O GLOBO - Informática Etc. - Carlos Alberto Teixeira
Artigo: 421 - Escrito em: 1999-09-15 - Publicado em: 1999-09-20


Nosso amigo AR|ROBA


Onipresente nos endereços e-mail, a origem desse
caractere já faz parte da História

O sinal de arroba já é velho conhecido nosso. Basta olhar para o nome desta coluna ou para qualquer endereço e-mail e lá estará ele. Mas será que a leitora sabe de onde surgiu o dito cujo? Voltemos 37 anos no passado. Como se sabe, a Internet originou-se de uma rede acadêmica chamada ARPANET. Em 1962 ainda não existiam os roteadores de hoje, mas os feras da informática começaram a cucar engenhocas que tinham função similar, os chamados IMP's (Interface Message Processors).

No ano seguinte, em paralelo, um comitê formado pelo governo dos EUA e algumas indústrias desenvolveu o código padrão americano para troca de informações, vulgo código ASCII (American Standard Code for Information Interchange), o primeiro padrão universal para computadores. Permitia que máquinas de diferentes fabricantes pudessem trocar dados através de 128 cadeias únicas de 7 bits que passariam a representar as letras do alfabeto inglês, os algarismos arábicos e uma série de símbolos e sinais de pontuação, além de funções especiais de controle, como o <Escape> e o <Carriage Return>, nosso querido "Enter".

 

A turma dos IMP's continuou elucubrando. Grupos de cientistas começaram a ter idéias mirabolantes no sentido de interconectar computadores. Escreveram software para os IMP's conversarem entre si, idealizaram e implementaram protocolos de comunicação e passaram sete anos bolando o funcionamento da rede que iria se chamar ARPANET, e cujo pontapé inicial seria a interligação de apenas dois computadores. Quando tudo estava pronto, chegou o momento solene: tentaram dar um "login" a partir do computador da UCLA (University of California at Los Angeles) para que se conectasse ao sistema do SRI (Stanford Research Institute). Mas nessa primeira tentativa, os IMP's de ambos os lados sofreram "crash", ou seja, cairam. Tentaram logo em seguida uma vez mais e... sucesso! Nascia então a ARPANET e o dia era 25 de outubro de 1969.

A rede começou a crescer devagar, mas foi pegando ritmo e surgiu a necessidade de que as pessoas trocassem mensagens de forma mais eficiente. Foi então que, em 1972, um cavalheiro chamado Ray Tomlinson, que trabalhava para a empresa BBN (Bolt, Beranek and Newman), escreveu um programa para troca de correio eletrônico através da ARPANET. Foi este cidadão o inventor do e-mail, tendo desenvolvido a convenção "usuário@host", escolhendo o sinal de arroba arbitrariamente dentre os caracteres não alfanuméricos do teclado ASCII. Acontece que o Ray não sabia que o arroba já era utilizado em muitos outros sistemas como caractere de "prompt", da mesma forma que no recente DOS o prompt era "C:>". Diante da ambigüidade do arroba, os responsáveis por outras redes desprezaram por um bom tempo a convenção instituída pelo Ray, dando início à sangrenta "Guerra dos Headers de E-Mail", que causou grande confusão até o final dos anos 80. Só então o nosso querido arroba venceu seus adversários e tornou-se padrão mundial para endereços de correio eletrônico.

Muita gente, ao ler esta curiosa passagem, vai se perguntar onde é que se consegue um bom material sobre a História da Internet. Posso recomendar sem hesitar o site <www.computerhistory.org/exhibits/internet_history/index.page>, que cobre com exasperante riqueza de detalhes o período de três décadas compreendido entre 1962 e 1992. Sobejamente ilustrado (cuidado -- todas as imagens têm assinatura digital), o site proporciona um passeio fascinante pelos primórdios da grande rede. Gostaria de ver o diagrama desenhado a mão dos dois primeiros hosts da ARPANET? E o log manuscrito dos primeiros logins da rede? Está tudo lá.

O site pai <www.computerhistory.org> contém um dos mais opulentos acervos sobre a História da Computação em geral. Criado em 1996, o Computer Museum History Center é uma instituição sem fins lucrativos dedicada à preservação dessa História. Abriga uma das maiores coleções de artefatos computacionais em todo o mundo, com 3.000 peças de hardware, 2.000 filmes e vídeos, 5.000 fotos, uma quantidade incrível de manuais e vários Gigabytes de software primordial. A coleção é guardada num prédio do mundo real em Mountain View, Califórnia, no coração do Vale do Silício.

Para quem, por exemplo, viveu a enlouquecedora febre do software Blue Beep, escrito pelo legendário Onkel Dittmeyer para simular uma "Blue Box" (caixa azul), certamente será interessante visitar este site. Em tempo, Blue Boxes eram aparelhinhos que geravam estranhos sons em freqüências especiais que permitiam discagem telefônica interurbana e internacional burlando os equipamentos de tarifação das ligações. Lá no site você poderá conhecer o início de carreira de próceres como Steve Wozniak, que em 1972 construiu e usou muito uma das primeiras, mais bem feitas e conhecidas Blue Boxes. Portanto, reserve um bom tempo para passear por lá, pois certamente não será uma visita rápida.


[ Voltar ]