-08-02
Graham Bell se meteu numa fria
Inventor do telefone deu o melhor de si, mas não conseguiu salvar o Presidente
Muitos de nós que usamos a Internet diariamente, nem nos tocamos que esta ferramenta (ou brinquedo), pelo menos atualmente, ainda depende por completo do telefone, maravilhoso aparelhinho inventado pelo grande Alexander Graham Bell. Todavia, à época da invenção, nosso querido Alex não era unanimemente reconhecido como o criador do telefone, visto que outros também se diziam pais da criança. Mas era um camarada de bom coração e, justamente em função deste traço louvável de seu caráter, acabou se metendo numa bela enrascada. Ah, se ele tivesse ao seu dispor a Internet de hoje no século passado, poderia estar bem melhor informado sobre as coisas do seu tempo...
O relato que se segue pode ser encontrado na History Buff's Home Page <http://www.historybuff.com>, da Associação de Colecionadores de Jornais da América. Agradecimento especial a R. J. Brown <[email protected]>, Editor Chefe.
O presidente do EUA, James Garfield, levou um tiro em 2 de julho de 1881 e padeceu até 19 de setembro do mesmo ano, quando infelizmente veio a falecer. A bala havia se alojado em seu tórax e, naquele tempo, das duas uma: se tivesse penetrado em algum órgão, seria necessário operar o quanto antes; porém, se estivesse apenas *rente* a um órgão, seria melhor esperar o estado geral do presidente melhorar, para então operar. Logo, localizar a bala era essencial, mas não havia Raio-X naquele tempo. Tinha que ser feito por sondagem manual, dentro do corpo do enfermo. E quanto mais sondagens, maior o risco de infecção. Pintou então uma indecisão.
O impasse serviu como lenha na fogueira para a cobertura jornalística, que foi impressionante e selvagem. Leigos e médicos opinavam, toneladas de cartas chegavam às redações e muitas delas eram publicadas, aumentando ainda mais a polêmica. No meio dessa confusão toda, um sujeito chamado Simon Newcomb, de Baltimore, havia sido entrevistado por um repórter do jornal Washington National Intelligencer e declarou que estava fazendo experiências com eletricidade em bobinas. Newcomb descobrira que um desses solenóides conduzindo corrente, quando próximo a um pedaço de metal, produzia um zumbido bem tênue, quase inaudível. Afastando a bobina, o zumbido ia sumindo. Pretendia aperfeiçoar o aparato e ajudar a safar o presidente. Em Boston, nosso intrépido Alex leu a matéria, telegrafou no ato para Newcomb disposto a ajudar e teve sua proposta aceita de imediato. Graham Bell se mandou imediatamente para Baltimore, pois pretendia usar seu recente invento, o telefone, para amplificar o zumbido e facilitar a localização do projétil.
Começaram as experiências, sempre assistidas pelos cirurgiões da Casa Branca. Montaram um aparelho que consistia de duas bobinas de fio encapado, uma bateria, um interruptor e o telefone de Bell. Uma das bobinas ficava na ponta duma varinha, que funcionava como detector. Quando um pedacinho de metal se aproximava do implemento, ouvia-se um claríssimo zumbido ao telefone. Funcionava! A sensibilidade do detector era de 12cm. Não tinha como dar errado.
Os primeiros testes foram realizados com balas deflagradas e não-deflagradas escondidas na boca, no sovaco e na virilha dos cientistas. Tudo ok. Depois, foram a um hospital de veteranos de guerra em Washington, D.C. onde muitos dos heróis ainda tinham balas em seus corpos. Novo sucesso. Exultantes, acharam que já era tempo de testar a engenhoca no presidente Garfield e salvar sua vida.
Em 20 de julho, Alex G. Bell, seu assistente Tainer e Newcomb foram à luta. O presidente, com o semblante assustado e olhos arregalados, temendo ser eletrocutado, acompanhou atento todo o percurso da varinha miraculosa. Mas algo estava errado. Bastava chegar com o detector perto do presidente e o zumbido aumentava ao telefone, independente de qual parte do corpo estivesse sendo examinada. Tentaram diversas vezes até a exaustão, mas o zumbido era constante. Os três saíram da Casa Branca tarde da noite, muito P's da vida e, no dia seguinte, a imprensa naturalmente caiu de pau.
Os rivais de Graham Bell aproveitaram a deixa para tachá-lo de incompetente, de charlatão e de estar apenas querendo publicidade. Foi sem dúvida uma péssima propaganda para o recente invento. No entanto, Alex, teimoso que era, repetiu todos os experimentos com afinco. Voltou ao hospital, testou novamente nos veteranos, remontou todo o aparelho, checou qualquer mau-contato, até certificar-se de que tudo estava funcionando perfeitamente. Em seguida, seguro de si, gastou litros de saliva para convencer o pessoal da Casa Branca a deixá-lo tentar novamente. Conseguiu a autorização. Em 31 de julho fizeram nova tentativa, mas que lamentavelente redundou no mesmo fracasso. Bastava aproximar a varinha do presidente e o aparelho zumbia. Foi uma sensação horrível. Bell e seus colegas desistiram de tudo e algumas semanas depois, o presidente Garfield exalaria seu último alento.
Só tempos mais tarde, alguém se deu conta de que a Casa Branca era um dos poucos lugares no mundo em que se estava usando um novíssimo produto que aumentava sobremaneira o conforto de pacientes enfermos. O colchão de molas.
[ Voltar ]